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Paixão de Cristo

Paixão de Cristo

Compilação de Meditações sobre a Paixão de Cristo escritas pelos Santos e teólogos brilhantes ao longo destes anos de Igreja Católica!

Ignomínias que Jesus sofreu na sua paixão

As maiores ignomínias que Jesus sofreu foram as que suportou na sua morte. Primeiramente sofreu a ignomínia de ver-se abandonado por seus amados discípulos, dos quais um o traiu, outro o renegou, e todos eles fugiram e abandonaram Jesus, quando ele foi preso (Mc 14,50). Depois, foi apresentado a Pilatos como um malfeitor que merecia ser crucificado (Jo 18,30). Em seguida, foi por Herodes escarnecido como louco e revestido de uma túnica branca (Lc 23,11). Barrabás foi-lhe preferido, o ladrão homicida, tendo Pilatos cedido aos gritos dos judeus (Jo 18,40). Foi flagelado como escravo, pois esse castigo era reservado aos escravos (Jo 19,1). Foi escarnecido como rei de burla, depois de haverem-no coroado de espinhos por zombaria e saudado como rei, cuspindo-lhe no rosto (Mt 27,29). Finalmente, foi condenado a morrer no meio de dois celerados, como Isaías já o dissera (Is 53,12). Expirando na cruz, sujeitou-se à morte mais ignominiosa, à qual só os malfeitores eram condenados naqueles tempos, e por isso entre os judeus era tido por amaldiçoado por Deus e pelos homens o que morria crucificado (Dt 21,23). Assim escreve o Apóstolo:

“Foi feito por nós maldição, porque está escrito: Amaldiçoado é todo aquele que é suspenso no lenho” (Gl 3,13).

Vida desolada de Jesus Cristo

A vida de nosso amante Redentor foi toda desolada e privada de todo o conforto. Sua vida foi aquele grande mar inteiramente amargo sem nenhuma gota de doçura ou consolação:

“Grande como o mar é a tua dor” (Lm 2,13).

O Senhor revelou um dia a Santa Margarida de Cortona que durante sua vida inteira não experimentou uma só consolação sensível. A tristeza que ele experimentou no jardim de Getsêmani era tão grande, que bastaria para tirar-lhe a vida, e essa tristeza ele não a sofreu só, então, mas o afligiu sempre desde o primeiro instante de sua encarnação, pois todas as penas e ignomínias que ele deveria suportar até à morte lhe estavam sempre presentes.

Jesus tratado como último dos homens

“Nós o vimos... desprezado e como o último dos homens, como o homem das dores” (Is 53,2).

Foi uma vez vista na terra este grande portento: o Filho de Deus, o rei do céu, o senhor do universo, desprezado como o mais vil de todos os homens. Diz Santo Anselmo que Jesus Cristo na terra quis ser tão desprezado e humilhado que os desprezos e as humilhações que ele recebeu não podiam ser maiores. Ele foi tratado como desprezível: “Não é este o filho do carpinteiro?” (Mt 13,55); foi postergado por sua origem: “De Nazaré pode vir alguma coisa boa?” (Jo 1,46); foi tido por louco: “Tem demônio e perdeu o juízo; por que o estais ouvindo?” (Jo 10,20); foi considerado como um glutão e amigo do vinho: “Eis um homem comilão e que bebe vinho” (Lc 7,34); foi julgado feiticeiro: “É em nome do príncipe dos demônios que ele expele os demônios” (Mt 9,34); passou por herético: “Não dissemos com toda a razão que és um samaritano?” (Jo 8,48).

Jesus, o homem das dores

“Varão das dores e experimentado nas enfermidades” (Is 53,3).

Assim o profeta Isaías descreve nosso Redentor. Salviano, considerando os padecimentos de Jesus Cristo, escreve:

“Ó amor, não sei como hei de chamar-te, se doce, se cruel, pois pareces ser ambas as coisas”.

