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O berço do Salvador: Escola de Pureza

Meditação para a Segunda-feira da 4ª Semana depois da Epifania. O berço do Salvador: Escola de Pureza

Meditação para a Segunda-feira da 4ª Semana depois da Epifania

SUMARIO

Continuaremos as nossas visitas ao berço do Menino Jesus, e procuraremos ali encher-nos de Sua pureza e de Sua inocência, considerando que um coração puro está bem:

1.° Com Deus;

2.º Com o próximo;

3.° Consigo.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De evitarmos com grande cuidado não somente os menores pecados, mas ainda as menores imperfeições voluntárias;

2.º De darmos com este intuito a cada uma das nossas ações toda a perfeição possível.

O nosso ramalhete espiritual será a sexta bem-aventurança:

“Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus” – Beati mundo corde, quoniam ipsi Deum videbunt (Mt 5, 8)

Meditação para o Dia

Adoremos o Menino Jesus, tipo de pureza e de inocência. A inocência é o caráter mais saliente de um menino no berço: ele não sabe o que é o mal; puro e sem mácula na sua inteligência, puro e sem mácula na sua memória e vontade, puro e sem mácula nos seus sentidos, puro e sem mácula no seu coração, ensina-nos a conservar sempre pura a nossa inteligência, reprimindo a sua perigosa curiosidade, a nossa memória, afastando dela as suas penosas idéias, a nossa imaginação, contendo os seus extravios, e os nossos sentidos, conservando-os sujeitos. O que nos prega o menino vulgar, no-lo diz melhor ainda o Menino Jesus, abismo de pureza, não, como um menino, com a sua débil razão, mas com a santidade infinita da natureza divina que existe nEle. Admiremos esta inefável pureza, e roguemos-Lhe que nos faça dela participantes, de sorte que evitemos, quanto possível, até as mais leves culpas.

PRIMEIRO PONTO

Um coração puro está bem com Deus

Aquele que ama a candura do coração, diz o Sábio, terá por amigo ao Rei do céu (1). Bem-aventurados, diz Jesus Cristo, os limpos de coração, porque eles verão a Deus. Que bom é Deus, exclama Davi, para os que são de coração reto, isto é, puro e inocente! (2). A incorrupção, diz em outra parte o Espírito Santo, faz ser próximo a Deus (3), é de um preço inestimável a seus olhos (4); um lugar à parte, muito perto do Cordeiro, está reservado no céu às almas puras (5); Deus compraz-Se entre as açucenas da pureza (6), e desde a vida presente, comunica-Se especialmente aos corações puros, diz-lhes os Seus segredos e liberaliza-lhes os Seus favores.

Meu Deus, concedei-me que eu compreenda bem estas verdades, e que nelas beba o horror das menores culpas com esse terno gosto de pureza e de inocência que consola o coração e santifica a alma.

SEGUNDO PONTO

Um coração puro está bem com o próximo

A pureza de coração é tão agradável, que não podemos ver um menino inocente, sem nos comovermos. Esta pureza interior reflete sobre o seu rosto uma candura, uma ingenuidade que encantam; e numa idade mais avançada, põe na alma uma abundância de retidão, que inspira respeito, estima e amor. Todas as relações com estas belas almas são deliciosas, porque são sempre benévolas; nelas não há suspeitas injustas, prevenções, ódios e aversões; nunca há ciúmes nem altercações sobre a preeminência; ao contrário, há sempre uma constante atenção em agradar nas palavras e ações; sempre um modo de obrar e de falar modesto e amável; respira-se ao pé dessas almas como que uma atmosfera de pureza e de inocência, de humildade e de mansidão, que edifica, que leva para Deus, que dispõe a tornar-nos melhores, e acabamo-nos bem na sua companhia: é como que o encontro de um anjo. Entremos aqui dentro em nós: de onde provêm, que não somos sempre amáveis para com o próximo? Não é porque o remorso das nossas culpas nos entristece e nos azeda? Não é porque as nossas paixões contrariadas nos induzem a falar e a obrar com aspereza? Porque o aborrimento da nossa consciência nos faz insípidos e enfadonhos? Nós tornamos vítimas da desordem do nosso interior aqueles com quem vivemos.

TERCEIRO PONTO

Um coração puro está bem consigo

A pureza faz a felicidade daquele que a possui: ele goza de uma paz deliciosa, que sobrepuja todo o entendimento (7); a sua consciência sem mancha é para a sua alma como que um leito de dormir, ou antes, segundo o Espírito Santo, é como que um banquete contínuo (8). Tão ditoso quanto se pode ser na terra, o presente não lhe oferece senão consolação, confiança e amor; o futuro, senão esperanças de uma felicidade perfeita e eterna; não conhece nem as paixões que comovem e perturbam, nem os desejos que atormentam; descansa no Deus a quem ama, gosta de Lhe agradar, e isto basta para a sua felicidade. Oh! Quão mal compreendem os seus interesses aqueles que não diligenciam conservar-se puros e santos! Nunca nos satisfazemos sem fazer nascer em nós um remorso, por conseguinte uma abundância de tristeza e de amargura, enquanto que as almas puras criam para si cá na terra um paraíso antecipado, que embelezam os prazeres do Espírito Santo, a unção da graça, a paz da boa consciência; e as delícias de um coração sem mácula. Examinemos as dores e tristezas que temos sentido pelas nossas culpas, por todas as graças de que nos privamos pela nossa pouca vigilância sobre nós mesmos, e enchamo-nos, com estas considerações, de uma grande estima da pureza de coração e de consciência.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Qui diligit cordis munditiam… habebit amicum regem (Pr 17, 11)

(2) Quam bonus Israel Deus, his qui recto sunt corde (Sl 72, 1)

(3) Incorruptio facit esse proximum Deum (Sb 6, 20)

(4) Omnis ponderatio non est digna continentis animae (Eclo 26, 20)

(5) Hi sequuntur Agnum quocumque ferit (Ap 14, 4)

(6) Pascitur inter lilia (Ct 2, 16)

(7) Si in via Dei ambulasses, habitasses utique in pace sempiterna (Br 2, 13) – Pax Dei, quae exsuperat omnem sensum (Fl 4, 7)

(8) Secura mens quasi juge convivium (Pr 15, 15)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo I, p. 248-251)