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Virtudes que a Santíssima Virgem pratica no mistério da Encarnação

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Antes do complemento deste mistério

A Bem-aventurada Virgem, consagrada ao Altíssimo desde a mais tenra infância, vivia na prática de todas as virtudes. Deus se comprazia, vendo esta admirável Virgem elevar-se à mais alta perfeição, e a enriquecia todos os instantes de novas graças para a dispôr a ser um dia a Mãe de seu Filho. E cada vez ela se tornava mais digna desta sublime dignidade, pela pureza virginal e inviolada de que fizera voto; pela profunda humildade com que se aniquilava no acatamento divino, e pela elevação constante do seu espírito, rogando com fervorosa instância ao Senhor que acelerasse os felizes dias da Redenção. Em nossas orações, em nossos exercícios de piedade, sentimos por ventura os vivos afetos e ardentes desejos de que era animada a Santíssima Virgem? Ai! Que distrações, que negligência, que tibieza! Procuremos emendar-nos propondo-nos por exemplar o maravilhoso fervor de Maria Santíssima.

No momento em que o Anjo lh’o anuncia

Admiremos as virtudes, que a Santíssima Virgem pratica no momento em que o mensageiro celeste vem saudá-la da parte de Deus. Nela aparece ao mesmo tempo grande modéstia, perturbando-se à vista de um Anjo em forma humana; fé viva, crendo sem hesitar o grande mistério que ele lhe anuncia; amor à virgindade, preferindo esta bela virtude à augusta qualidade de Mãe de Deus; profunda humildade, não tomando outro título, senão o de serva do Senhor; perfeita obediência, submetendo-se às ordens de Deus. Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo vossa palavra. Aprendamos de nossa divina Mãe estas virtudes, e não nos esqueçamos de que, trabalhando principalmente por imitá-la, é que teremos a ventura de lhe agradar, e de atrair sobre nós a sua proteção.

Depois do seu complemento

Consideremos quais foram os sentimentos da Santíssima Virgem depois do complemento deste inefável mistério, e quando a virtude milagrosa do Espírito Santo formou em seu ventre virginal o corpo do Messias. Humilhou-se na Sua presença, adorou-O com profundo respeito, amou-O como seu Deus e seu Filho, e ofereceu-se-lhe para O servir e entrar em todos os desígnios que O impeliam a fazer-Se homem. Quão venturosos não seríamos também nós, se antes da Sagrada Comunhão, no tempo dela e depois soubéssemos praticar as virtudes que a Santíssima Virgem nos ensina! Nenhum outro método seria preciso para comungar bem; e, se tivéssemos a ventura de comungar sempre bem, nada mais seria necessário para nos fazer-nos santos.

ORAÇÃO

Dulcíssima Virgem, Mãe de Jesus, divina Maria, quais não foram os vossos sentimentos, quando recebestes em vossas castas entranhas o Verbo Encarnado! Com que transportes de amor não acolhestes o Deus de santidade, feito vosso Filho! Oh! Quanto se não comprazia este Filho amado em habitar na vossa bela alma! Eram suas delícias repousar sobre vosso coração maternal, sobre esse coração tão puro, tão humilde, tão doce, tão caritativo!… Minha Mãe amabilíssima, também eu tenho, a ventura de receber muitas vezes o amável Jesus! Mas ai! Que diferença entre as vossas e as minhas disposições! Como não se horroriza este Deus tão santo de entrar em um coração tão mau, tão ingrato, tão corrompido? Em um coração, (ah! Não posso pensá-lo sem estremecer!) em um coração, que mil vezes tem sido a morada do demônio? Virgem Santíssima, pelo amor de vosso adorável Filho, ajudai-me a preparar-me melhor para a sagrada Comunhão; ponde no meu depravado coração alguma daquela caridade, pureza, humildade e fervor, de o que o vosso é animado; deste modo tereis preparado para Jesus a habitação que Ele deseja.

Agora se faz o Ato após a Meditação

EXEMPLO

Uma cura notável

Sr. Diretor da arquiconfraria de Nossa Senhora das Vitórias

Há oito dias que lhe escrevi, solicitando as orações da Arquiconfraria, por meu netinho gravemente enfermo; hoje de novo me dirijo a V. R.ma pedindo-lhe as mesmas orações, mas em ação de graças à divina Mãe de misericórdia, que se dignou atender as nossas súplicas.

Consinta, Sr. Diretor, que lhe dê alguns pormenores desta milagrosa cura em que se manifesta tão claramente a poderosíssima intercessão de Maria!

Dias antes de ter escrito a V. R.ma tinha eu sido chamada por telegrama a Angoulême, aonde meu netinho agonizava. Deus quis sem dúvida experimentar a inabalável confiança que minha querida filha tem para com a Santíssima Virgem, recompensando-lh’a quase imediatamente com a sua poderosíssima proteção. Foi exatamente na véspera da festa de Nossa Senhora Auxiliadora. A criança passou a noite no meio dos mais cruéis sofrimentos e minha filha julgou por mais de uma vez que lhe ia expirar nos braços!

