Sumário. Antes de expirar, soltou Jesus um grande brado para nos dar a entender que morria, não pela malevolência de seus inimigos, mas por sua própria vontade. Entrega o espírito nas mãos de seu Pai e recomendando-Lhe a própria pessoa, recomendando-Lhe juntamente todos os fiéis, que pelos seus merecimentos deviam ser salvos. Se formos devotos da Paixão de Jesus Cristo, oh, que conforto nos darão na hora da morte estas suas palavras: Senhor, em vossas mãos encomendo a minha alma!Clamans voce magna Jesus ait: Pater, in manus tuas commendo spiritum meum - “Jesus, dando um grande brado, disse: Pai, nas tuas mãos encomendo o meu espírito” (Lc 23, 46)
Sumário. Consideremos como Jesus moribundo, antes de expirar, percorreu em espírito toda a sua vida. Viu todos os seus trabalhos penosos, as suas dores, as ignomínias suportadas e tudo isso ofereceu-o de novo a seu eterno Pai para a salvação do mundo. Em seguida, virando-se para nós, disse: Tudo está consumado. — Foi como se dissesse: “Ó homens, nada mais tenho a fazer para ser amado por vós; tempo é que afinal resolvais amar-me.” Amemos, portanto, a Jesus e provemos-Lhe nosso amor fazendo e sofrendo alguma coisa por seu amor, assim como Ele fez e sofreu tanto por nosso amor.Cum ergo accepisset Jesus acetum, dixit: Consummatum est - “Jesus, havendo tomado o vinagre, disse: Tudo está consumado” (Jo 9, 30)
Sumário. É dupla a sede que sofre Jesus moribundo: a sede corporal, causada pelo cansaço das caminhadas, pela tristeza interior e pelo muito sangue derramado. Outra sede espiritual, isso é, o desejo da salvação eterna de todos os homens, que O faz anelar maiores tormentos, se for preciso. Ah! Se nos lembrássemos sempre desta dúplice sede do Senhor, não procuraríamos delicadezas supérfluas e esforçar-nos-íamos por reconduzir as almas a Deus. Longe de nos queixarmos das tribulações, desejá-las-íamos maiores por amor de Jesus Cristo.Sciens Jesus quia omnia consummata sunt, ut consummaretur Scriptura, dixit: Sitio - “Sabendo Jesus que tudo estava cumprido, para se cumprir ainda a escritura, disse: Tenho sede” (Jo 19, 28)
Sumário. Em castigo de nossos pecados, tínhamos merecido que Deus nos abandonasse nos abismos infernais entregues à desesperação eterna. Mas, para nos livrar, quis Jesus tomar sobre si a pena que nos era devida e ser entregue pelo Pai a uma morte sem alívio. Demos graças à bondade divina e em nossas desconsolações espirituais unamos a nossa desolação à de Jesus agonizante; lembremo-nos do inferno merecido e digamos: Senhor, seja feita a vossa santa vontade!Et circa horam nonam clamavit Iesus voce magna dicens: Deus meus, Deus, meus, ut quid dereliquisti me? - “E perto da hora nona deu Jesus um grande brado, dizendo: Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?” (Mt 27, 46)
Sumário. Consideremos como Jesus moribundo, volvendo-se para sua mãe, que estava ao pé da cruz, e indicando-lhe pelo olhar o discípulo predileto, lhe disse: Mulher, eis aí teu filho; e depois acrescentou dirigindo-se ao discípulo: Eis aí tua mãe. E assim Maria foi constituída mãe de todos os cristãos, e nós fomos feitos seus filhos. Ponhamos portanto na Santíssima Virgem toda a nossa confiança, e em todas as necessidades recorramos a ela por socorro. Mas ao mesmo tempo provemos pelas nossas obras que somos filhos dignos de seu amor.Dicit matri suae: Mulier, ecce filius tuus. Deinde dieit discipulo: ecce mater tua - “Diz a sua mãe: Mulher, eis aí teu filho. Depois diz ao discípulo: Eis aí tua mãe” (Jo 19, 26-27)
Sumário. Observam os santos Padres que o Bom Ladrão, reconhecendo em Jesus crucificado o seu verdadeiro Deus, confessando-O como tal na presença de seus inimigos e recomendando-se-Lhe, deu exemplos das mais sublimes virtudes. Pelo que o Senhor lhe fez com razão a bela promessa de que naquele mesmo dia havia de gozar das delícias do paraíso. Meu irmão, o Senhor não se mudou, e, portanto, se porventura tivéssemos imitado o ladrão em seus desvarios, imitemo-lo também na sua conversão sincera a Deus e também teremos a mesma sorte feliz.Amen dico tibi: Hodie mecum eris in paradiso - “Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23, 43)