O MUNDO de hoje está cheio de profetas da desgraça, e eu seria um deles se não acreditasse em Deus e na Sua Providência. Há trinta anos, a única palavra que andava nos lábios de toda a gente era a palavra «progresso». Agora falar de derrota e da bomba atômica. Esta atitude de pessimismo varia na razão direta e na proporção da frequência com que se seguem os noticiários do mundo. Não se dá isto, apenas, porque as notícias do mundo sejam desanimadoras, mas porque raramente há tempo para contrabalançar as notícias de guerra com outros fatores. Como resultado, a gente leva vida política, não vida espiritual.
SÃO muitas e variadas as teorias sociais e econômicas que hoje se discutem; mas todos os planos para mudar o mundo podem reduzir-se a dois: uns pretendem reformar as instituições, outros, o homem. Muitos escritores que apresentam para esta reforma os seus planos, partem do pressuposto de que todos os males da humanidade podem ser imputados a uma instituição, a uma coisa: mudai-a, dizem-nos, e tudo ficará bem.
A RAZÃO por que não somos melhores é que não queremos ser melhores; o pecador e o santo diferenciam-se apenas por uma série de pequeninas decisões que se tomam no recôndito do nosso coração. Em parte alguma se encontram os opostos tão próximos como no reino do espírito; um abismo separa o pobre do rico, o qual só se pode transpor com a ajuda de circunstâncias externas e de boa sorte. A linha que divide a ignorância da erudição é também profunda e extensa: tempo livre para o estudo e um espírito bem dotado são necessários para converter um ignorante num homem culto. Mas a passagem do pecado à virtude, da mediocridade à santidade não precisa de «sorte» nem ajuda das circunstâncias externas. Pode realizar-se por um ato eficaz da vontade, em colaboração com a graça de Deus.
À MEDIDA que o mundo se amolece, usa cada vez mais a palavra compaixão. Isto seria uma característica digna de apreço, se a compaixão fosse bem entendida. Mas, muitas vezes, por compaixão significasse não incomodar aquele que transgride a lei natural ou divina, ou que atraiçoa a sua pátria. Esta compaixão é sentimentalismo, não é virtude, visto que justifica que o filho mate o pai, porque este é «demasiado velho». Para se furtar à imputabilidade da culpa, chamam eutanásia àquilo que é realmente um assassinato.
NUNCA como hoje, neste período de tréguas (porque dificilmente podemos chamar aos nossos tempos «pacíficos»), houve tão grande presteza para o sacrifício. Este espírito ainda não se patenteia em toda a sua clareza; permanece oculto, como a água debaixo da terra.
«TENHO mau gênio», ou «bebo demais», «estou sempre a criticar» ou «sou preguiçoso», são queixas familiares a quantos acreditam ainda que a nobreza de caráter é um objetivo importante. Não fariam tais afirmações se não tivessem um forte desejo de romper a cadeia dos hábitos maus. E podem realizar este desejo, porque todo o hábito mau pode ser suprimido. Mas para se libertar dele, requerem-se quatro coisas:
SE não tivermos uma ideia clara do que é ser normal, jamais saberemos quando nos afastamos do padrão de saúde mental e moral. E por isso a compreensão de como um ser humano «funciona»... ou deve «funcionar» ajudar-nos-á a dominar-nos a tempo, e a aplicar travão às nossas tendências para a anormalidade.
ENTRE muitos pensadores superficiais de nossos dias, há tendência para ensinar que todo o ato humano é um reflexo sobre o qual não podemos ter domínio. Desejariam classificar a ação generosa como não digna de mais apreço que o pestanejar, o crime como não mais voluntário que um espirro. Esses falsos pensadores julgam que o homem está «condicionado» a agir desta ou daquela maneira, sem liberdade de eleição nem responsabilidade pelas suas boas ou más ações. Afirmam que o crime e o pecado são causados por falta de campos de jogos, ou por um traumatismo de infância, que transformou a vítima em «criança difícil» e a impediu, para sempre, de se «adaptar» à realidade e às suas exigências.
UM pai deu a seu filho um jogo de paciência, constituído por recortes do mundo, e disse-lhe que os recompusesse. O rapaz acabou por formar o mapa do mundo num espaço de tempo extraordinariamente breve. Quando o pai, admirado, lhe perguntou como é que ele o tinha conseguido, o rapaz respondeu:
«Havia a figura de um homem do outro lado; quando reuni devidamente as peças relativas ao homem, aquele saiu perfeito»
ESTÁ a multiplicasse, no mundo moderno, um novo tipo de homem. Se algum leitor vier a reconhecer aqui o seu próprio retrato, que pare, reflita e mude. O novo homem é o homem-massa, que já não preza a sua personalidade, mas pretende submergir-se na coletividade ou multidão.