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Excelência da Mansidão

Meditação para o Vigésimo Primeiro Sábado depois de Pentecostes. Excelência da Mansidão

Meditação para o Vigésimo Primeiro Sábado depois de Pentecostes

SUMARIO

Meditaremos sobre as vantagens da mansidão, e veremos que com esta virtude podemos tudo:

1.° Sobre o coração de Deus;

2.° Sobre o coração do próximo;

3.° Sobre o nosso próprio coração.

— Tomaremos a resolução:

1.° De reprimirmos, ainda quando estamos sós, até os menores impulsos de impaciência, de precipitação e descontentamento que nos sobrevierem;

2.° De termos para com todas as pessoas, sem exceção, maneiras e palavras brandas e afáveis.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de Nosso Senhor:

“Aprendei de mim que sou manso, e achareis descanso para as vossas almas” – Discite a me quia mitis sum… et invenietis requiem animabus vestris (Mt 11, 29)

Meditação para o Dia

Adoremos a infinita mansidão de Deus tão celebrada na Sagrada Escritura:

“Oh quão bom e suave é o Senhor! Vós sois, meu Deus, cheio de doçura e mansidão. A vossa misericórdia é suave, o vosso nome não respira senão doçura” – O quam bonus et suavis est misericordia tua; psallite nomini ejus quoniam suave

Chamais-vos pai, pastor, cordeiro, nomes que exprimem mansidão. Eu admiro, meu Deus, eu louvo, bendigo, amo essa mansidão infinita, e suplico-Vos que dela me façais participante.

PRIMEIRO PONTO

Com a mansidão podemos tudo sobre o coração de Deus

A mansidão é a virtude que Deus preza, e vê em uma alma com mais gosto. Sempre lhe agradaram as súplicas dos mansos (1); abate os soberbos até à terra, mas ampara os mansos (2); dá-lhes a sua graça (3); exalta-os para os salvar (4). Moisés faz-se ouvir de Deus, pela sua mansidão (5); e com ela consegue santificar-se (6). Todo o povo judaico, querendo aplacar a ira de Deus, implora-o pela mansidão de Davi (7). Aquele que é manso de coração lembra a Deus a imagem de seu Filho, a própria mansidão; e se Raquel derramou lágrimas de ternura vendo no jovem Tobias a imagem de seu velho e virtuoso amigo (8), poderia Deus não amar o acolher com bondade o suplicante, que se parece com Jesus Cristo pela mansidão? Por isso o Evangelho nos assegura que Deus nos tratará com a mesma brandura com que tratarmos os outros (9): não é bem consoladora esta verdade?

SEGUNDO PONTO

Com a mansidão podemos tudo sobre o coração do próximo

Faz-se tudo o que se quer do coração do homem, contanto que se saiba levá-lo pela mansidão. Se os Apóstolos converteram o mundo, é porque sempre mostraram uma admirável mansidão para com todos (10). A mansidão dissipa as prevenções, termina as repugnâncias, manda pedindo, corrige conjurando; dissimulando as faltas de respeito ou as injúrias, obriga a repará-las com superabundantes atenções, que os seus encantos provocam. Faz-se amar de todos, até dos mais perversos, porque em vez de quebrar a cana que está deprimida, ou de apagar a torcida que fumega, acolhe toda a gente com bondade, fala com ternura, visita com caridade, e compadece-se dos que sofrem. Se tem de dar conselhos ou repreensões, procede de uma maneira tão suave, tão afável, que se conhece que é unicamente a afeição, o desejo do bem que a inspira; e então poucas vezes sucede que lhe resistam. Corrige os erros sem ofender o que os cometeu; cura o coração sem o fazer padecer; algumas vezes até persuade calando-se, assim como encanta falando. Daí esta palavra de um santo padre, que nada é difícil aos homens mansos, nem aos humildes (11). Sucede com a mansidão para captar os corações o mesmo que com a Providência para governar o mundo. Esta Providência nada deixa ao abandono; governa tudo com uma ação tão suave, que apenas a sentimos; dirige o curso dos acontecimentos com uma gradação tão imperceptível, que escapa ordinariamente à nossa observação, e a sua força está na sua mesma brandura. É assim que a brandura, a mansidão, influi tão fortemente no coração humano que faz dele o que quer, e isto de um modo tão suave, que mal deixa sentir o império que exerce.

TERCEIRO PONTO

Com a mansidão podemos tudo sobre o nosso próprio coração

Enquanto conservamos a nossa alma em uma disposição de mansidão e de sossego, dominamos as nossas paixões e as governamos facilmente, porque então observamos sem custo todos os seus impulsos, e como as potências da nossa alma se não distraem para outra parte, podemos dirigi-las contra elas. A impaciência faz-nos sair de nós; mas a mansidão torna fácil a perfeição da paciência, da caridade, da humildade, da resignação à divina vontade, da confiança em Deus, de todas as virtudes. Quem se domina sempre, serà em breve perfeito.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Mansuetorum semper… placuit deprecatio (Jud 9, 16)

(2) Suscipiens mansuetos Dominus (Sl 146, 6)

(3) Mansuetis dabit gratiam (Pr 3, 34)

(4) Exaltabit mansuetos in salutem (Sl 149, 4)

(5) Erat enim Moyses vir mitissimus (Nm 12, 3)

(6) In fide et lenitate ipsius sanctum fecit illum (Ecl 45, 4)

(7) Memento, Domine, David et omnis mansuetudinis ejus (Sl 131, 1)

(8) Quam similis est… consobrino meo (Tb 7, 2)

(9) In qua mensura mensi fueritis, remetietur vobis (Mt 7, 2; Mc 4, 24)

(10) Omnem ostendentes mansuetudinem and omnes (Tt 3, 2)

(11) Nihil arduum est humilibus, nihil asperum milibus

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo V, p. 130-133)