Num desses momentos de cruel angústia, a pobre mãe, banhada em pranto, recorreu com inteira confiança a Maria, prometendo-lhe que, se o filhinho não morresse naquela noite, faria no dia seguinte o sacrifício de o abandonar por alguns instantes, para ir prostrar-se aos pés do seu altar, numa igreja aonde Ela é mais venerada. Efetivamente a criança nessa noite não morreu, mas na manhã do dia seguinte, sobreveio-lhe uma congestão pulmonar e já principiava a asfixia. O médico declarou então que o menino poucas horas podia viver. Ainda que no auge da sua dor, a pobre mãe não podia esquecer a promessa que tinha feito, e para a cumprir, não hesitou em separar-se do filhinho que julgava não mais encontrar vivo!

Dirigiu-se à igreja e ali, prostrada aos pés da Divina Mãe como boa cristã, ofereceu a Deus o sacrifício da vida do seu único e adorado filho!

Depois foi procurar na santa Mesa, a força e a coragem de que tanto carecia! Apenas acabou de receber o Santíssimo Sacramento pareceu-lhe ouvir no íntimo do coração estas palavras:

“Teu filho está salvo!”

A pobre mãe não podia crer tanta ventura e contudo essa voz insistia!

Animada por súbita esperança, voltou para casa onde a esperava a mais alegre das surpresas! A criança efetivamente estava salva! Salva contra toda a esperança humana! Salva apesar de todas as previsões da ciência!

Fôra a Santíssima Virgem que a salvara atendendo às súplicas da aflita mãe; obteve-lhe de Deus a vida do filhinho querido em recompensa do sacrifício que fez por ele.

Digne-se, Sr. Diretor, publicar o nosso cordial reconhecimento para glória do Coração Imaculado de Maria, e inscrever no catálogo dos associados o nome do menino que há sido objeto deste favor da Mãe do céu, o de seus pais e avôs, pois todos anseiam a honra de pertencer a tão santa e pia associação.

OUTRO EXEMPLO

Testemunho de reconhecimento de um pecador arrependido

Um pobre velho fez ao diretor dar Arquiconfraria da Senhora das Vitórias a seguinte narração, desejando provar assim o seu profundo reconhecimento para com a Santíssima Virgem:

Em 1830, diz ele, depois da revolução de julho, fui obrigado pela força de circunstâncias a deixar o seminário de Versalhes, que acabava de ser dissolvido. Quando mais tarde fui novamente chamado para continuar a vida pura e tranquila de seminarista, não voltei, porque já não me animava o espírito de Deus! As loucas paixões da idade, às quais não soube resistir, fizeram-me preferir a vida militar, e alistei-me num regimento onde um de meus irmãos era capitão.

Um falso amigo, interessado na minha perda, fez-me abandonar as práticas da religião, emprestando-me o péssimo livro de Depuis, A Origem dos Cultos. Nessa época (1833) não havia capelães nos regimentos, e eu, ignorando que esse livro tinha sido vitoriosamente refutado, e não tendo quem me esclarecesse a tal respeito, deixei me levar pelas perversas ideias do seu autor.

Passados 5 anos, voltei para Paris, continuando uma vida desregrada e amargurando de desgostos minha pobre mãe.

A infeliz depois de empregar os recursos que lhe inspirava a sua maternal ternura, vendo que o meu escandaloso procedimento continuava, recorreu com inteira confiança a Nossa Senhora das Vitórias, e a Santíssima Virgem não tardou em provar-lhe que nunca é iludida a esperança dos que nEla confiam!

Foi também nessa época (1842) que teve lugar a milagrosa conversão do judeu Ratisbone, que produziu no meu espírito um profundo abalo, despertando novamente meu coração essa fé viva, tantos anos adormecida pelas más leituras, e que nunca mais se desmentiu!

Quando completei 33 anos contraí matrimônio com uma virtuosa e afável senhora, e fui pai de três crianças, das quais a primogênita era uma menina que batizamos com o doce nome de Maria, em reconhecimento para com a Santíssima Virgem.

Infelizmente minha filha morreu ao completar seis anos, e minha esposa que a amava ternamente, passados apenas alguns meses seguiu-a caminho da eternidade, contente por ir reunir-se no céu ao anjo querido da nossa família.

A morte desses entes estremecidos feriu-me profundamente o coração, mas submeti-me resignado aos altos desígnios da Providência, aceitando todos estes golpes em expiação dos meus crimes!

Mais tarde, conduzido por Nossa Senhora, entrei para a Ordem Terceira da Penitência, de São Francisco e, durante os últimos 20 anos da minha vida, tenho recebido de Deus tantos e tão assinalados favores, que por eles lhe rendo e à sua Santíssima Mãe as mais sinceras e fervorosas ações de graças, pedindo-lhe instantemente que preservem meus filhos e netos dos tristes desvarios que eu, com profundo arrependimento, há 25 anos deploro!

