Meditação para o Sábado da Quarta Semana da Quaresma
SUMARIO
Meditaremos como complemento das nossas meditações sobre o Sacramento da Penitência: 1.° A obrigação de nos deixarmos dirigir pelo nosso confessor; 2.° A maneira com que se deve fazer esta direção. — Tomaremos depois a resolução: 1.° De tomarmos parecer com o nosso confessor sobre o regulamento da nossa vida e o emprego do nosso tempo, sobre a reforma dos nossos defeitos, sobre a prática das virtudes e o gênero de boas obras que melhor nos convém, se estamos nas circunstâncias de as fazer; 2.° De consultarmos o nosso confessor nas dificuldades e dúvidas que ocorrerem. Conservaremos como ramalhete espiritual a palavra do Espírito Santo:"Pedi sempre conselho ao sábio" - Consilium semper a sapientia perquire (Tb 4, 19)
São Francisco de Sales nasceu em 1567, no castelo de Sales, perto de Annecy. Completou os seus estudos em Paris e estudou direito em Pádua, foi advogado em Chambery, entrou nas ordens sacras e foi toda a sua vida um modelo de zelo e de piedade. Tendo-se feito missionário, converteu muitos protestantes do Chablais e do país de Gex. Depois, nomeado bispo de Genebra, cuidou zelosamente das suas ovelhas, e veio por várias vezes à França, onde pregou pela Quaresma com o mais brilhante triunfo. Fundou a confraria da Cruz e, em 1610 a Ordem da Visitação, confirmada por Paulo V. Era incansável na sua devoção sempre ativa. Três dias antes de morrer, ainda pregava, apesar do quebrantamento das forças. A sua festa celebra-se a 24 de Janeiro, no calendário litúrgico para o rito na forma Ordinária; e a 29 de Janeiro, para o rito na forma Extraordinária.
Pregado em Paris, no mosteiro da Visitação, 28 de dezembro de 1662.
SUMÁRIO
Exórdio. Não parece ser difícil louvar um Pai tão venerável perante filhas tão respeitosas. Bossuet, porém, deseja que outrem faça o elogio do santo. Proposição e divisão. É muito natural quererem os homens elevar-se a lugares eminentes para ostentarem pomposamente o lustre de uma grandeza majestosa. Outro tanto se não dá com São Francisco de Sales, a quem o orador considera sucessivamente: 1.° Como doutor e Pregador; 2.° Como bispo; 3.° Como diretor das almas. Sob estes três pontos de vista, mostra Bossuet como ele foi na Igreja de Deus um astro luminoso e vivificador. 1.º Ponto. — Como doutor e pregador, São Francisco procurou no Evangelho essa ciência que não só ilumina as almas, mas também lhes dá a piedade, ciência que fortifica o espírito e lhe dá luz, que sabe mostrar o caminho da virtude e conduzir a ele, que sabe ensinar a devoção e até obrigar os pagãos a amá-la. 2.º Ponto. — Como bispo, evitou todos os desvios da ambição, viu apenas no seu cargo eminente mais um meio para ensinar a ciência de Jesus Cristo, e não um degrau para se alcandorar as dignidades eclesiásticas. Insensível aos aplausos e ao favor do público, também o foi aos desagrados em que incorreu e as injustiças de que foi vítima. 3.º Ponto. — Como diretor das almas, insinuou-se ao mesmo tempo no coração e no espírito, e a brandura foi o seu principal meio de triunfo. De extraordinária caridade, teve compaixão e condescendência para com todos os pecadores, mas particularmente para com os hereges. Peroração. Elogio e carácteres da caridade, segundo São Francisco de Sales e Santo Agostinho. A caridade é dispensada a todos.Ille erat lucerna ardens et lucens Ele era uma... luz ardente e resplandecente (Jo 5, 35)
Parte III Capítulo XXIV
Tanto procurar como fugir a convivência com os homens são dois extremos censuráveis na devoção, que deve regrar os deveres da vida social. O fugir é um sinal de orgulho e desprezo do próximo e o procurar é fonte de muitas coisas ociosas e inúteis. Cumpre amar ao próximo como a nós mesmos. Para demonstrar-lhe esse amor, não devemos fugir a sua companhia, e para patentear o amor que temos a nós mesmos devemos estar contentes, quando estamos sozinhos.Se nada te obriga a fazer ou receber visitas, fica contigo mesma e entretém-te com teu coração; mas, se algum motivo te impõe esses deveres, cumpre-os em nome de Deus, tratando o próximo com toda a amabilidade e caridade.Pensai em vós mesmos, diz São Bernardo, e depois nos outros
Parte III Capítulo XXIII
Afirmam os naturalistas que, escrevendo-se uma palavra numa amêndoa ainda intacta e fechando-a de novo, cuidadosamente, em sua casca, uma vez lançada em terra, todos os frutos que daí nascem trazem escrita essa mesma palavra. Quanto a mim, Filotéia, nunca aprovei o método de certas pessoas que, para reformarem o homem, começam pelo exterior: pelo semblante, pelos vestidos e pelos cabelos. Parece-me, ao contrário, que se deva começar pelo interior.E, de fato, o coração é a fonte das ações e são estas exatamente qual é o coração. O divino Esposo, convidando a alma para uma perfeita união, lhe diz:Convertei-vos a mim, diz Nosso Senhor, de todo o vosso coração. Meu filho, dá-me o teu coração.
Põe-me como um selo sobre o teu coração e sobre o teu braço.