Ó amor de meu Jesus, não sei como hei de apelar-te: mui doce vos mostrastes para conosco, ó Jesus, amando-nos tanto depois de tantas ingratidões, e mui cruel para convosco mesmo, sobrecarregando-vos com uma vida cheia de dores e uma morte amarga para pagar os nossos pecados. Santo Tomás escreve que Jesus para salvar-nos do inferno se submeteu à dor em grau máximo, ao vitupério em grau supremo. Bastaria que ele sofresse qualquer dor para satisfazer por nós a justiça divina; quis, porém, sofrer as injúrias mais vis e as dores mais agudas para nos fazer compreender a malícia de nossas culpas e o amor que nutria por nós em seu coração.

Quão grande é a obrigação que temos de amar Jesus Cristo

“Não te esqueças nunca da graça que te fez o que ficou por teu fiador, porque ele expôs a sua alma por ti” (Eclo 29,20).

Comumente entendem os intérpretes por tal fiador a Jesus Cristo, que, vendo-nos incapazes de satisfazer a justiça divina por nossos pecados, se ofereceu voluntariamente a pagar por nós, e de fato pagou as nossas dívidas com seu sangue e com sua morte. Não era suficiente o sacrifício das vidas de todos os homens para compensar as injúrias feitas por nós à divina Majestade; era necessário que a ofensa feita a um Deus fosse satisfeita só mesmo por um Deus, o que realizou Jesus Cristo:

“Em tanto Jesus foi feito fiador de melhor aliança” (Hb 7,22).

Nosso Salvador, pagando pelo homem como fiador com seu sangue, obtém-lhe por seus merecimentos a graça de contrair um novo pacto com Deus, de lhe ser concedida a graça e a vida eterna se ele observar a lei divina. E este acordo Jesus como ratifica na instituição da Eucaristia, dizendo:

“Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue” (1Cor 11,25).

Com isso ele queria significar que aquele cálice com seu sangue era o instrumento ou a escritura de segurança pela qual se firmava um novo pacto entre Deus e Jesus Cristo, por meio do qual se concedia a graça e a vida eterna a todos os homens que lhe permanecem fiéis.

A Paixão de Jesus Cristo é a nossa consolação

Quem poderá consolar-nos mais neste vale de lágrimas do que Jesus crucificado? Nos remorsos de consciência que nos causa a recordação de nossos pecados, o que é que pode unicamente acalmar as aflições que então experimentamos senão o saber que Jesus Cristo quis entregar-se a si mesmo à morte para pagar as nossas culpas?

“Entregou-se a si mesmo por nossos pecados” (Gl 1,4).

Em todas as perseguições, calúnias, desprezos, privações de bens e de honras que sofremos nesta vida, quem é que melhor nos pode fortalecer para sofrermos com paciência e resignação, senão Jesus Cristo desprezado, caluniado e pobre, que morre nu e abandonado de todos em uma cruz? Nas enfermidades, que coisa há que mais nos console do que a vista de Jesus crucificado? Quando nos achamos doentes, repousamos num leito bem cômodo; mas Jesus, quando na cruz, onde devia morrer, teve por leito um tosco de madeiro, no qual esteve suspenso por três cravos, e por travesseiro, para apoiar a cabeça ferida, aquela coroa de espinhos que não cessou de o atormentar até à morte. Quando estamos enfermos, temos ao redor do leito parentes e amigos que se compadecem de nós e nos procuram distrair; Jesus morre no meio de inimigos que, mesmo na ocasião em que ele agonizava e estava a expirar, o injuriavam e escarneciam, dando-o como um malfeitor e sedutor. Nada há, certamente, como a vista de Jesus crucificado para aliviar um enfermo nos seus sofrimentos, especialmente quando ele se vê abandonado pelos outros na sua doença. Unir então as suas penas com as de Jesus Cristo é o maior alívio que pode experimentar um pobre enfermo.