Oxalá que todos os cristãos recorram a Maria Imaculada, evitem as más leituras, causa de todos os meus crimes, e se conservem firmes na fé da sua infância e nela os confirme as maravilhosas conversões de que cada dia há notícia. São estes os mais ardentes desejos de uma alma sinceramente arrependida e profundamente reconhecida a Jesus e Maria por tantos e tão insignes favores com que, apesar da minha indignidade, se hão dignado favorecer-me, chamando-me ao arrependimento e assistindo-me com a sua graça para perseverar até hoje.

LIÇÃO
Sobre a Humildade

A sólida e verdadeira glória consiste em fazermo-nos pequenos; assim o avalia o mesmo Deus.

“Aquele que é entre vós o mais pequeno, esse é o maior”

Esta grandeza é não somente sólida, é também segura: ninguém vo-la disputará nem tratará de vo-la roubar.

Fazendo-vos mais pequeno, vireis a ser maior, porque uma vez convencido de que por vós mesmos nem sois, nem podeis nada, esta convicção vos elevará a Deus, a quem reconheceis por autor de todo o bem.

Então podeis confiar na onipotência de Deus, tanto mais firmemente, quanto mais ele se apraz em fortificar os fracos.

A humildade vos livrará das baixezas, a que reduz a ambição e a soberba.

Que coisa mais intolerável do que um homem dominado da paixão de se exaltar, ou que quer ser absolutamente louvado?

A humildade vos tornará independentes de respeitos humanos, e fará exclamar com o Apóstolo:

“Quanto a mim, pouco me importa que me julgueis: eu só tenho um Juiz, que é Deus”

A humildade fará que olheis com indiferença para as honras do mundo, porque, por entre o seu mesmo resplendor, reconhecereis que não são mais do que ilusão e vaidade.

Ela vos incitará, não a querer ombrear com o próximo, mas sim a honrá-lo; a vê-lo sem mágoa mais elevado do que vós em honras ou estimação.

A humildade parece em certo modo baixa ao homem, que de tudo julga pelos sentidos; todavia nada mais próprio para formar corações nobres e grandes.

Entre todas as virtudes a humildade é a que denota espírito mais firme e alma mais constante.

Ela vos dará os maiores ares de semelhança com Jesus; Homem-Deus, e com Maria, Rainha dos céus, na qual se verificou, por modo bem admirável, o oráculo:

“Todo o que se humilha será exaltado”

Máxima Espiritual

“Deus resiste aos soberbos, e dá a sua graça aos humildes” – Sagrada Escritura

Jaculatória

Virgo prudentíssima, ora pro nobis

Virgem prudentíssima, rogai por nós.

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE

Para o décima dia, mas que deve ler-se no dia nono

Estamos chegados ao fim da primeira dezena do mês de Maria: é amanhã o décimo dia deste mês abençoado. Quanto não teremos sido felizes, se tivermos sido fiéis em tributar todos os dias os nossos cultos à Mãe de Deus, como nos tínhamos proposto! Quanto seu Coração maternal terá sido sensível a estes testemunhos de nosso amor, tantas vezes repetidos! Que tesouro de graças não devemos esperar desta divina Mãe, se continuarmos no decurso de todo este mês a honrá-la e invocá-la com fervor sempre novo! Procuremos pois no dia de amanhã reanimar em nossos corações os sentimentos de confiança e devoção para com a Santíssima Virgem. Poderemos empregar para este fim as seguintes práticas:

1.ª Examinar como temos passado esta primeira dezena do Mês de Maria, e humilhar-nos pelas omissões, de que nos reconhecermos culpados.

2.ª Propôr-nos servir a Mãe de Deus com mais fidelidade durante esta nova dezena, e prever o que faremos para a honrar e para lhe agradar.

3.ª Fazer uma nova distribuição de bilhetes e aplicar-nos com mais zelo à prática da virtude e dos obséquios que nos cair em sorte.

4.ª Fazer no dia de amanhã alguma boa obra extraordinária, tal como uma esmola mais considerável, uma ação de caridade, uma prática de humildade ou mortificação mais contrária à natureza.

5.ª Rezar com particular devoção o Ofício da Santíssima Virgem, ou o da Imaculada Conceição, ou o Rosário, ou a Corôa, ou os sete Gozos, ou qualquer outra oração.

6.ª Comungar amanhã, ou ao menos no domingo próximo, segundo o conselho do confessor, para nos reanimarmos no amor de Jesus e de Maria.

N. B. Esta mesma observação se fará na véspera do vigésimo dia, mudando primeira em segunda dezena, e décimo em vigésimo dia.


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(SILVA, Pe. Martinho António Pereira da. Flores a Maria ou Mês de Maio consagrado à Santíssima Virgem Mãe de Deus. Tipografia Lusitana, Braga, 1895, 7.ª ed., p. 131-142)