Vive na pobreza
Consideremos a Sagrada Família, composta de Jesus, de Maria e de José. Esta Santíssima Família tinha só a Deus por seu único bem, vivia na obscuridade, nos trabalhos, talvez em desprezo, e sem dúvida na pobreza. Mas quanto não era rica em graças e virtudes! Nunca houve família mais santa, mais respeitável, mais feliz nem mais digna da vassalagem dos anjos e dos homens. Não são os bens e as honras deste mundo, o que faz a verdadeira felicidade, mas sim a graça de Deus; a virtude e a santidade. Oh! Quanto é rico e ditoso aquele que ama a Deus, e só a Ele possui!Motivos da dor da Virgem Mãe
A virtude da paciência é indispensável para a perfeição da alma. Tendo pois o Altíssimo, escolhido a Maria para exemplar de perfeição, quis que ela suportasse as mais as mais acerbas penas, angústias e dores, para que pudéssemos admirar e imitar nela a paciência mais heroica. Uma das mais agudas espadas que feriram esta virgem inocente foi quando, na volta da grande solenidade da Páscoa, se achou sem o seu divino Filho, que, sem ela o saber, ficara em Jerusalém. Este acontecimento foi como um raio do céu, que lhe traspassou o amante coração! Que tristes pensamentos combateram a sua alma! Que sentidas lágrimas derramariam os seus olhos! Admiremos os desígnios da Providência sujeitando a tão duras provações o Imaculado Coração de Maria, e persuadamo-nos de que por altíssimos fins o Senhor mortifica mais aquelas almas que mais queridas são ao Seu divino Coração.Dor de Maria Santíssima
A triste profecia do velho Simeão não tardou a começar a realizar-se. O Deus Menino, vindo ao mundo para redenção de todos os homens, principiou logo a ser o alvo das perseguições dos ímpios. Apenas a sagrada Família volta de Jerusalém, um anjo aparece em sonho a São José, e lhe manda que tome o Menino e sua mãe e fuja para o Egito, porque Herodes procuraria este divino infante para Lhe dar a morte. No mesmo momento o Santo Patriarca levanta-se, comunica à santíssima esposa a ordem do céu e dispõe-se para fugir. Que golpe para o coração de Maria! Deixar imediatamente a pátria, mudar de terra e, com o tenro Menino nos braços, partir para um país remoto! Fugir do meio do povo de Deus para uma gente supersticiosa; de um país onde se conserva a religião verdadeira, para uma região cheia de templos dos demônios! Ver o seu Menino apenas nascido, já perseguido de morte por aqueles a quem vem trazer a vida abundante de todas as graças! Que amargosa dor para tão sensível mãe! Compadeçamo-nos do terno coração de Maria, tão profundamente ferido; procuremos consolá-lo, fugindo de todo o pecado e exercitando-nos em todas as virtudes. Dor que Maria Santíssima sente, ouvindo o que o santo velho profetiza a respeito:
De seu divino Filho
Quando o velho Simeão teve a dita de receber nos braços o Deus Menino, depois de testemunhar sua gratidão ao Senhor por lhe ter concedido ver o Salvador que vinha ser a luz para iluminar as gentes, e a glória do povo de Israel; alumiado com luz profética, o venerando ancião profere este triste oráculo:Aqui, de repente, e como numa lance de olhos, foram presentes à Senhora todas as perseguições de que seria objeto o seu bendito Filho, e todas as circunstâncias de sua dolorosa Paixão. De quanta amargura este espetáculo não repassaria o seu amantíssimo coração! E todavia, que admirável resignação e tranquilidade conservava no meio de tantas angústias! Com que rendimento se submete aos inefáveis decretos de Deus! Aprendamos daqui a conformarmo-nos com as disposições da divina Providência em todas as tribulações da vida, embora tenhamos de sacrificar os nossos mais justos e santos afetos."Este Menino está posto para alvo de contradição"