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Vida Santa dos Magos em Belém

Meditação sobre a Vida Santa dos Magos em Belém

SUMARIO

Meditaremos sobre a estada dos magos em Belém, e veremos:

1.° Quão santamente ali viveram;

2.° Como podemos imitá-los.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De fazer no dia uma visita ao Santíssimo Sacramento, a exemplo dos magos visitando o Menino Jesus no presépio;

2.° De nos conservarmos o mais possível no espírito de contemplação e de união com Deus.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra da Imitação:

“Estar com Jesus, é um delicioso paraíso” – Ecce cum Jesu dulcis paradisus (II Imitação de Cristo 8, 2)

Meditação para o Dia

Adoremos o Menino Jesus acolhendo com bondade os magos, cada vez que eles vem visitá-lO durante a sua estada em Belém. Ó preciosas visitas! Ó deliciosos momentos! Felicitemos por isto os magos, e demos graças a Jesus Cristo.

PRIMEIRO PONTO

Quão santamente tiveram os Magos
durante a sua estada em Belém

Os bem-aventurados magos não trataram de deixar Belém depois da primeira visita: não se logra tanta felicidade sem querer prolongá-la; não se vem de tão longe buscar um gozo tão puro, sem cuidar em o multiplicar; além de que, descansa-se depois da fadiga. Portanto, é fora de dúvida que os magos se demoraram alguns dias em Belém; e durante este tempo, vieram muitas vezes visitar o Menino Deus; tomavam-O nos seus braços, contemplavam as Suas feições divinas, apertavam-O ao peito, cobriam-O de beijos, regavam-O com as suas lágrimas; e quem poderia dizer com que sentimentos de admiração, de amor, de ações de graças e de abnegação, com que coração eles punham toda a sua pessoa ao serviço do divino Menino? Quem poderia dizer, por outro lado, quantas luzes, bênçãos e chamas de amor o Menino Jesus infundia nas suas almas, e quão curto lhes parecia o tempo de cada visita? Eles não se retiravam senão a custo; e logo que podiam, davam-se pressa em voltar, dizendo como Davi:

“Do modo que o cervo suspira pelas fontes das águas, assim a minha alma suspira por vós, ó meu Deus” (Sl 41, 2)

E eram sempre bem recebidos; e novas graças sucediam às graças precedentes; depois, prestados os respeitos ao Menino, falavam a Maria e a José, rogando-lhes que lhes explicassem o mistério que tinham vindo contemplar. E Maria e José, sempre dispostos a comprazer, lhes diziam o que sabiam. Ó santas conversações! Quanto deliciavam o coração dos magos! Como se gravavam na sua memória! Eles falavam por seu turno; e do seu coração comovido sabiam palavras que Maria julgava dignas de serem conservadas e meditadas por ela (1). No intervalo destas santas entrevistas, em que pensavam eles senão em Jesus? De que falavam senão de Jesus? Jesus era tudo para eles (2): tão santa foi a vida destes bem-aventurados magos durante a sua estada em Belém! Que lição para nós! Quão bem nos ensina o proveito que devemos tirar da presença real de Jesus Cristo nos nossos tabernáculos!

SEGUNDO PONTO

Como imitar os Magos na sua estada em Belém

Podemos imitá-los:

1.º Quando visitamos o Santíssimo Sacramento: porque temos nos tabernáculos o mesmo Homem-Deus que estava no presépio, com esta diferença cheia de amor, que os magos não chegaram ao presépio senão depois de uma longa viagem, enquanto que os tabernáculos multiplicados na terra nunca estão longe de nós. Oh! Se quando fazemos estas visitas, tivéssemos a fé e a piedade dos magos, quantas graças alcançaríamos!

2.° Quando comungamos: porque então não só tomamos Nosso Senhor nos nossos braços, como fizeram esses bem-aventurados viajantes, mas também O recebemos no nosso coração; incorporamo-lO, identificamo-lO conosco, para assim dizer; felicidade que não tiveram os magos. Depois de O termos assim incorporado conosco, podemos, durante a ação de graças, conversar com Ele, falar-Lhe e ouvi-lO, tomando os magos no presépio por modelos de ações de graças após cada comunhão.

3.º Podemos no decurso do dia, imitar a santa vida dos magos fora do presépio de Belém, com esse espírito de contemplação que forma no coração como que um santuário, em que conversamos com Deus, uma encantadora solidão, onde só entra Deus e a alma; onde, do mesmo modo que os magos no presépio de Belém, gozamos de Deus, podemos vê-lO, falar-Lhe, ouvi-lO, consultá-lO nas dúvidas, chamá-lO em nosso socorro nos embaraços ou perigos, dizer-Lhe que O amamos e pedir-Lhe que O amemos sempre mais, oferecer-Lhe as nossas obras, a nossa vida, consagrar-nos a Ele sem reserva, agradecer-Lhe os Seus benefícios, adorá-lO, louvá-lO, implorá-lO; onde, finalmente, recebemos com reconhecimento e amor os bons pensamentos que nos envia, os piedosos sentimentos que nos sugere, assuntas resoluções que nos põe no coração, e tornamos toda a nossa vida santa como a dos magos.

Bem-aventurada a alma que compreende estas coisas! Mais bem-aventurada ainda a que as pratica! (3)

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Maria autem conservabat omnia verba haec, conferens in corde suo (Lc 2, 19)

(2) Omnia… Christus (Cl 3, 11)

(3) Beata anima quae Dominum in re loquentem audit… Beatae plane aures quae non vocem foris sonantem, sed intus auscultant veritatem docentem (III Imitação de Cristo I, 1)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo I, p. 171-174)