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Jesus é para nós tudo

Meditação para a Quarta-feira da 2ª Semana depois da Epifania. Jesus é para nós tudo

Meditação para a Quarta-feira da 2ª Semana depois da Epifania

SUMARIO

Meditaremos uma palavra de São Paulo, que é a conclusão e como que o resumo de todos os títulos que temos admirado em Jesus Cristo. Jesus Cristo é tudo (1), isto é:

1.° Que Jesus Cristo é tudo para nós;

2.° Que sem Jesus tudo o mais nada vale.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De termos muitas vezes no dia aspirações de amor para com Jesus Cristo, por exemplo, Jesus Cristo é tudo (2); tudo o que não é Deus nada vale, e devo tê-lo em pouco; basta-me Deus só;

2.° De perdermos todo o afeto ao que não é Deus ou segundo Deus.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra, objeto da nossa meditação:

Jesus Cristo é tudo

Meditação para o Dia

Adoremos Jesus Cristo como o tesouro do céu e da terra: com Ele é ser rico, sem Ele é ser pobre (3). Alegremo-nos nEle como a Santíssima Virgem, que entoa no seu cântico:

“O meu espírito se alegrou por extremo em Deus meu Salvador” – Exultavit spiritus meus in Deo salutari meo (Lc 1, 47)

PRIMEIRO PONTO

Jesus Cristo é tudo para nós

Com efeito Ele reúne na Sua pessoa todos os títulos mais próprios para interessar o coração, para o comover e o ganhar. É o nosso pai na ordem da natureza, pois que todas as coisas foram feitas por Ele (4); é o nosso pai na ordem da graça, pois que a Si mesmo se denomina a vida da nossa alma (5), e sem Ele, todas as nossas ações são mortas, não têm vida senão por Ele! (6). É o nosso irmão: Filho do Homem como nós, depois da Sua ressurreição, chama aos Apóstolos os seus irmãos (7). É Nosso Senhor, pois que nos remiu à custa do Seu sangue; é o nosso amigo, amigo sincero e íntimo (8). É o nosso benfeitor: dEle nos vem tudo o que possuímos e somos (9); é a nossa cabeça, pois que infunde nos seus membros a Sua vida divina; é o nosso bom pastor, que nos alimenta com a Sua própria carne, o nosso médico que cura todas as nossas feridas, o nosso advogado que defende a nossa causa perante o seu Pai; é a verdade que nos esclarece, a luz que nos guia, a sabedoria que nos dirige, a justiça que nos santifica (10); é a mansidão, a bondade, a humildade, a caridade, a santidade, que devem subsistir e resplandecer em nós; o caminho que leva ao céu, e a porta por onde se entra nEle.

Oh! Quanta razão têm pois os santos para dizer:

Quem possui Jesus, possui tudo!

«Depois que tive a felicidade de conhecer Jesus Cristo e de ver alguns debuxos da Sua beleza, dizia Santa Teresa, tudo o que há na terra me desgosta, porque acho nEle, em um grau incomparavelmente superior, tudo o que o coração pode desejar. É muito avaro ou desconhece o valor de tão grande tesouro aquele que, possuindo-O, Lhe quer juntar qualquer outra coisa»

Daí este brado, que São Francisco de Assis gostava de repetir horas inteiras:

“Meu Deus e meu tudo” – Deus meus et omnia

E na verdade, desejar qualquer coisa fora de Jesus, seria ofendê-lO, e dizer-Lhe que não basta para encher a nossa alma; seria expulsá-lO do nosso coração, pois que sabemos que Ele não quer o coração repartido; seria perder o siso, diz o autor da Imitação (11). Entremos dentro em nós, e vejamos se Jesus é verdadeiramente tudo para nós, e se algum afeto Lhe não disputa um lugar no nosso coração.

SEGUNDO PONTO

Sem Jesus tudo o mais nada vale

Perguntemos a todos os que têm riquezas, diversões e honras, se são felizes: não recebemos de todas as partes senão respostas negativas. São desgostos excessivos, contratempos importunos, remorsos aflitivos. É porque sem Jesus, tudo o mais nada vale, deixa o coração vazio. Fizestes-nos para Vós, ó meu Deus, e fora de Vós não há paz para o coração, dizia Santo Agostinho. O que é que o mundo pôde dar-vos sem Jesus? (12), diz de seu lado o autor da Imitação. Estar sem Jesus é um inferno. É pobríssimo aquele que vive sem Jesus, quem perde? Jesus perde mais do que o mundo inteiro. Se Jesus não é o vosso melhor amigo, estareis profundamente triste e desconsolado. Ao contrário, quem possui Jesus possui tudo, de sorte que a posse de todo o universo junta à posse de Jesus seria antes um tormento do que um gozo. Para quem sabe achar tudo em Jesus, tudo o mais é insípido e fastidioso. Peçamos perdão a Jesus Cristo de o ter até ao presente tão pouco apreciado, e proponhamo-nos reparar o passado vivendo unicamente para Jesus e não desejando mais nada no tempo e na eternidade.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Omnia… Christus (Cl 3, 11)

(2) Omnia Christus

(3) Pro omnibus divitiis Christus abundat (Santo Ambrósio)

(4) Omnia per ipsum facta sunt (Jo 1, 3)

(5) Ego sum vita (Jo 14, 16)

(6) Christus… vita vestra (Cl 3, 4)

(7) Nuntiate fratribus meis (Mt 28, 10)

(8) Vos autem dixi amicos (Jo 15, 15)

(9) De plenitudine ejus nos omnes accepimus (Jo 1, 16)

(10) Factus est nobis sapientia a Deo, et justitia, et sanctificatio (1 Cor 1, 30)

(11) Quam insipiens et vanus, si copis aliquid extra Jesum! (II Imitação 8, 1)

(12) Quid potest tibi mundus conferre sine Jesu? (II Imitação 8, 11)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo I, p. 211-214)