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O que nos torna normais

Capítulo 53. O que nos torna normais - Livro Rumo à Felicidade, de Fulton Sheen
SE não tivermos uma ideia clara do que é ser normal, jamais saberemos quando nos afastamos do padrão de saúde mental e moral. E por isso a compreensão de como um ser humano «funciona»… ou deve «funcionar» ajudar-nos-á a dominar-nos a tempo, e a aplicar travão às nossas tendências para a anormalidade.Todo e qualquer movimento humano passa por três fases. Primeiro, há um pensamento. A seguir, uma resposta emocional. Finalmente, um ato.

A ideia vem sempre antes da emoção. As lágrimas da filha não são a causa da morte da mãe; mas é a morte que causa as lágrimas. Assim a mente registra a experiência, conforme vai tomando conhecimento dos acontecimentos que no mundo se desenrolam à volta de nós; depois, como o capitão na ponte de comando de um navio, dá sinal do acontecimento ao corpo que está sob a sua direção, mais ordens dirigidas à cabine das máquinas do navio. O corpo responde com a emoção apropriada.

Podemos comparar o nosso corpo (incluindo as nossas emoções) a instrumentos musicais, nos quais o espírito do homem pode tocar todas as melodias que quiser, porque a espécie de pensamentos que admitirmos na nossa mente, determina a espécie de sentimentos que depois teremos. A tristeza pode causar úlceras, e o pensamento de uma coisa que nos causa medo pode atrair o sangue aos músculos e pô-los em tensão.

As emoções conduzem-nos, normalmente, à ação, e, durante ela, vão perdendo o poder emotivo; porque as ações são a terceira e última fase, tendo sido a ideia a primeira. Mesmo nas mais simples ações, o processo é claro; um espectador, num desafio de futebol, pode desviar o corpo para uma aberta, para melhor ver os jogadores. A ideia da aberta gerou o desejo de a preencher, (a emoção), e a ação do corpo seguiu o desejo e a ideia!

Uma vez que tenhamos este conhecimento, sobretudo acerca de nós mesmos, poderemos usar dos fatos da vida de cada dia. Veremos, imediatamente, o absurdo daqueles que afirmam:

«Não tem importância alguma o modo como se pensa; o que interessa é como se vive»

E a razão é que nós vivemos como pensamos. Se as nossas ideias forem más, também as nossas ações o serão. Desejar o mal é preparar-nos para o fazer.

«Aquele que fixou os olhos numa mulher para a desejar, já cometeu adultério em seu coração»

E se o nosso credo for errôneo, também o nosso comportamento estará viciado pelo erro. Se não encontramos respostas verdadeiras para a questão por que estamos neste mundo e para onde vamos, não poderemos sentir ou agir com certeza ou lógica. O homem que não pensa retamente, não poderá sentir-se feliz, nem agir com retidão, porque a ideia é a origem de tudo o que se sente e faz.

As ideias malsãs, por vezes, insinuam-se através das nossas defesas; podem mesmo atingir a segunda fase do atrativo emocional, antes de as podermos deter. Mas, ordinariamente, podemos surpreender a ideia na sua primeira fase, e, se for errônea ou doentia, devemos sempre tentar bani-la imediatamente do espírito. É sempre melhor estar vigilante desde o primeiro momento, antes de aquela gerar uma emoção: O espírito deve ser tão meticuloso quanto às ideias de que se alimenta, como o estômago o é quanto ao alimento que absorve. Todavia, muita gente que nunca sonhou em se servir à sua mesa de alimento refugado, dá alegremente ao seu espírito, como prato, o refugo da literatura e do cinema.

As ideias e as emoções não devem ser reprimidas… isto é, não devem ser postas fora da percepção interna por medo do pecado, ou pela repugnância em admitir que «alguém como eu» possa ter tais pensamentos. As ideias que vão contra a lei moral e Ideal Cristão devem ser repelidas do espírito calmamente, e sem nos perturbarmos mais que, quando rejeitamos um pedaço de alimento indigesto que nos foi oferecido.

Se uma ideia não atinge a fase emocional, ainda a podemos dominar sem a reprimir (o que é perigoso) e sem a exprimir em ações (o que é ordinariamente mau). Podemos, também, aproveitar-nos da energia emotiva, que a ideia gerou em nós, mas em sentido oposto, de tal maneira que se transforme numa força de bem.

Suponhamos, por exemplo, que o empregado de um banco tem uma forte tentação de roubar, e que sente o coração a bater, na previsão dos prazeres que o roubo lhe granjeará. Se se demorar na ideia com temor mórbido, paralisará todas as suas ações normais. Se ceder à tentação, acabará por contrair o hábito, porque «um apetite aumenta com o alimento que se lhe dá». Mas há uma saída: pode canalizar a sua energia para um fim útil. Em vez de deixar a mente arquitetar métodos de defraudar o banco, pode consumir a mesma energia mental para aumentar a sua eficiência no trabalho, e, por fim, ganhar honestamente o dinheiro que começara por cobiçar.

A melhor maneira de destruir os maus pensamentos é multiplicar os bons pensamentos, assim como os amores perversos serão aniquilados por um amor mais intenso do bem. São Paulo diz:

«Não vos deixeis vencer pelo mal, mas vencei o mal pelo bem»

O mal não deve ser combatido de frente, contando apenas com a força nua da vontade; o melhor é atacá-lo de flanco, desalojá-lo por uma bondade mais intensa, por um maior amor de Deus. Um espírito repleto de ideias de amor e beleza pouco espaço tem para pensamentos maus.

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(SHEEN, Dom Fulton. Rumo à Felicidade – WAY TO HAPPINESS. Tradução de Dr. A. J. Alves das Neves, pároco de São Pedro da Cova. Livraria Figueirinhas, Porto, 1956, p. 214-217)