




Mortuus est autem et dives O rico também morreu (Lc 16, 22)
Sermão sobre a eminente Dignidade dos Pobres na IgrejaEste discurso, que é um Sermão de Caridade em toda a extensão do termo, não conclui, como poderá ver-se, pela Ave-Maria tradicional. Os editores são unânimes em afirmar com Floquet que este sermão foi pregado no Seminário das Filhas da Providência, estabelecimento situado junto do Val-de-Grace. Lachat, afirmativo sempre, menciona os nomes de senhoras ilustres, na presença das das quais falou Bossuet. A data deste discurso não pode precisar-se ao certo, nem o lugar onde Bossuet o pronunciou é rigorosamente o seminário das Filhas da Providência. No verso de duas cartas que vieram de Sedan para Metz, e que foram remetidas de Metz para Paris, acham-se escritas duas páginas deste sermão. O sinete duma dessas cartas tanto pode ser o da famílias de Bouillon, como o dos Schombergm, como até o do marechal Fabert. (Gazier) - Ms. Tomo XI, pag. 269 - Déforis, IV, 536. - Lachat, VIII, 125. - Gandar, pag. 161.
Pregado em Paris, em fevereiro de 1659.
Erunt novissimi primi, et primi novissimi Os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos (Mc 20, 16)
É a prosperidade castigo. O homem feliz na terra se esquece do Céu, materializa-se, nada sabe. “Quem não sofre que é que pode saber?” – pergunta a Escritura. Os prazeres enervam e nos tornam incapazes de pensar nas coisas eternas. Diz São Paulo, e com razão, que o homem animal não percebe as coisas espirituais. Falai em Deus, alma e eternidade a um desses gozadores da vida. Ele não vos entenderá.“Eu tremo – dizia Santo Ambrósio – quando vejo o pecador feliz”
EM tempos passados, os homens falavam menos em «viver a sua vida» e mais em salvar a sua alma. Não ligavam tanta importância como nós a assuntos políticos e econômicos, mas tinham muito maior interesse pelas coisas morais e religiosas. Agora, já que a atração do Céu se relaxou para muitos homens, o seu apego à terra tornou-se mais intenso. À procura de Deus sucedeu a procura da riqueza e do poder. Não é o santo o ídolo do nosso século, mas o homem que atingiu o vértice da escala social.
Há uma profunda diferença de qualidade entre os os bens possuídos, de que precisamos, usamos e realmente desfrutamos, e a acumulação de coisas inúteis, que amontoamos por vaidade, avidez ou desejo de ultrapassar os outros. A primeira espécie de posse é uma extensão legítima da personalidade: com o nosso amor enriquecemos um objeto que usamos muito, e ganhamos-lhe afeição. Podemos notar estas duas espécies de propriedade quando observamos as crianças: a que só possui um brinquedo, enriquece-o com o seu amor. A amimada com muitos brinquedos à sua disposição, rapidamente se enfastia e deixa de sentir prazer em qualquer deles.