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Como se deve haver e falar cada um em seus desejos

Livro III. DA CONSOLAÇÃO INTERIOR

Capítulo XV

1. Jesus: Filho, dize assim em todas as coisas: Senhor, se for do vosso agrado, faça-se isto assim. Senhor, se for para vossa honra, suceda isto em vosso nome. Senhor, se vos parecer que me é proveitosa e útil tal coisa, concedei-ma para que dela use para vossa glória; mas, se conheceis que me seria nociva e sem proveito para minha salvação, tirai-me tal desejo; porque nem todo desejo procede do Espírito Santo, ainda que nos pareça bom e justo. É dificultoso discernir se te move espírito bom ou mau, a desejar isto ou aquilo, ou se te move tua própria vontade. Muitos se acharam no fim enganados, que a princípio pareciam animados de bom espírito.

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Que se devem considerar os altos juízos de Deus, para não nos desvanecermos na prosperidade

Livro III. DA CONSOLAÇÃO INTERIOR

Capítulo XIV

1. Trovejam sobre mim, Senhor, vossos juízos, temem e tremem meus ossos abalados e minha alma fica de todo espavorida. Estou assombrado ao considerar que nem os céus são puros à vossa vista. Se nos anjos achastes maldade e não lhes perdoastes, que será de mim? Caíram as estrelas do céu, e eu, pó, de que hei de presumir? Aqueles cujas obras pereciam louváveis precipitaram-se no abismo, e vi os que comiam o pão dos anjos deleitarem-se com o alimento dos animais imundos.

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Da obediência e humilde sujeição, a exemplo de Jesus Cristo

Livro III. DA CONSOLAÇÃO INTERIOR

Capítulo XIII

1. Filho, quem procura subtrair-te à obediência aparta-se também da graça; e quem procura favores particulares perde os comuns. Aquele que não se sujeita pronta e de boa mente a seu superior, mostra que sua carne não lhe obedece ainda prontamente, mas muitas vezes se revolta e resmunga. Aprende, pois, a sujeitar-te prontamente a teu superior, se queres subjugar a própria carne, porque facilmente se vence o inimigo exterior quando o homem interior não está assolado. Pior inimigo e mais perigoso não tem a alma, que tu mesmo, quando não obedeces ao espírito. Se queres vencer a carne e o sangue, deves compenetrar-te do sincero e absoluto desprezo de ti mesmo. Mas porque ainda te amas desordenadamente, por isso te repugna sujeitar-te de todo à vontade dos outros.

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Da escola da paciência e luta contra as concupiscências

Livro III. DA CONSOLAÇÃO INTERIOR

Capítulo XII

1. A alma: Deus e Senhor meu, pelo que vejo, a paciência me é muito necessária; pois são muitas as contrariedades desta vida. Por mais que se procure a paz, não há viver sem combate e sofrimento. 2. Jesus: Assim é, filho, e não quero que busques uma paz isenta de tentações e contrariedades, mas que julgues ter achado a paz, ainda quando fores molestado de muitas atribulações e provado em muitas contrariedades. Se dizes que não podes sofrer tanta coisa, como suportarás, então, o purgatório? De dois males sempre se deve escolher o menor. Para escapar dos suplícios futuros, trata de sofrer com paciência os males presentes, por amor de Deus. Julgas, acaso, que nada ou pouco sofrem os homens do mundo? Tal não encontrarás, nem entre os mais regalados.

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Como devemos examinar e moderar os desejos do coração

Livro III. DA CONSOLAÇÃO INTERIOR

Capítulo XI

1. Jesus: Filho, muitas coisas deves ainda aprender, que não sabes bem. 2. A alma: Que coisas são estas, Senhor? 3. Jesus: Que conformes completamente teu desejo a meu beneplácito e não sejas amante de ti mesmo, mas zeloso cumpridor de minha vontade. Muitas vezes se inflamam teus desejos, e com veemência te impelem; examina, porém, o que mais te move, se minha honra ou teu próprio interesse. Se for eu o motivo, ficarás bem contente, qualquer que seja o sucesso do empreendimento; mas, se lá se ocultar algum interesse próprio, eis que isto logo te embaraça e aflige.

