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Escola do Terceiro Grau de Humildade

Meditação para a Quinta-feira da 3ª Semana depois da Epifania. Escola do Terceiro Grau de Humildade

Meditação para a Quinta-feira da 3ª Semana depois da Epifania

SUMARIO

Meditaremos o terceiro grau de humildade, que consiste em alegrarmo-nos de ser conhecidos e julgados conforme o que somos, isto é, pouco dignos de estima; e veremos que este grau de virtude nos é:

1.° Ensinado pelo exemplo de Jesus Cristo;

2.° Confirmado pela razão.

– Tomaremos depois a resolução:

1.° De nunca buscarmos com subterfúgios ou mentiras, encobrir aos outros os nossos defeitos ou pecados;

2.º De não nos justificarmos, quando nos censurarem, à menos que não tenhamos uma sólida razão para o fazer.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Apóstolo:

“Sinto complacência no desprezo” – Placeo mihi… in contumeliis (2Cor 12, 10)

Meditação para o Dia

Adoremos o Verbo Encarnado, contentíssimo de Se mostrar aos pastores, aos magos, aos habitantes do Egito no estado de abjeção a que Se reduziu. Admiremos as disposições do Seu coração em tão profundas humilhações, e tributemos-Lhe todos os nossos respeitos.

PRIMEIRO PONTO

O exemplo do Verbo Encarnado ensina-nos a alegrarmo-nos de ser conhecidos e julgados pouco dignos de estima

Uma das nossas maiores fraquezas é querermos ocultar aos outros a verdade do que somos, quando esta verdade nos não honra; é cuidar mais em dissimular as nossas faltas do que em evitá-las ; e se depois disto as descobrem, afligirmo-nos, desculpá-las, atribuindo-as ora a uma inadvertência da nossa parte, ora aos outros, que não receamos de cobrir de confusão em nosso lugar, e para melhor o conseguir, até de usar de dissimulação, de engano e de mentira. E tal até a nossa fraqueza neste ponto que, quando descobrem as nossas culpas, afligimo-nos mais de ver a nossa reputação arriscada do que de ter ofendido a Deus, e que a menor palavra dita em nosso desabono, por mais verdadeira que seja, nos custa a perdoar, enquanto que os louvores, por mais falsos que possam ser, nos alegram e levamos a bem que os lisonjeiros no-los deem. Admiremos aqui o que fez o verbo Encarnado para curar semelhante mal. Este Deus de infinita majestade não somente Se humilha e Se aniquila de alguma sorte diante de Seu Pai, tomando a forma de escravo, mas Se compraz em Se patentear no estado de abjeção a que Se reduziu; quer que todo o mundo e todos os séculos o saibam. Muito tempo antes de  Sua vinda, faz publicar pelos Seus profetas as Suas humilhações; mostra-as aos magos do Oriente para que levem a notícia delas aos gentios; fá-las anunciar pelos Seus Apóstolos e pelos Seus sucessores a todos os povos; finalmente aumenta-as e perpetua-as na Eucaristia. Depois disto não tem Ele direito para nos dizer:

“Ai de vós, hipócritas, que quereis que vos julguem melhores do que sois, e que vos comprazeis na falsidade e mentira, quando o vosso amor-próprio nisso interessa?” – Vae vobis… hypocritae (Mt 23, 13-15)

SEGUNDO PONTO

A própria razão nos diz que devemos alegrar-nos de ser conhecidos e julgados conforme somos

Com efeito, a razão diz-nos:

1.° Que a desconsideração ou o desprezo, que nos provier de nos terem justamente julgado, são um específico contra a nossa soberba, uma justiça que nos fazem, uma homenagem à verdade, um traço de semelhança com Jesus Cristo; e por todos estes títulos uma graça de Deus, um dom do céu infinitamente apetecível; o que levou o santo rei Davi a dizer, quando os seus guerreiros queriam reprimir a insolência de Semei:

“Deixai-o insultar-me: porque isso entra nos desígnios de Deus para meu bem” – Domitte eum, ut maledicat: Dominus enim praecepit (2Sm 16, 10)

2.° Que esta disposição do coração é um preservativo contra o pecado: sem ela, deixamo-nos dominar pela impaciência, pela ira, pelo desejo de vingança, à menor suspeita de uma falta de atenções; pagamos injúria com injúria, desprezo com desprezo, escarnio com escarnio; entregamo-nos a secretas aversões, a desgostos e tristezas, se não podemos livrar-nos da abjeção causada pelo desprezo. Ah! Para nos descontentarmos é necessário tão pouca coisa! Basta que pareça que nos não ouvem, que concedam uma pequena preferência a outrem, que mostrem estimar alguém mais do que a nós; algumas vezes até um conceito infundado nos perturba.

3.° Que nada há tão belo, tão honroso como a franqueza, que se declara abertamente pela verdade, ainda quando humilha; que, sempre reta no proceder, cumpre o seu dever e deixa falar sem pensar em outra coisa senão em fazer bem. Quem não tem a alma suficientemente grande para se elevar até esse ponto, é covarde, pusilânime, constrangido em sua ação, privado da facilidade e da liberdade, que são as únicas que preparam o bom êxito; é falso, dissimulado, artificioso, até mentir para minorar os seus defeitos ou encobrir as suas injustiças; escravo da vaidade não pensa senão em falar ou fazer falar de si, e em espalhar por toda a parte o bom conceito que dele formam.

4.° Que o amor da verdade na alma, levado até ao sacrifício do amor-próprio, atrai as melhores bênçãos de Deus; é, desde este mundo, o segredo da felicidade. Não temendo os conceitos e as vãs palavras, vive-se tranquilo e feliz; ora-se com facilidade, goza-se e ama-se a Deus, e exclama se com o Apóstolo:

“A mim bem pouco se me dá de ser julgado de vós” – Mihi pro minimo est ut a vobis judicer (1Cor 4, 3)

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo I, p. 236-239)