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O itinerário das estrelas

Na linda natureza de Deus

“Mas, por favor, senhor professor, o senhor ainda não contou nada dos habitantes de Marte”, interrompeu impaciente o Celsinho.

“Escutem: Durante algum tempo os homens se preocuparam com o problema de como se poderiam fazer sinais aos pretensos habitantes de Marte. Era, todavia, preciso inventar um sinal que fosse indiscutivelmente compreendido naquele planeta, suposto que lá existam seres racionais. Sabem o plano que se imaginou? Queriam cavar no deserto do Saara um enorme triângulo.”

“O que!”, exclamou Celso. “Para que serviria?”

“Eu sei. Se os habitantes de Marte vissem o triângulo, deveriam notar imediatamente que na terra existem seres racionais.”

“Exato. Esse plano, entretanto, não foi realizado, e não podemos responder à questão do Celso. Deixem, porém, vagar vosso olhar pelo firmamento, pela terra, pelo universo todo! Não é apenas um triângulo que nos fala, mas a beleza, a ordem, o conjunto harmonioso de todo o mundo nô-lo proclama, como um hino de louvor, acima de nós existe um Ser infinitamente sábio que criou tudo isto e lhe imprimiu suas leis. Uma força sobre-humana reuniu os invisíveis átomos em grandiosos astros, deu leis às suas forças titânicas, para que não haja confusão, mas um universo lindamente ordenado, construído sobre normas exatas. Francisco, vocês já estudaram física. Lembra-se ainda qual foi autor da física?”

“Lehmann!”

“Oh não! Ele copiou apenas da natureza as diferentes leis que nela agem. Não foi ele quem as produziu. Quem foi que compilou as leis que sustentam o universo, como em aro de aço, de modo que ele não venha a esfacelar-se? Os físicos? Não. Eles verificam unicamente que certo astro se move com tal velocidade e percorre esta ou aquela órbita. Quem, no entanto, foi capaz de comandar os astros? Não experimentamos uma sensação de respeito, só pelo fato de pensar nisso? Não é verdade que agora podemos compreender por que um dos maiores físicos da história, Ampère, exclamava, toda a vez que, ouvia o nome de Deus: Como Deus é grande!”

“Mas”, disse Francisco, “li muito acerca da teoria evolucionista, segundo a qual o mundo de hoje seria o produto da evolução, através de milhares de milhões de anos”.

“Ouça, Francisco. Você ouviu falar, na aula de religião, dos dias da criação do mundo, e que não devemos entender por ‘dia’ o espaço de 24 horas, senão períodos de evolução, de centenas de milhares de anos. Uma coisa somente não devemos esquecer, evolução existe apenas onde existe um princípio certo, fonte de ação, onde há finalidade. A matéria e a força tendem, por natureza, para a inércia; quem, todavia, dotou a massa inerte de uma energia tão ativa, tão viva, incansável que fez florescer a riqueza de formas e cores do mundo de hoje? Quem? Só Deus Criador! Ele decretou à matéria o caminho e as leis da evolução, do progresso, do aperfeiçoamento, para uma série incalculável de milênios. A matéria em si é morta, inerme, a força é cega; — vida e finalidade só lhes podem ser impostas por uma força superior.
Além disso, observemos a exatidão e a coerência férrea dessas leis! Conseguimos calcular, com a exatidão de segundos, a trajetória dos astros. Sabemos o momento em que a Lua há de encobrir o Sol, originando um eclipse. Sabemos o lugar exato onde se acha certo planeta, em determinado momento, onde se encontra presentemente o cometa de Halley e quando aparecerá de novo.”

“Maravilhosa ciência, que sabe calcular tudo isso!”, exclamou Jorge.

“Sim, também a ciência é maravilhosa; como será, pois, aquele que determinou tudo de antemão, para milhares de séculos! — Seu pai está na Estrada de Ferro Central, encarregado do horário geral, não é?”

“Sim, senhor; ele se queixa muitas vezes da tarefa difícil, enervante, de calcular o itinerário de tantos trens, a fim de evitar atrasos, colisões, etc.”

“Não é verdade que, apesar de todos os cálculos, sempre ocorrem atrasos, principalmente nas longas distâncias, e colisões? Os milhões de trens, em sua correria vertiginosa pelo firmamento, em trajeto de milhões de quilômetros, não têm atraso, nem descarrilamento. Nossa terra é um grãozinho de pó comparada com os gigantes do céu, um minúsculo terrãozinho frio ao lado dos imensos globos de fogo. Como uma bola, ela gira ao redor de seu eixo, e como o vento, ela se lança para adiante, em sua órbita. Quem terá feito o itinerário dela e dos outros corpos celestes?

O percurso de Mercúrio conta 87.9O9 dias; o de Vénus 224.7O1; o da Terra 3O5.256 dias, etc., e não há nunca um segundo de atraso. Refletindo sobre tudo isso, compreende-se o naturalista Von Baer, que disse: Pensei ouvir um grande sermão, e, não sei por que, tirei o gorro da cabeça e tive a impressão que devia cantar — aleluia!”

