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História da Igreja 5ª Época: Capítulo VIII

Perseguição em Roma

Declarada a destronização do Papa, os comissários franceses se apoderaram de sua pessoa e deram começo ao saque do palácio pontifício. As bibliotecas preciosas e raras ali existentes, foram vendidas por preço vil depois de terem sido quebradas as estantes e armários que as continham. Vendo-se burlados por não achar o ouro, nem as joias que ali esperavam encontrar, apresenta-se o calvinista Haller ao Papa e diz-lhe em tom de ameaça:

“A república romana vos intima que me entregueis já vossos tesouros: dai-mos pois”

– “Eu não possuo tesouro algum”

“Não ostentais dois formosos anéis nesse dedo?”

Entregou-lhe um deles o Papa, dizendo-lhe:

“Não posso entregar-vos o outro, porque deve passar a meus sucessores”

Eram o anel do pescador que costumam usar os Papas para firmar ou selar os papéis de maior importância. Mas foi necessário que também fizesse entrega dele. Os cardeais, os bispos e outros prelados foram encarcerados ou desterrados. assim a Igreja Romana insultada em seu chefe e em seus membros, achava-se exposta a uma perseguição tão injusta como cruel; e em vez de se ouvirem em Roma as glórias de Deus, como quando se achava em poder do Papa, viam-se em suas ruas procissões obscenas, e se cantavam hinos à mais desenfreada licença.

Rapto e padecimentos de Pio VI

O perseguido, porém sempre grande Pontífice, em vista de sua avançada idade de 80 anos, de sua saúde alquebrada e de suas doenças, deixava entrever um grande desejo de morrer em Roma, e não queria obedecer à ordem de partir. Mas o bárbaro Haller replicava:

“Eu não ouço razão nem pretexto algum. Se não quiserdes partir por amor, vos faremos partir por força”

Na espantosa noite de 28 de fevereiro de 1798, durante uma horrenda tempestade, encerrado em miserável carro, privado de seus ministros e entregue em mãos de dois comissários, o Papa foi tirado secretamente de Roma para não voltar mais. Levaram-no primeiramente a Monterosso, depois a Viterbo, dali a Sena, e finalmente a um convento de Cartuxos perto de Florença. Era conduzido escravo por seus inimigos, os quais buscavam todos os meios para que não fosse conhecido. Sem embargo, por todas as partes onde passava recebia as mesmas honras como se o levassem em triunfo. Sacerdotes e leigos, ricos e pobres, homens e mulheres, velhos e moços, sãos e enfermos, ocupavam em todas as partes, campos e caminhos, subiam às árvores, e com as mãos juntas e de joelhos pediam a bênção ao glorioso prisioneiro. Visitaram-no na Cartuxa de Florença o rei Manoel IV e a venerável Clotilde, rainha de Sardenha. Ambos se ajoelharam a seus pés, apesar dos esforços que fizera o Papa para levantá-los.

“Neste ditoso momento: disse o rei, eu esqueço todas as minhas desgraças, já não me queixo de ter perdido o trono; tudo eu encontro a vossos pés”

“Querido príncipe, respon­deu o Papa, tudo é vaidade exceto amar e servir a Deus. Levantemos, nossos olhos para o céu; ali nos esperam tronos que nos não poderão tirar”

“Vin­de conosco à Sardenha, dizia-lhe a piedosa rainha, ali encontrareis em vossos filhos o respeito que merece tão terno Pai”

Porém, como podia livrar­-se das mãos daqueles ladrões? A 27 de março de 1799, tiram o Papa de Florença e levam-no, durante quatro meses seguidos, de aldeia em aldeia, passando montes e pousando em cabanas, à mercê de uns homens que lhe faziam padecer toda espécie de martírios. Perto de Turim viu-se o carro obrigado a estacar, pois lhe estorvara o passo a multidão de fiéis que acudia a receber a bênção Papal. Os desnaturados comissários franceses que o acompanhavam, quiseram que continuasse a viagem, ainda que por um ataque de paralisia ficasse já imóvel a metade de seu corpo. Finalmente a 14 de julho chegou a Valença, termo de sua viagem, lugar de sua prisão e fim de sua vida.

Morte de Pio VI

Depois de tantas viagens e fadigas, depois de tantos trabalhos e insultos, de tantos transtornos, devia receber este ilustre mártir a recompensa devida a seus padecimentos. O arcebispo Spina, ao aproximar-se para administrar-lhe o santo Viático, perguntou-lhe se em presença de Jesus Cristo perdoava a seus inimigos. Ao ouvir estas palavras, o santo pontífice levantou seus olhos para o céu, e fitando-os logo em um crucifixo que sempre tinha em sua mão:

“De todo coração, respondeu, de todo coração”

E chamando em seu derredor todas as pessoas da casa, abençoou-as enquanto se achavam de joelhos e chorosos, com a tríplice e última bênção. Pediu que lessem as orações dos agonizantes, que acompanhou devotamente. Conservando sempre a mesma serenidade de rosto, dormiu no Senhor aos 81 anos de idade, a 29 de agosto de 1799, depois de 24 anos e meio de pontificado. Quando se espalhou a notícia de sua morte, correu o povo, em massa, à capela onde se achava o cadáver. Todos queriam possuir alguma coisa que tivesse pertencido ao santo Pontífice. Buscavam com avidez suas vestes, seus cabelos e outros objetos que lhe haviam pertencido e, não, encontrando já coisa alguma, punham sobre o féretro medalhas, véus, paninhos, livros, rosários, e os levavam para suas casas como relíquias. Entre as orações, os votos, a alegria e tristeza ouvia-se exclamar por toda parte:

“É um mártir! É um mártir!”

Em seu sepulcro escreveram o seguinte epitáfio:

AQUI JAZ PIO VI PONTÍFICE MÁXIMO CHAMADO NO SÉCULO JOÃO ANGELO DE CESENA O QUAL NA DURAÇÃO DO PONTIFICADO EXCEDEU A TODOS OS OUTROS PONTÍFICES GOVERNOU A IGREJA XXIV ANOS, VI MESES E XIV DIAS SANTAMENTE MORREU EM VALENÇA EM UMA FORTALEZA ONDE ESTAVA GUARDADO COMO PRISIONEIRO DOS FRANCESES, HOMEM DE MARAVILHOSA FORÇA DE ANIMO E DE CONSTÂNCIA EM VENCER OS MAIS PENOSOS TRABALHOS.

Regras Disciplinares da Quinta Época

No século XVI publicou Paulo IV um índice dos livros proibidos. São Pio V ordenou que todos os anos no primeiro domingo de outubro se celebrasse a festa do Santíssimo Rosário. Gregório VII empreendeu a correção do calendário Romano, deixando onze dias no mês de outubro do ano 1582. Isto fez, porque não se havia observado até então com suficiente precisão, que nosso globo emprega em dar sua volta anual ao redor do sol 365 dias e 6 horas menos alguns minutos; depois de alguns séculos a soma destes minutos chegou a formar 11 dias a mais, e o ano já não ia de acordo com a revolução do nosso globo. Por isto se transportou o equinócio da primavera de 11 a 21 de março. Desde então todo o mundo cristão, excetuando a Rússia, começou a usar o calendário gregoriano. Urbano VIII reduziu o breviário a melhor forma e deu aos cardeais o título de eminência. Clemente XIII, no ano de 1759, ordenou que nos domingos que não tivessem prefácio próprio, se dissesse o da Santíssima Trindade.