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História da Igreja 5ª Época: Capítulo VI

Irmãos das Escolas Cristãs

A Igreja católica, à imitação de seu divino esposo, pôs sempre especial empenho em educar as crianças e formá-las desde pequenas à virtude. Entre a multidão de seus filhos que, inflamados neste espírito de caridade, se dedicaram de modo especial à educação da juventude, distinguiu-se o venerável João Batista de la Salle, de Reims. Unia este, a uma vida pura e inocente tal inclinação e amor para a ciência e para a virtude, que desde muito jovem foi nomeado cônego, doutor em teologia, e mais tarde, ordenado sacerdote. Cuidadoso em adquirir uma dignidade segura e imperecível no paraíso, renunciou ao cargo de cônego, distribuiu quarenta mil francos de patrimônio entre os mosteiros, e dedicou-se a recolher meninos pobres e abandonados, para instruí-los na santa fé. Não podendo só ele levar a cabo uma obra de tanta importância, chamou em seu auxilio outros companheiros, nos quais infundiu seu espírito. Desta maneira principiou a instituição dos Irmãos das Escolas cristãs que tem por fim exclusivo a educação cristã dos meninos da classe pobre ou menos acomodada da sociedade.

Esclarecido por virtude e milagres, morreu em odor de santidade, no ano 1719, Bento XIII, considerando o grande bem que a juventude lucrava por obra desta sociedade, a enumerou entre as congregações aprovadas pela Igreja. Gregório XVI, a pedido de muitos bispos católicos, declarou venerável a LaSalle iniciando a causa de sua beatificação. Leão XIII solenemente o beatificou, canonizando-o no ano jubilar de 1900. O sábio fundador proibiu aos que entravam na congregação, o estudo das línguas clássicas e a ordenação sacerdotal, para ficarem firmes na sua vocação que consiste unicamente em educar as crianças das classes elementares. Por esse motivo foram chamados, ainda que sem razão, Ignorantelli.

Bento XIV

Bento XIV foi um dos maiores pontífices que governaram a Igreja, e enquanto forem honradas a ciência e a religião, seu nome será celebrado. Eleito Papa no ano 1740, empregou os dezoito anos de seu pontificado em combater os hereges e desfazer as tramas que os franco-maçons e os falsos filósofos urdiam contra a Religião. Também teve muito que trabalhar para defender e sustentar os direitos da Igreja, pacificar potências inimigas, propagar e firmar a fé nas missões estrangeiras. Escreveu muitos livros cheios de ciência e erudição; entre outros os da beatificação e canonização dos santos, das festas de Nosso Senhor Jesus Cristo da Bem-aventurada Virgem Maria, do Sínodo diocesano, das instituições eclesiásticas e outras obras todas que merecidamente deram-no a conhecer como pontífice douto, infatigável, e promotor das sagradas ciências. Chorado não só pelos católicos, senão também pelos hereges, morreu no ano de 1758.

São Paulo da Cruz e os Passionistas

Ovada, pequena cidade do Piemonte, sempre será célebre por ter sido a pátria de São Paulo da Cruz.. Um maravilhoso resplendor, que durante o seu nascimento iluminou o aposento materno, foi presságio da santidade a que Deus o chamava. Menino ainda, tendo caído em um rio, salvou-o a Virgem Maria milagrosamente. Possuído de um grande amor para com Jesus crucificado, fazia consistir todas as suas delícias na meditação da sua dolorosa paixão. Achava gozo em macerar seu corpo com açoites, vigílias e jejuns; às sextas feiras não tomava outra bebida senão um pouco de vinagre misturado com fel. Para entregar-se todo a Deus e servi-lo com os afetos mais puros de seu coração, renunciou aos prazeres, às riquezas e aos cargos mundanos. Revestido por seu bispo de um grosseiro hábito que trazia impresso no peito letras e emble­mas da paixão do Salvador, retirou-se para Castelazzo perto de Alexandria, a fim de levar vida penitente. Ali, inspirado por Deus, escreveu em seis dias as regras dos Passionistas, que tomaram este nome porque, além dos três votos de castidade pobreza e obediência, fazem outro mais, pelo qual se impõem despertar nos fiéis a memória da paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Causa admiração ver as regras que escreveu, tão cheias do espírito do Senhor e de profunda sabedoria, tanto mais se consideramos que nosso santo não contava então mais de 26 anos e nunca tinha lido regras de outras religiões. Ainda que simples leigo, por mandato do bispo, prestava-­se a catequizar os meninos e os adultos com grande proveito das almas. Aconselharam-no em Roma, a que estudasse teologia; mais tarde foi ordenado sacerdote pelo Papa Bento XIII.

Tendo-se retirado com alguns companheiros para a solidão do monte Argentario, na Toscana, apareceu-lhe a Bem-aventurada Virgem, mostrando um hábito de cor escura; decorado com as insígnias da paixão de seu Filho. Tomando isto por sinal claro da vontade do céu, lançou ali mesmo os fundamentos de uma nova congregação.