Também Newton se exprime formosamente na obra (Principia Philosophiae Naturalis Mathematica): ‘O esplêndido laço que une os corpos celestes, só pode emanar da sabedoria e da vontade dum Ser inteligente e poderoso. E se as estrelas fixas são o centro de sistemas semelhantes, também estes, edificados segundo o mesmo plano, estão sob a dominação desse Único. Esse Único rege tudo, não como gênio do universo, mas como Senhor de tudo. Por causa de sua soberania chamamo-lo Senhor, Deus, Onipotente’.

Prova de uma ordem maravilhosa é o fato de que as leis da natureza (gravidade, movimento, composição química, etc.) valem, sem exceção, sempre e em toda a parte. O que uma vez ficou assentado a respeito duma molécula de carbono, refere-se a todas as outras moléculas de carbono. Graves desobediências não são conhecidas na natureza! Aqui tudo obedece”.

Francisco observou neste momento:

“Senhor professor, até agora nunca senti tão profundamente quão grave é o pecado, isto é, a desobediência contra Deus. Toda a natureza, viva ou inanimada, obedece-Lhe, quer queira, quer não; apenas o homem quer recalcitrar, para seu próprio prejuízo”.

“De fato, Francisco exprime o mesmo pensamento que o célebre astrônomo Arago. Certo dia, fazia ele uma conferência, no Colégio de França, acerca das leis do universo. E assim terminou a palestra: Na próxima semana haverá um eclipse solar, visível em Paris. A lua entra em conjunção e a terra recebe os raios do Astro-Rei. Naquele dia, àquela hora, minuto e segundo, três imensos corpos celestes obedecerão, não à nossa previsão, mas à ordem divina. Somente os homens não querem obedecer… Assim finalizou.

Agora, meus rapazes, vou ler algumas passagens do Salmo 1O3. Elas são eloqüentes:

‘Minha alma, glorifica a Deus. Senhor, Deus meu, vós sois poderosamente grande; e vos revestistes de glória e formosura.
Luz é vossa vestimenta; vós estendeis o firmamento como um tapete…
Vós fundastes o mundo em solo, a fim de que permaneça pelos séculos.
Vós o cobristes com os abismos, como um vestido, e sobre as montanhas colocastes as águas.
E elas recuaram ante vossa ira, e fugiram ao som de vosso trovão.
Elevaram-se os montes, e os vales baixaram, ao lugar que lhes preparastes.
Vós lhes pusestes um limite que não ultrapassaram, e não voltaram a cobrir a terra.
Fazeis surgir fontes nos vales, para que as águas corram entre as montanhas…
Do alto regastes as serras; enchestes os campos com os frutos que fizestes crescer…
Fizestes a lua, para designar os tempos; o sol conheceu seu ocaso.
Pusestes a escuridão, e foi feita a noite…
Senhor, quão magníficas são as vossas obras!
Tudo ordenastes com sabedoria e a terra está cheia de vossos dons.
O oceano, tão vasto e imenso, está repleto de peixes que não têm número…
A glória do Senhor é eterna; o Senhor se compraz em suas obras.
Ele olha para a terra e a faz estremecer; toca os montes e eles fumegam.
Quero cantar ao Senhor a vida inteira, e louvar ao meu Deus, enquanto eu viver…”

O professor deixou cair o livro. Comovidos olhávamos para o céu estrelado. Então nosso mestre puxou do relógio:

“Meia noite passada; gastamos lindamente nosso tempo, viajando por entre as estrelas. Agora, depressa para dentro dos lençóis”.

Cinco minutos mais tarde, estava eu deitado em minha tenda. Mas o sono, fugia… Em meu cérebro, um pensamento atropelava o outro. Lá, onde a luz só pode chegar em milhões de anos, aonde a vista humana não é permitida penetrar, onde o próprio pensamento se paralisa, lá e em toda parte, também junto de mim, dentro de mim vive o mesmo Deus sublime e poderoso. A dança tumultuosa dos astros Lhe obedece; foi Ele quem lhes determinou a rota em que se precipitam; Ele contou-os, tomou-lhes o peso e os sustenta…

Nunca me senti tão pequeno, um átomo de pó, todavia, o coração palpitava de alegria estranha…! Um pensamento pulsava em minha alma: Que imensamente excelso e grande é este Deus que criou o universo com um pensamento seu, e o conduz e rege nesta harmonia maravilhosa, através de milhões de anos?

Uma suave paz, uma serena satisfação se estendeu sobre meu espírito, quando refleti que também era um humilde filho desse grande Pai. Um filho que tropeça na vida, cai, mas de novo se reergue; filho, às vezes vacilante, mas que em sua vontade, consciência e aspirações é sempre um filho fiel! Senhor, nada sou, mas sou teu! Pensei, já meio adormecido.

Quando acordei de manhã, um raio de sol madrugador espreitava, sorridente, por uma fresta de minha tenda. Havia muito que não me levantava tão contente e satisfeito como hoje.

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(TOTH Monsenhor Tihamer. Na linda natureza de Deus. Editora S. C. J., 1945, p. 21-27)