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Obrigação e recompensa do serviço de Deus

Meditação para a Segunda-feira da Septuagésima. Obrigação e recompensa do serviço de Deus

Meditação para a Segunda-feira da Septuagésima

SUMARIO

Continuaremos o mesmo objeto de meditação que ontem, e veremos:

1.° Que o Deus, que nos chama para O servir, tem direito de exigir tudo de nós, sem nos prometer coisa alguma;

2.° Que, todavia, recompensa magnificamente os que Lhe concedem tudo.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De não usarmos de reserva no serviço de Deus, e de concedermos à graça tudo o que nos pedir;

2.° De repetirmos muitas vezes a Deus, em forma de oração jaculatória, que Lhe pertencemos inteiramente, e que queremos viver unicamente para Ele.

O nosso ramalhete espiritual será o primeiro mandamento de Decálogo:

“Amarás ao Senhor teu Deus de toda a tua alma e de todas as tuas forças” – Diliges Dominum Deum tuum… ex tota anima tua et ex tota fortitudine tua (Dt 6, 5)

Meditação para o Dia

Adoremos à Deus, nosso primeiro princípio e nosso último fim, exigindo, por este duplo título, todos os nossos serviços (1). Como fomos feitos por Ele, devemos-Lhe tudo; como recebemos tudo dEle, devemos-Lhe ainda tudo. Tributemos-Lhe, por estes títulos, os nossos mais profundos respeitos, à nossa adoração e o nosso amor.

PRIMEIRO PONTO

Deus tem direito de exigir tudo de nós sem nos prometer coisa alguma

Com efeito, logo que recebemos tudo de Deus, não fazemos, dando-Lhe tudo, mais do que restituir-Lhe o que Lhe pertence. Se, entre os homens, os benefícios recebidos são uma razão suficiente para se ter especial afeto àquele que os dispensou, ainda quando nenhuma remuneração disso se tivesse a esperar; se uma pessoa de alta hierarquia espera tudo daqueles que ela chama suas criaturas, se um pai tem direito a ser amado e servido pelos seus filhos, ainda quando não tivesse que deixar-lhes nem herança nem gratificação; e se estes não poderiam faltar a este dever sem atrair sobre si a reprovação geral e ser tidos por monstros de ingratidão, quanto mais devemos nós pertencer inteiramente a Deus, abstraindo de recompensa? Deus tem direito a dizer-nos:

“Se me servis, não tereis feito senão o vosso dever; não vos serei mais obrigado do que um pai se julga obrigado pelos bons serviços de seu filho; mas se não me servis como deveis e como o exigem os meus benefícios, eu vos condenarei”

Os legisladores não dizem: Quem observar a lei será recompensado; dizem: Quem não a observar será punido. O senhor não diz ao seu escravo: Obedece, que eu te recompensarei; diz simplesmente: Obedece, e não te acontecerá nenhum mal. Se não obedeces, eu te castigarei. Admitindo até que todo o trabalho merece salário, Deus teria podido prometer-nos somente uma recompensa temporária como os nossos serviços; por nenhum título nos devia uma recompensa eterna; e se no-la promete, é pura bondade da Sua parte; não teríamos pois desculpa se não Lhe pertencêssemos inteiramente, em tudo, até nas menores particularidades do nosso procedimento, sempre, por estima e por amor.

SEGUNDO PONTO

Deus recompensa magnificamente os que Lhe concedem tudo

Deus se entregará a nós na mesma proporção que nos entregarmos a Ele. Se quer que sejamos dEle inteiramente, desapegando-nos das criaturas, também nos promete ser inteiramente nosso. Se quer que Lhe pertençamos sempre, também quer pertencer-nos sempre, tão perfeitamente como se fôssemos sós no mundo. Este bom Deus tem sede da nossa felicidade,

«Servi-me, nos diz Ele, não penseis senão em servir-me, e pensarei em vós, terei cuidado de vós, me entregarei a vós como vosso bem e tesouro» (2)

Por certo isto concerne perincipalmente à eternidade; mas desde a vida presente, o que não faz Ele por aqueles que se entregam plena e constantemente a Ele? Estabelece-Se no seu coração, enche-o da Sua graça e de consolação. É no interior uma paz que sobrepuja todo o sentimento, e que é acompanhada de um delicioso gozo (3); é como um banquete contínuo (4); é um ante-gosto do paraíso. Oh! Quão feliz se é pois, quando se ama e se serve a Deus de todo o coração! Quão desgraçado se é, quando se resiste às inspirações de Deus, e se põem restrições ao seu serviço! Padece-se muito, padece-se sem mérito; e este inferno antecipado é apenas um prelúdio do outro, que há de durar eternamente.

Ó meu Deus, quão bom é pois servir-Vos! (5). Animam-nos estas considerações a fazer tudo por amor de Deus, e a fazer tudo o melhor possível. Examinemos tudo o que temos a fazer hoje, e proponhamo-nos firmemente fazê-lo por Deus só, e com toda a perfeição que pudermos.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Ite in vineam meam

(2) Ego… merces tua magna nimis (Gn 15, 1)

(3) Fructus Spiritus… gaudium, pax (Gl 5, 22)

(4) Secura mens quasi juge convivium (Pr 15, 15)

(5) Adhaerere Deo bonum est (Sl 72, 28)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo II, p. 24-26)