Espiritualidade

Vivendo em Deus, por conseguinte, não se pode ter amargura alguma porque Deus é delícia, doçura e alegria infinita! É esta a razão pela qual os amigos de Deus são sempre felizes! Mesmo se doentes, necessitados, aflitos, atribulados, perseguidos, nós estamos alegres. Mesmo quando todas as línguas caluniosas nos metessem em má luz, não nos preocuparemos, mas nos alegraremos com tudo porque vivemos em Deus, nosso repouso, e saboreamos o leite do seu amor.“Deus é amor; quem permanece no amor habita em Deus e Deus habita nele”

“Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está perto!” (Fl 4,4s)Mas, pensando bem: há motivos para alegria verdadeira, profunda, responsável? Ante as lutas e fardos da vida, podemos realmente alegrar-nos? Antes as feridas e machucaduras do nosso coração, é possível uma alegria duradoura e verdadeira? Ante as desacertos e desvios do mundo, é realmente possível este gáudio a que nos convida a Igreja, com as palavras de São Paulo? E, no entanto, o convite é insistente: Alegrai-vos!

Sumário. Deu-nos Deus a Santíssima Virgem como exemplar de todas as virtudes, mas especialmente da paciência. Semelhante à rosa, ela cresceu e viveu sempre entre os espinhos da tribulação. Se, portanto, quisermos ser filhos desta Mãe, força é que procuremos imitá-la, abraçando com resignação as cruzes; e não somente as que nos vierem diretamente de Deus, mas também as que vierem da parte dos homens, tais como sejam as perseguições e os despresos.Patientia vobis necessaria est: ut volutantem Dei facientes reportetis promissionem - “A paciência vos é necessária, a fim de que fazendo a vontade de Deus alcanceis a promessa” (Hb 10, 36)

Sumário. Se quisermos salvar-nos, é mister que nos resolvamos a carregar com paciência a cruz que Deus nos manda, e a morrer nela por amor de Jesus Cristo, assim como Ele morreu na cruz por nosso amor. É este também o meio para acharmos a paz nos sofrimentos. Quem recusa aceitar a cruz, de ordinário aumenta-lhe o peso; ao passo que quem a abraça e carrega com paciência, tira-lhe o peso e converte-a em consolação.Lignum vitae est his, qui apprehenderint eam; et qui tenuerit eam, beatus - “É árvore de vida para aqueles que lançarem mão dela; e é bem-aventurado quem a não largar” (Pv 3, 18)


Sumário. O primeiro Adão gozou durante algum tempo as delícias do paraíso terreal; mas o segundo Adão, Jesus Cristo, não teve nem sequer um instante em sua vida que não fosse cheio de aflições e agonias, porquanto desde o berço afligiu-O a dolorosa previsão de todas as penas e ignomínias que deveria padecer, e particularmente a previsão da ingratidão de que os homens usariam para com Ele. Ó céus! Nós também temos contribuído para contristar esse amabilíssimo Coração.Virum dolorum, et scientem infirmitatem - “O homem de dores e experimentado nos trabalhos” (Is 53, 3)

Sumário. A salvação ou a condenação de todos os homens não aumenta nem diminui de nada a felicidade do Filho de Deus, que é a bem-aventurança mesma. Todavia Ele tem feito e padecido tanto por nós, que, se a sua beatitude fora dependente da nossa, não teria podido padecer e fazer mais. Quão grande não deve, pois, ser nosso amor para com Jesus Cristo e quão grande a nossa confiança de obtermos, pelos seus merecimentos, todas as graças que desejemos!Dilexit nos et tradidit semetipsum pro nobis - “Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós” (Ef 5, 2)

Sumário. Imaginemos que estamos vendo uma pessoa que acaba de expirar. Contemplemos nesse cadáver a cabeça pendida sobre o peito, o cabelo desgrenhado, os olhos encovados, as faces descarnadas, o rosto cinzento, a língua e os lábios cor de ferro, o corpo frio e pesado. Quantas pessoas, à vista de um parente ou de um amigo morto, não mudaram de vida e deixaram o mundo!Auferes spiritum eorum, et deficient, et in pulverem suum revertentur - “Tirar-lhes-ás o espírito, e deixarão de ser, e tornar-se-ão no seu pó” (Sl 103, 29)

Sumário. Pelas nossas culpas nós, pobres pecadores, já estávamos todos mortos e condenados ao inferno. Deus, porém, por causa do imenso amor que tem às nossas almas, quis restituir-nos à vida, enviando à terra o seu Filho unigênito para morrer por nós. Pois dizei-me: Se Jesus Cristo morreu por nosso amor, não é mais do que justo que nós somente para Ele vivamos, e que Ele seja o único senhor dos nossos corações?Deus autem, qui dives est in misericórdia, propter nimiam caritatem suam, qua dilexit nos, et cum essemus mortui peccatis, convivificavit nos Christo - “Deus que é rico em misericórdia, por causa da extrema caridade com que nos amou, também quando mortos estávamos pelos pecados, nos convivificou em Cristo” (Ef 2, 4)