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Amor maior que Fronteiras!

Dom Henrique Soares da Costa
Reze o Salmo 119/118,25-32
Agora, leia com piedade e coração que escuta na fé Dt 2.

1«Partimos dali, dirigindo-nos para o deserto, a caminho do mar de Suf, como o SENHOR me tinha ordenado, e contornámos, durante muito tempo, o monte Seir. 2Depois, o SENHOR falou-me: 3 “Há muito que andais à volta desta montanha; dirigi-vos para norte. 4Ordena ao povo: ‘Atravessai o território de vossos irmãos, os filhos de Esaú, que habitam em Seir. Eles têm medo de vós, mas vós tende muito cuidado: 5não os ataqueis, porque nada vos darei da terra deles, nem mesmo a medida de um pé, pois dei em propriedade a Esaú a montanha de Seir. 6Comprar-lhes-eis com dinheiro os alimentos para comer e pagar-lhes-eis com dinheiro até a própria água para beberdes. 7Em verdade, o SENHOR, teu Deus, abençoou-te em todas as tuas empresas e conhece a tua marcha através deste deserto imenso. Há quarenta anos que o SENHOR, teu Deus, está contigo, e nada te faltou.’”

8Afastámo-nos, assim, dos nossos irmãos, os filhos de Esaú, que habitam em Seir, pelo caminho da Arabá, desde Elat e Ecion-Guéber. Mudando de direcção, seguimos o caminho do deserto de Moab. 9Então, o SENHOR disse-me: ‘Não importunes os moabitas e não entres em combate com eles, pois nada te darei do seu país. Aos filhos de Lot é que Eu dei a cidade de Ar em propriedade. 10Outrora viviam ali os emitas. Eram um povo grande, numeroso e de alta estatura, como os anaquitas. 11Também os refaítas eram considerados como anaquitas, mas os moabitas chamavam-lhes emitas. 12Em Seir tinham habitado outrora os horritas, mas foram desalojados pelos filhos de Esaú, que os exterminaram, ocupando o lugar deles, como fez Israel ao país que o SENHOR lhe deu em propriedade. 13Em frente, pois; atravessai a torrente de Zéred!’

Passámos a torrente de Zéred. 14A duração da nossa viagem, desde que saímos de Cadés-Barnea até passarmos a torrente de Zéred, foi de trinta e oito anos, de modo que toda a geração dos homens de guerra desapareceu do acampamento, como o SENHOR lhes tinha jurado. 15A própria mão do SENHOR caíra sobre eles, eliminando-os do acampamento até à sua completa destruição. 16Depois de todos os homens de guerra terem morrido, desaparecendo do meio do seu povo, 17o SENHOR disse-me: 18 ‘Hoje vais atravessar os confins de Moab, em Ar. 19Irás encontrar-te em frente dos amonitas. Não os ataques nem os provoques, porque não te darei em propriedade nenhuma terra dos filhos de Amon. Foi aos filhos de Lot que a dei em propriedade.’

20Esta terra era também considerada terra dos refaítas. Os refaítas tinham outrora vivido ali e os amonitas chamavam-lhes zamezumitas, 21povo grande, numeroso e de alta estatura como os anaquitas. Mas o SENHOR exterminou-os diante dos amonitas, que os venceram e ocuparam o lugar deles. 22O mesmo fizera o SENHOR pelos filhos de Esaú, que habitavam em Seir; Ele exterminara os horritas e eles os desalojaram, ocupando o lugar deles até ao dia de hoje. 23Também os heveus, que habitavam nas aldeias até Gaza, foram destruídos pelos caftoritas, descendentes de Caftor, que se estabeleceram no lugar que eles habitavam.»

24«Levantai-vos, ponde-vos em marcha e passai a torrente do Arnon. Repara que entrego nas tuas mãos, Seon, rei de Hesbon, o amorreu, e o seu país. Começa a conquista e trava combate com ele! 25De hoje em diante, começarei a fazer com que tenham terror e temor de ti todos os povos que há debaixo do céu, os quais, ao ouvirem o teu nome, tremerão e encher-se-ão de pânico diante de ti!»