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Como, desprezando o mundo, é doce servir a Deus

Livro III. DA CONSOLAÇÃO INTERIOR

Capítulo X

1. A alma: De novo, Senhor, vos falarei, e não me calarei; direi aos ouvidos de meu Deus, meu Senhor e meu Rei, que está nas alturas: Quão grande, Senhor, é a abundância da doçura que reservastes aos que vos temem! (Sl 30,20). Mas que será para os que vos amam e de todo o coração vos servem? É verdadeiramente inefável a doçura da contemplação que concedeis aos que vos amam. Nisto particularmente me manifestastes a doçura de vosso amor: quando não era, vós me criastes e quando andava longe de vós, perdido no erro, me reconduzistes a vos servir e me destes o preceito de vos amar.

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Tudo se deve referir a Deus como ao fim último

Livro III. DA CONSOLAÇÃO INTERIOR

Capítulo IX

1. Jesus: Filho, eu devo ser o teu supremo e último fim, se desejas ser verdadeiramente feliz. Esta intenção purificará teu coração, tantas vezes apegado desregradamente a si mesmo e às criaturas. Porque se em alguma coisa te buscas a ti mesmo, logo desfaleces e afrouxas. Refere, pois, tudo a mim, principalmente porque eu sou quem te deu tudo. Considera todos os bens como dimanados do Sumo Bem, e por isso refere tudo a mim como sua origem.

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Da vil estima de si próprio ante os olhos de Deus

Livro III. DA CONSOLAÇÃO INTERIOR

Capítulo VIII

1. A alma: Ao meu Senhor falarei, ainda que seja pó e cinza (Gn 18,27). Se eu me tiver em maior conta, eis que vos ergueis contra mim, e ao testemunho verdadeiro que dão meus pecados, não posso contradizer. Mas se me tiver por vil e me aniquilar, deixando toda a vã estima de mim mesmo, e me reduzir a pó, que sou na verdade, ser-me-á propícia a vossa graça, e a vossa luz há de vir em meu coração, e todo sentimento de amor-próprio, por mínimo que seja, perder-se-á no abismo do meu nada e perecerá para sempre. Ali me dais a conhecer o que sou, o que fui, a que ponto cheguei; porque sou nada - e não o sabia. Abandonado a mim mesmo, sou um puro nada e a mesma fraqueza; tanto, porém, que lançais um olhar sobre mim, logo me sinto forte e cheio de nova alegria. E é grande maravilha que tão sabiamente me levantais e tão benigno me abraçais, a mim, que pelo próprio peso pendo sempre para a terra.

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Como se há de ocultar a graça sob a guarda da humildade

Livro III. DA CONSOLAÇÃO INTERIOR

Capítulo VII

1. Jesus: Filho, muito útil e seguro te é encobrir a graça da devoção, sem te desvaneceres ou te preocupares muito com ela; convindo antes desprezar-te a ti mesmo e temer que não sejas digno da graça recebida. Importa não estares muito apegado a tais sentimentos, que bem depressa podem mudar-se nos contrários. Com a graça presente, pondera quão miserável e pobre és sem ela. O progresso na vida espiritual não consiste tanto em teres a graça da consolação, mas em suporta-lhe com humildade, abnegação e paciência a privação, de sorte que então não afrouxes no exercício da oração, nem deixes de todo as demais boas obras que costumas praticar. Antes faze tudo de boa vontade, como melhor puderes e entenderes, nem te descuides totalmente de ti por causa das securas e ansiedades espirituais.

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Da prova do verdadeiro amor

Livro III. DA CONSOLAÇÃO INTERIOR

Capítulo VI

1. Jesus: Filho, não és ainda forte nem prudente no amor. - A alma: Por que, Senhor? - Jesus: Porque por qualquer contrariedade deixas o começado e com ânsia excessiva procuras a consolação. O homem forte no amor permanece firme nas tentações e não dá crédito às astuciosas sugestões do inimigo. Assim como lhe agrado na prosperidade, não lhe desagrado nas tribulações.

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