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Obrigação, glória e felicidade do serviço de Deus

Meditação para a Sexta-feira da Septuagésima. Obrigação, glória e felicidade do serviço de Deus

Meditação para a Sexta-feira da Septuagésima

SUMARIO

Reduziremos a três palavras as nossas meditações da semana: ser todo de Deus, é um dever, é uma glória, é uma felicidade.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De sacrificarmos a Deus as menores afeições que pudermos descobrir em nós;

2.° De repetirmos muitas vezes, em forma de oração jaculatória: Todo de Deus só, todo para Deus só.

O nosso ramalhete espiritual será as palavras do Salmista:

“Que há para mim no céu, e que desejei eu sobre a terra, senão a vós, ó Deus, que sois o Deus do meu coração, e a minha pertença por toda a eternidade?” – Qui mihi est in caelo, et a te quid volui super terram… Deus cordis mei, et pars mea Deus in aeternum? (Sl 72, 25-26)

Meditação para o Dia

Adoremos a Deus como o ente infinitamente amável, unicamente amável, ao qual é justo, honroso, e extremamente vantajoso afeiçoar-nos (1). Sim, meu Deus, ser de Vós só, ser todo Vosso, pertencer-Vos sempre, é um dever, é uma glória, é uma felicidade.

PRIMEIRO PONTO

Ser todo de Deus é um dever

É um dever de justiça, pois que todo o nosso ser é dEle e para Ele; é um dever de reconhecimento, pois que não existimos senão pelos Seus benefícios; é um dever de consciência, pois que nada podemos subtrair-Lhe, sem que  a consciência nos diga que não temos razão. É um dever de honra e de delicadeza, pois que, se Deus se digna, em atenção à nossa fraqueza, deixar muitas vezes na classe dos conselhos, e não apartar o que deseja de nós, até fazer disso um mandamento expresso, deve ser para nós um motivo de nos mostrarmos generosos no Seu serviço, e de fazer por Ele o mais e o melhor, possível; não porque devamos perturbar-nos das nossas faltas de fidelidade ao que não é de preceito, e encher-nos de escrúpulos; mas devemos envergonhar-nos disso diante de Deus, e reparar os descuidos passados com uma fidelidade maior.

SECUNDO PONTO

Ser todo de Deus é uma glória

Ceder uma parte do nosso coração e do nosso tempo para servir as criaturas, o mundo, as paixões ou as más inclinações, é uma vergonha, uma degradação da dignidade do homem e do caráter do cristão. A verdadeira glória consiste em elevar todas as nossas intenções até Deus, nosso sublime fim, sem jamais descer até à criatura. Entre os homens, tem-se por honroso trabalhar somente para reis; e nós devemos ter por honroso trabalhar unicamente para Deus. Somos muito grandes para trabalhar para o mundo; o mundo passará, e nós nunca passaremos (2). Somos filhos de Deus, da linhagem de Deus (3); os amigos, os confidentes, os prediletos de Deus; e em uma tão alta posição, não devemos abater-nos até obrar para um fim abaixo de Deus. A nossa vocação é imitar a Deus, obrar em Deus, viver com Deus; ora Deus não se propõe senão a Ele só como fim de tudo o que faz. A nossa glória é permanecer nesta altura, e não descer até aos intuitos pequenos e vis das criaturas. Que vergonha para nós decairmos do nosso sublime destino! Tenhamos, pois, para o futuro mais nobreza, e nada façamos que não seja para Deus.

TERCEIRO PONTO

Ser todo de Deus é uma felicidade

Por pouco que olhemos a outro fim que não seja só Deus, somos desgraçados; e uma ninharia, que falte, envenena tudo o mais. Ainda quando nada falasse, sentiríamos que tudo é desengano e vaidade, turbação e amargura, perigo e precipício. Ao contrário, se o coração é todo de Deus, é a paz, a confiança, a felicidade. Estamos bem com Deus, porque se torna nosso amigo, logo que queremos, e um amigo seguro, que não faltará enquanto quisermos (4). Estamos bem com o próximo, porque quanto mais somos de Deus, tanto mais benignos e humildes, caridosos e desinteressados, equitativos somos, isto é, tudo o que cativa o coração, a estima e a afeição. Estamos bem conosco, porque o coração que descansa plenamente em Deus, está no seu elemento; ali acha a vida, a felicidade, o paraíso antecipado. Consideremos quanta dor evitaremos, sendo inteiramente de Deus, e quantos motivos de aflição granjeamos servindo a criatura.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Vere dignum et justum est, aequum et salutare nos tibi semper et ubique gratias agere, Domine sancte, Pater omnipotens, aeterne Deus (Prefácio)

(2) Quid tibi cum mundo, qui major es illo?

(3) Ipsius enim et genus sumus (At 17, 28)

(4) Amicus Dei, si voluero, ecce nunc fio. Deum meum a te nemo toliere potest

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo II, p. 37-39)