26«Do deserto de Quedemot enviei emissários a Seon, rei de Hesbon, com palavras de paz: 27 ‘Deixa-me passar pelo teu país. Seguirei sempre pelo caminho, sem me desviar para a direita nem para a esquerda. 28Vender-me-ás a dinheiro os víveres para eu comer e dar-me-ás por dinheiro a água para eu beber. Mas deixa-me passar a pé, 29como fizeram os filhos de Esaú, que habitam em Seir, e os moabitas, que habitam em Ar, para atravessarmos até ao Jordão em direcção à terra que o SENHOR, nosso Deus, nos vai dar.’ 30Mas Seon, rei de Hesbon, não consentiu que passássemos, porque o SENHOR, teu Deus, obcecou-lhe o espírito e endureceu-lhe o coração, a fim de o entregar nas tuas mãos, como sucede ainda hoje. 31O SENHOR disse-me então: ‘Vê, estou disposto a entregar-te Seon e a sua terra. Inicia a conquista e apodera-te da sua terra.’ 32Seon saiu ao nosso encontro com todo o seu povo para nos dar combate em Jaça. 33Porém, o SENHOR, nosso Deus, entregou-no-lo e nós derrotámo-lo, assim como aos seus filhos e a todo o seu povo.

34Tomámos, então, todas as suas cidades e votámos à destruição todas as cidades, homens, mulheres e crianças, sem deixar um sobrevivente. 35Só ficámos com o gado e com os despojos das cidades que conquistámos. 36Desde Aroer, que fica junto do rio Arnon, e a cidade situada nesse vale, até Guilead, não houve um único lugar que nos resistisse; tudo o SENHOR, nosso Deus, nos entregou. 37Apenas deixaste intacta a terra dos amonitas: toda a bacia da torrente do Jaboc, as cidades da montanha e tudo o que o SENHOR, nosso Deus, tinha mandado.»

1. Terminamos a meditação passada com o pranto de Israel diante da derrota contra os seus adversário; e o Senhor não escutou o Seu povo: queria educá-lo com um duro castigo!

Começamos, agora com o capítulo 2. Logo no v. 1, a triste constatação:

“Viramo-nos, pois, partindo para o deserto…”

Israel teve que obedecer. Pelo sofrimento da derrota, o povo não teve outra opção a não ser voltar para o duro é tremendo deserto, onde passará quase quarenta anos, suportando o peso da sentença do Eterno: todos os adultos daquela geração desobediente morreriam no deserto (cf. vv. 1.14-15)! Não se brinca com o Senhor!

Pense: Você leva, realmente, o Senhor a sério? Como procura viver os Seus preceitos, expressos na moral cristã, tal como a Igreja, sustentada pelo Santo Espírito, os ensina e sempre ensinou?

Reze o Salmo 77/76. Que o Senhor nos dê um coração para escutá-Lo, para conhecê-Lo, para obedecer-Lhe e reconhecê-Lo, de verdade como o nosso Deus!

2. Neste capítulo 2, aparece um outro tema importante: o Senhor, Deus de Israel, é rei e senhor de todos os povos, cuida de todos os povos e a todos guarda e dirige na Sua providência (vv. 4-6.9.17-25). Se Ele tem a Israel por Seu povo, se com ele fez aliança, isto não significa que o Senhor Deus despreze as demais nações da terra. Já no chamado de Abraão para formar Israel, o Santo tinha em vista a bênção para toda a humanidade:

“Por ti serão benditos todos os clãs da terra” (Gn 12,3)

De fato, “com juramento Deus lhe prometeu abençoar todas as nações em sua descendência” (Eclo 44,21). Assim, o cuidado do Senhor Deus abrange todos os povos, toda a Sua criação! A escolha de Israel não é exclusiva, não nega o amor do Eterno pelos outros povos; apenas afirma a livre e gratuita preferência de Deus pelo Seu Povo e também o sentido da existência da vocação de Israel: estar a serviço da salvação de todos os povos, no Antigo Testamento, como povo sacerdotal e, no Novo Testamento, como povo que deu ao mundo o Salvador de todos os povos.

Tudo isto nos ajuda a compreender como o Novo Povo de Deus, que é a Igreja, é um mistério de eleição amorosa, mas não significa que o Senhor somente tenha amor pelos católicos ou mesmo só pelos cristãos! O Seu amor é maior que nossas fronteiras, é mais amplo que nossos egoísmos e preconceitos, é infinito como o Seu Coração:

“O Senhor é grande, muito além das fronteiras de Israel” (Ml 1,5)

Leia e reze Sb 1,13-15; 11,21-26. Como o antigo Israel e mais que o antigo Israel, a Igreja, povo escolhido amado, deve estar em função da salvação de toda a humanidade, que é, toda ela, amada pelo Senhor. Leia Mt 28,16-20; At 1,8; Ef 3,4-6.