Teve de trabalhar muito para estabelecê-la, mas, depois de receber a aprovação da Santa Sé, sua congregação cresceu prodigiosamente e produziu abundantíssimos frutos. Também instituiu em Castelazzo um mosteiro de sagradas virgens chamadas Passionistas. A vida destes novos apóstolos consistia em fazer missões, especialmente entre a gente humilde do campo. assim sustentou a muitos no caminho da virtude, fez voltar ao bom caminho inumeráveis pecadores e conquistou muitos hereges. Consistia a maior força de seus sermões, na narração da paixão de Jesus Cristo que fazia derramando muitas lágrimas e com extraordinário proveito de seus ouvintes. Um dia, enquanto se achava pregando, ouviu-se uma voz celestial que lhe sugeria as palavras; outras vezes ouviam-se seus discursos na distância de muitos quilômetros. Seu coração se achava tão inflamado no amor de Deus, que a parte da camisa que o cobria, encontrava-se muitas vezes como queimada, e suas costelas apareciam visivelmente arqueadas. Celebrando a Missa, via-se com frequência arrebatado em êxtase, e às vezes com o corpo levantado do chão. Brilhou também pelo dom das profecias e das línguas, pelo poder sobre os demônios, pelo conhecimento dos segredos do coração e pela graça de curar enfermidades. Apesar de tão austero método de vida, chegou a uma longa e florida velhice. Já próxima sua morte, predisse os graves acontecimentos que Pio VI tinha de sofrer durante seu longo pontificado. Deixando aos seus em testamento utilíssimos avisos, fortalecido por uma visão celestial morreu em Roma no dia predito por ele, no ano 1775, aos 82 de idade. Pio IX colocou-o no número dos bem-aventurados, e mais tarde, como resplandecesse sempre mais pelo número de seus milagres, o inscreveu no catálogo dos santos.

Origem dos franco-maçons

Costuma-se dar o nome de franco-maçons, a uma seita de homens, que para poder satisfazer com toda a liberdade suas paixões, empregam toda a sorte de meios para combater a Religião e as autoridades civis. Os primeiros são chamados adeptos ou principiantes, e a estes não se manifesta a maçonaria senão como uma sociedade filantrópica e de socorro mútuo. Muitas das que trazem este nome, como também outras de operários, pertencem a esta seita, embora o ignorem seus afilhados. À medida que vão subindo de grau os levam-no ao ateísmo, à negação de toda religião, da alma, da eternidade, e lhes ensinam a por toda a sua felicidade nos gozos da vida presente. Daí a razão porque a mocidade se deixa seduzir mais facilmente, e porque os franco-maçons desprezam os auxílios da religião, tanto em vida como na morte. Suas reuniões costumam ser chamadas conventículos, e o lugar secreto onde se reúnem, Loja maçônica. Acredita-se que é muito antiga a origem da maçonaria; alguns a fazem remontar até os magos do Egito dos tempos de Moises; porém, ainda que desde mui remotos tempos tenham existido sociedades secretas, cujo fim é a Impiedade e a satisfação das paixões, contudo, a maçonaria de nossos dias não deve sua origem a muitos séculos atrás, pois, no princípio de século passado (séc. XVIII), Darvent-Water estabeleceu a primeira Loja na Inglaterra, e mais tarde se fundaram outras em França e em toda a Europa. Uma parte de sua doutrina parece a do herege Manes, cujos segredos e cerimônias adotaram. É um conjunto de panteísmo, materialismo, e ateísmo. Antes de admitir em seu seio a uma pessoa, fazem-lhe proferir estas palavras:

“Jura, e perjura que nunca violarás o segredo”

Confirma-se este segredo por um juramento tão severo, que ao pai está rigorosamente proibido revelá-lo a seu filho o filho a seu pai, o Irmão a irmã, a irmã ao irmão! Loucura da mente humana! Querem destruir a Deus e a Religião, e por esta mesma Religião se obrigam com juramento ao mesmo Deus que pretendem destruir.

Clemente XII e Bento XIV condenaram, a estes fanáticos, e excitaram os soberanos para os expulsarem de seus estados. Desgraçadamente, os reis e os príncipes, se não foram seus cúmplices, foram demasiado negligentes no cumprimento das ordens do pontífice, e muitos deles já pagaram a pena de sua culpa, porque os franco-maçons com suas reuniões secretas, causaram e ainda causam males imensos à Religião, aos governos civis e às famílias, e pode-se dizer que são a peste do gênero humano. Os que hoje se chamam Livres Pensadores pertencem à maçonaria! Desgraçados, os que se deixam prender nesta rede infernal.

Filósofos Modernos

Outro exército posto ao serviço do espírito das trevas, e cujos adeptos pertencem em sua maior parte à maçonaria, é o dos falsos filósofos modernos. Estes, ou são racionalistas, porque afirmam que querem seguir a luz pura da razão natural e desprezam todo o sobrenatural e toda autoridade religiosa, ou, o que é pior ainda, negam tudo que é espírito, e não admitem outro conhecimento além da matéria. É difícil definir quais são suas doutrinas, porque não as têm. Quem ler atentamente seus escritos, concluirá deles, que, negar a verdade, denegrir a virtude, dar impulso ao crime, arrancar do coração humano a doce esperança de alcançar a felicidade de outra vida, é o fim substancial da decantada filosofia moderna. Os franco-maçons maquinavam secretamente; os filósofos deram-lhes as mãos e cooperaram com sua obra em escritos públicos e com a prática de sua doutrina. Os patriarcas destes incré­dulos foram Voltaire e Rousseau.