Maria assiste à morte de Jesus na cruz

Meditação XV. Para o Sábado Santo

1.Estava, porém, junto à cruz de Jesus sua Mãe” (Jo 19,25). Consideremos nesta rainha dos mártires uma espécie de martírio mais cruel que todo outro martírio, uma mãe vendo morrer um filho inocente, justiçado num patíbulo infame: “Estava em pé”. Desde a hora em que Jesus foi preso no horto, os discípulos o abandonaram; não, porém, sua Mãe: ela o assiste até vê-lo expirar diante de seus olhos. “Estava junto dele”. As mães fogem quando vêem seus filhos padecendo e não os podem socorrer: estariam prontas a sofrer as dores em lugar dos filhos, mas quando os vêem padecer sem poder auxiliá-los, não suportam tal pena e por isso fogem e vão para longe. Maria, não; ela vê o Filho no meio dos tormentos, vê que as dores lhe roubam a vida, mas não foge, nem se afasta, antes se encosta à cruz na qual o Filho está morrendo. Ó Mãe das dores, não me desdenheis e permiti que vos faça companhia na morte do vosso e do meu Jesus.

Jesus morto pendente da cruz

Meditação XIV. Para a Sexta-feira Santa

1. Minha alma, levanta os olhos e contempla aquele crucificado. Contempla o Cordeiro divino já sacrificado sobre o altar da dor. Reflete que ele é o Filho dileto do eterno Pai e que morreu pelo amor que te consagrou. Vê como tem os braços estendidos para abraçar-te, a cabeça inclinada para dar-te o ósculo da paz, o lado aberto para receber-te no seu coração. Que dizes? Merece ou não ser amado um Deus tão amoroso? Ouve o que ele te diz daquela cruz: Vê, filho, se existe no mundo quem tenha te amado mais do que eu. Não, meu Deus, não há no mundo quem tenha te amado mais do que eu. Não, meu Deus, não há no mundo quem me tenha amado mais do que vós. Mas que poderei dar em retorno a um Deus que quis morrer por mim? Que amor de uma criatura poderá jamais compensar o amor de seu criador morto para conquistar o seu amor?

Jesus morre na cruz

Meditação XIII. Para a Quinta-feira Santa

1. Eis que o Salvador está prestes a morrer. Contempla, minha alma, aqueles belos olhos que se obscurecem, aquela face já pálida, aquele coração que palpita lentamente, aquele sagrado corpo que já se entrega à morte. Tendo Jesus experimentado o vinagre disse: “Tudo está consumado” (Jo 19,30). Põe ainda uma vez diante dos olhos todos os padecimentos sofridos durante sua vida, pobreza, desprezos, dores e, oferecendo então tudo a seu eterno Pai, disse: Tudo está consumado. Meu Pai, eis já completa a redenção do mundo com o sacrifício de minha vida. E voltando-se para nós, como para que respondamos, repete: Tudo está consumado, como se dissesse: Ó homens, amai-me, porque eu fiz tudo e nada mais tenho a fazer para conquistar o vosso amor.

Palavras de Jesus na cruz

Meditação XII. Para a Quarta-feira Santa

1. Enquanto Jesus é ultrajado na cruz por aquela gente bárbara, ele suplica por eles e diz:

“Meu Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34).

Ó Pai eterno, ouvi vosso Filho bem amado, que, morrendo, vos roga que me perdoeis também a mim, que tantas vezes vos ofendi. Depois Jesus, voltando-se para o bom ladrão que lhe pede perdão, diz:

“Hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,46).

Oh, como é verdade o que diz o Senhor por Ezequiel que, quando um pecador se arrepende de suas culpas, ele se esquece, por assim dizer, de todas as ofensas que lhe foram feitas:

“Se, porém, o ímpio fizer penitência... não me recordarei mais de todas as suas iniqüidades” (Ez 18,21).

Oh! se eu nunca vos tivesse ofendido, ó meu Jesus; mas, visto que o mal está feito, esquecei-vos, eu vos suplico, dos desgostos que vos dei e, por aquela morte tão cruel que sofrestes por mim, levai-me ao vosso reino depois de minha morte e, enquanto eu vivo, fazei que o vosso amor reine sempre em minha alma.