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Prelúdios do Juízo Final

Meditação para a Terça-feira da 1ª Semana do Advento. Prelúdios do Juízo Final

Meditação para o Terça-feira da 1ª Semana do Advento

Sumário

Meditaremos hoje e nos dias seguintes a se­gunda vinda do Salvador para julgar o mundo no fim dos tempos, como no-lo anuncia o Evangelho do do­mingo passado. Com relação a hoje, nos limitaremos a considerar os três prelúdios do juízo, a saber:

1.° A Ressurreição geral;

2.° A Separação dos Bons e dos Maus;

3.° A Descida do Supremo Juiz precedido da Sua Cruz.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De conservar puros os nossos, corpos, para que ressuscitem glorio­sos;

2.° De seguir, em tudo, o exemplo dos santos, para não sermos separados deles no último dia e expulsos para entre os maus;

3.° De amar Jesus e a Sua cruz, que farão a nossa alegria nesse grande dia, se os tivermos amado durante a vida.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Apóstolo:

“Todos nós deve­mos comparecer diante do tribunal de Jesus Cristo” – Omnes nos manifestari oportet ante tribunal Christi (2 Cor 5, 10)

Meditação do Dia

Adoremos Jesus Cristo, supremo Juiz dos bons e dos maus; dos bons para os recompensar; dos maus para os castigar. Esperemos na Sua bondade, dizendo com Santa Tereza:

«Que consolação para mim ter por Juiz o meu melhor amigo!»

Mas temamos tam­bém a Sua justiça, dizendo com São Paulo:

“Depois de cada ação, virá o juízo, que discernira o bem do mal” – Post hoc autem, judicium (Hb 9, 27)

PRIMEIRO PONTO

A Ressurreição Geral

Deus fará preceder este grande ato pela conflagra­ção do universo, que será reduzido a cinzas (1). Um montão de cinzas, eis o que restará de todo este mun­do, em que o gênero humano se agita com tanto ruído, e a que se prende por tantos laços! Ó filhos dos ho­mens, conclui daí São Pedro, que mais é necessário para vos decidirdes a ser santos, desinteressados, irrepreensíveis em todas as vossas ações? (2) — As­sim preparado o teatro do juízo, a voz do anjo fará ressoar nos quatro ventos dos céus a poderosa palavra, que assustava São Jerônimo no deserto: Levantai-vos, mortos, vinde a juízo (3). Todos os corpos e todas as almas obedecerão imediatamente. A alma dos jus­tos se reunirá com alegria ao corpo que ela animou, que participou em outro tempo dos seus sofrimentos, e que agora vai participar da sua recompensa; que até mesmo já dela participa: porque é glorioso, im­passivel, imortal, ágil como os espíritos, brilhante como o sol. Oh! Como então nos alegraremos de ter crucificado a nossa carne, votado o nosso corpo à fa­diga, ao trabalho, feito de todos os nossos sentidos uma hóstia pura ao Senhor! Ao contrário, a alma dos réprobos se horrorizarão com a aproximação desse corpo, que a perdeu: quereria fugir-lhe, separar-se dele para sempre; mas uma mão invisível a ele o reúne. Ó maldito corpo, que me condenaste, quão louco fui em lisonjear-te, poupar-te, animar-te! Por­que te não entreguei eu aos golpes da penitência! E dizendo estas coisas, a pobre alma sente cruelmente a resposta que lhe daria o corpo, se pudesse falar. Só tu é que tens a culpa. Deverias guiar-me, dirigir-me; e fizeste-te meu escravo; lançaste-me na lama, sa­bendo que dali cairia nas chamas.

— Entremos aqui em nós mesmos. Que será para nós esta ressurreição? Será a ressurreição tão aprazível dos justos, ou a ressurreição tão terrível dos pecadores ?

SEGUNDO PONTO

A Separarão dos Bons e dos Maus

Ressuscitado assim o gênero humano, ouve-se uma voz:

“Ajuntai diante dele todos os seus santos” – Congregate illi sanctos ejus (Sl 49, 5)

Imediatamente os anjos se espalham pela assembleia dos povos, ajuntam os escolhidos, colocam-os à direita, e expulsam os maus para a esquerda (4). Que alegria para os bons ver-se finalmente separados dos inimigos de Deus, reunidos a tudo o que o céu tem de mais venerável, aos patriarcas e aos profetas, aos Apóstolos e aos mártires, aos mesmos anjos e aos prín­cipes da corte celestial! Oh! Que deliciosa companhia! Quão bem se acha ali o coração, e que felicidade gozá-la para sempre! Ao contrário, os réprobos se enrai­vecerão, vendo-se repelidos para o meio de tudo o que a terra produziu de mais vil, a corrupção de mais infame, a perversidade de mais hediondo, para o meio de todos os demônios! Oh! Que horrível companhia! Que desesperação nunca poder separar-se dela! Oh! Quanto nos enganamos! (5) Exclamam esses desgra­çados. Eis ali aqueles, cujo procedimento regrado, cuja modéstia e piedade metíamos a ridículo, ei-los resplandecentes de glória; e nós, eis-nos cobertos de opróbrio! (6) Ei-los colocados entre os filhos de Deus, os príncipes do céu (7); e nós, que parecíamos espezinhá-los, eis-nos humilhados, confundidos e condenados a eternos suplícios!

Ó alma minha, evitemos tão grandes desgraças com uma séria reforma de nossa vida!

TERCEIRO PONTO

A Descida do Supremo Juiz precedido da Sua Cruz

Então, diz o Evangelho, aparecerá no ar o es­tandarte do supremo Juiz, a cruz, como sinal precursor de sua próxima vinda (8). Vendo-a, os justos soltarão um grito de alegria. A cruz fez as suas de­lícias na terra; foi à sua sombra que ocultaram os seus méritos, a seus pés que puseram as suas tribu­lações, nos seus braços que se lançaram pela mortifi­cação e penitência. É por esta razão que, vendo-a, exultarão tanto. Mas quão diferentemente sucederá com os que não amaram a cruz! Tremerão vendo-a, porque fará a sua condenação. Ela não prega senão privações, e eles não quiseram senão gozos; não en­sina senão a humildade, a pobreza, e eles não busca­ram senão glória e riquezas. Que será para nós a cruz nesse grande dia? Pertence-nos decidir. — Entretanto, atrás da cruz virá o supremo Juiz; aparecerá trazido sobre os querubins, cercado de milhares de anjos, que formam a sua corte. A este espetáculo, os justos se encherão de alegria. Oh! Quanta razão tive­mos para adorá-lO, amá-lO e temê-lO! Porque, quão grande, amável e terrível é! Ao contrário, os réprobos se encherão de medo: pedirão aos montes que caiam sobre eles; desejarão morrer, e a morte fugirá deles (9). Que matéria para sérias reflexões!

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Terra et qaue in ipsa sunt opera exurentur (II Pd 3, 10)

(2) Cum igitur haec omnia dissolvenda sint, quales oportet vos esse in sanctis conversationibus… exspectantes et properants in Adventum Domini (II Pd 3, 11-12)

(3) Surgite, mortui, ad judicium

(4) Exibunt angeli et separabunt (Mt 13, 49)

(5) Ergo erravimus (Sb 5, 6)

(6) Hi sunt quos habuimus aliquando in derisum (Ibidem)

(7) Ecce quomodo computati sunt inter filios Dei (Ibidem)

(8) Mt 24, 30

(9) Desiderabunt mori, et fugiet mors ab eis (Ap 9, 6)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo I, p. 31-35)