Voltaire

O fim funesto de Voltaire e Rousseau prova que Deus às vezes também se vinga dos ímpios na vida presente. Voltaire nasceu em Chatenay, pequena cidade da França; seu verdadeiro nome e Francisco Maria Arouet. Seu pai o chamou Voltaire por ter-lhe dado algumas propriedades que tinham este nome. Cursou os estudos em um colégio de Jesuítas onde manifestou engenho vivo, porém soberbo, e muita obstinação em suas ideias. Certo dia, um professor seu, espantado pela audácia de seus raciocínios, exclamou: Este será o precursor da incredulidade na França. Terminado o curso dos estudos literários seu pai queria dedicá-lo aos ofícios civis, porém Voltaire recusou e deu-se a escrever sátiras e livros imorais. Não há obscenidade à que não se tenha entregado, ou que ao menos, não tenha tratado de descrever com as mais vivas cores por meio de seus escritos. Isto lhe causou tais inimizades e discórdias, que foi preso várias vezes e finalmente desterrado. Como a santidade do Evangelho condenasse sua vida licenciosa, atirou-se com ódio feroz contra a religião e especialmente contra Jesus Cristo seu autor. Depois de ter cogitado mil meios para convencer a todos que ele não acreditava em nada, teve o atrevimento sacrílego de escrever a seu amigo d’Alambert esta blasfêmia:

“Ainda vinte anos e daremos cabo de Deus” (25 de fevereiro de 1758)

Enganou-se, porém, porque vinte anos mais tarde, e precisamente a 25 de fevereiro, foi surpreendido por um vômito violento, e ele esqueceu logo sua incredulidade. Mandou chamar o cura de São Sulpício com quem se confessou e se retratou autenticamente de sua impiedade e de seus escândalos. Livre já do perigo, voltou à impiedade; porém daí a pouco tempo caiu novamente enfermo para não melhorar. Pediu um confessor, porém seus amigos impediram a este chegar-se à cama do infeliz moribundo. Então Voltaire, enfurecido, começou a gritar:

“Estou, pois, abandonado de Deus e dos homens!”

Ora invocava ao senhor, ora blasfemava-O; agitava-se em contorções e acabou por morrer nos horrores do desespero. Ano 1778. (Lepan e Ebel, vida de Voltaire).

Rousseau

Poucos meses depois de ter falecido Voltaire, deixava de existir outro famoso incrédulo de Genebra, chamado João Jacques Rous­seau. Seu pai, relojoeiro de profissão, queria que seu filho aprendesse a gravar; mas pelo contrário não aprendeu senão a mentir e a roubar. Fugindo da casa paterna, refugiou-se na Sabóia em casa de um sacerdote, que o recomendou à caridade do Bispo de Anecy. Vendo este que tinha Rousseau aptidões para se instruir na Religião, mandou-o à sua custa para a casa de catecúmenos em Turim, onde efetivamente abjurou o protestantismo e abraçou a fé católica. Depois de alguns meses saiu do Colégio e empregou-se como lacaio do Conde Solano. Por causa da sua inconstância, ocupou por pouco tempo este emprego e voltou para Anecy. Aí uma pessoa caridosa o pôs no Seminário para fazê-lo estudar e seguir a carreira eclesiástica, à qual, segundo dizia ele, queria se consagrar. Mas foi expulso por sua inaptidão para os sagrados estudos e por sua má conduta. Não tendo tão pouco bom êxito nos estudos literários, dedicou-se à leitura de novelas que lhe encheram a cabeça de ideias estranhas e ímpias. Como possuísse certa vivacidade em expor seus pensamentos, acreditou que isto bastava para ser um grande filósofo, e começou a tratar toda classe de argumentos sagrados e profanos. Como a fé cristã lhe impedisse continuar em seus escândalos, renegou toda verdade sobrenatural e enquanto viveu, procedeu como um incrédulo. Dizia com jactância que nenhum dos homens tinha sido feito como ele; ainda mais, em sua necedade até chegara a desafiar ao Juiz eterno para encontrar um homem melhor e mais valente do que ele. Surpreendido por um temor pânico, parecia-lhe ver espectros e homens que incessantemente o ameaçavam de morte; desesperado por isso envenenou-se. Diz-se que, para subtrair-se ao efeito lento do veneno, acelerou sua morte com um tiro de pistola. (3 de junho de 1778).

O autor da vida de Rousseau conclui com estas palavras:

“Este homem que se jactava de empregar toda sua vida em publicar a verdade, deixou um grande número de escritos, nos quais não aparece nem uma só verdade que possa justificar o autor ante o gênero humano”