Certamente, o Senhor julgará a terra inteira e o desejo de Deus é que todos O conheçam e a Ele, pelo Seu Cristo, se convertam e passem a fazer parte da Igreja una, santa, católica e apostólica. Mas, independente disto, o Senhor ama a todos e de todos cuida. Um cristão jamais deveria ser fechado ou azedo em relação aos não-cristãos! Reze o Sl 96/95.

3. Mas, permanece este fato maravilhoso: ainda que ame a todos os povos, Deus escolheu a Israel, Deus o amou de um modo único: “Quando Israel era menino, Eu o amei!” (Os 11,1); “Eu te amei com amor eterno, por isso reservei para ti o amor!” (Jr 31,3). Amor gratuito, o de Deus! O Senhor é o cuidador de Israel: nada lhe falta! Releia o v. 7. São palavras dirigidas a Israel – e ao Novo Israel, que é a Igreja -; são palavras dirigidas a você! Releia-as, escute-as, deixe que o Santo Espírito o convença desta maravilhosa e misteriosa realidade! Reze…

4. Dos vv. 24-37 Moisés recorda a conquista dos amorreus, súditos de Seon… Para a nossa mentalidade, não é fácil compreender como Deus entrega um povo para ser derrotado e conquistado por outro, ainda que seja o Seu Povo! Mas, aqui, é necessário compreender que, para os crentes, todas as coisas estão nas mãos de Deus e são conduzidas de um modo que somente Ele compreende, na Sua infinita sabedoria e providência! Nas suas derrotas e nas suas vitórias, na sua paz e nas suas lutas, Israel via a presença de Deus… Ainda hoje, todo aquele que crê é chamado a ver Deus em todas as coisas! Foi assim que Israel fez… Leia e medite Eclo 18,1-13… Quanto é grande o Senhor! Como são misteriosos os Seus caminhos!

5. Outro aspecto que choca é a ordem de Deus, muitas vezes presente no Antigo Testamento, para que se extermine os povos vencidos. Como explicar tal crueldade? Como compreender isto?

Primeiro, do ponto de vista estritamente histórico, é preciso recordar que a Escritura não é um conjunto de textos de história no sentido científico, mas sim a leitura teológica, religiosa da história do povo de Israel na suas relações com o seu Deus, o Senhor. Depois, é indispensável saber que esses textos foram colocados na sua forma escrita final muitos séculos depois dos acontecimentos, quando os eventos aos quais se referiam já havia sido contados e recontados oralmente, geração após geração, sempre ressaltando o sentido religioso, teológico.

As guerras de Israel, por serem guerras contra os pagãos, os idólatras, que ameaçavam seja a existência de Israel, seja a pureza da sua religião, eram consideradas guerras santas, guerras do Senhor contra os ídolos e os servos dos ídolos. Por isso mesmo, nestas narrativas, os derrotados eram considerados anátemas: tudo quanto tinham e tudo quanto eram deveria ser exterminado… Este é o modo duro, grosseiro, de incutir aquelas palavras radicais de Jesus nosso Senhor:

“Se tua mão ou teu pé te escandalizam, corta-os…” (cf. Mt 18,8s)

Neste sentido, é bom recordar que todo o percurso histórico de Israel, da Igreja e do cristão é visto como um combate contra o Maligno e suas forças.

Então, já não sabemos com precisão histórica e detalhada como eram as guerras de Israel. Sabemos sim, que existia, entre os povos do Antigo Oriente, o costume da guerra santa chamada herem, que votava ao anátema os derrotados. É este costume que aparece nos textos antigos das Escrituras de Israel. Mas, o sentido que os autores sagrados davam a tais guerras e a tais narrativas era de cunho espiritual. O fato histórico mesmo, cru, já não sabemos nem temos como saber com precisão. Só para que se tenha uma ideia, estes textos do Deuteronômio como o temos hoje são, em sua maioria, dos séculos VII-VI a.C. e meditam religiosamente sobre fatos ocorridos provavelmente lá pelo século XIII a.C. Então, uma diferença de cerca de 600 anos entre os fatos e os relatos colocados por escrito… Nunca esqueça de que as Escrituras não estão interessadas primeiro em informar por informar, jornalisticamente, e muito menos fazê-lo cientificamente, mas em formar a consciência religiosa dos fieis!

Portanto, as guerras de Israel são as guerras da Igreja, são as nossas guerras!

Leia e reze os Salmos 2 e 124/123.