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Dos danos que o Pecado nos Causa

Meditação para a Segunda-feira da Quarta Semana da Quaresma. Dos danos que o Pecado nos Causa

Meditação para a Segunda-feira da Quarta Semana da Quaresma

SUMARIO

Continuaremos as nossas meditações sobre os motivos de contrição, e veremos:

1.° Os males que nos causa o pecado venial;

2.° Os males multo maiores ainda que nos causa o pecado mortal.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De termos horror aos menores pecados e de nos conservarmos humilhados diante de Deus por termos cometido tantos no decurso de nossa vida;

2.° De fugirmos, mais que da peste, das menores ocasiões do pecado, de desconfiarmos de nós mesmos, de vigiar e orar para não recair para o futuro.

Conservaremos como ramalhete espiritual as palavras do publicano:

“Meu Deus, sê propício a mim, pecador!” – Deus, propitius esto mihi peccatori (Lc 18, 13)

Meditação para o Dia

Adoremos Nosso Senhor Jesus Cristo coberto de chagas e pregado na cruz por causa dos nossos pecados. Os nossos crimes são os Seus algozes, e nós somos os Seus homicidas. Ó Deus, minha vítima! Eu adoro-Vos e amo-Vos; deploro a minha soberba, que Vos coroou de espinhos, a minha moleza que lacerou os Vossos membros, o meu amor da independência, que Vos cravou na cruz. Ó divino crucificado! Infundi-me no coração o ódio ao pecado, a esse tão grande mal que não pode ser reparado senão pela Vossa morte, e fazei que eu compreenda os males que ele me causa.

PRIMEIRO PONTO

Males que nos causa o Pecado Venial

Seria impossível dizer todos os males que nos causa o pecado venial. Na outra vida, se não é expiado, retardará para nós as delícias do céu, talvez por largos anos, e nos custará terríveis castigos. Até depois de ter sido expiado, nos privará por toda a eternidade, do grau de glória e de felicidade a que nos teria elevado o ato da virtude contrária. Nesta vida, resfria a amizade de Deus e diminuem as Suas graças, as Suas graças tão necessárias todavia à nossa fraqueza; minora em nós a fé e o sentimento das verdades eternas; tira à alma esse terno gosto da piedade, esses gozos do Espírito Santo, essas delícias da inocência; afrouxa a verdade, dispõe-a pouco a pouco para o mal, abafa o remorso, dissipa a vigilância, e conduz por isso a grandes recaídas, que são sempre a consequência de uma série de relaxações. Emfim, quando se tornou em hábito, reduz a alma a um estado pior que a morte, à tibieza (1). Porque o caráter fundamental deste horrível estado é o hábito dos pecados veniais. É por esta razão; que Santa Tereza nos diz que Deus lhe mostrou um dia o lugar que ela teria ocupado no fundo do inferno, se houvesse cedido a uma tentação de vaidade. Ó meu Deus! Quão funesto nos é, pois, o pecado venial! E não obstante isto, temo-o tão pouco, cometo-o tão facilmente! Ó Senhor, inspirai-me o horror a ele para sempre!

SEGUNDO PONTO

Males que nos causa o Pecado Mortal

1.º Tira-nos a amizade de Deus, e deixa-nos o Seu ódio. Antes de pecar, éramos o filho amado de Deus, o Seu templo, e o objeto de toda a Sua complacência. Erguíamos ao céu olhos cheios de confiança, e ali víamos um Pai que não tinha a nosso respeito senão pensamentos de bondade e de amor. Mas, cometido o pecado, quanto muda a nossa sorte! E que desgraça não veio a ser a nossa! Escravo e habitação do demônio, filho de ira, objeto de maldição, não há já céu para nós, se não nos convertemos; há somente um juiz severo, cuja indignação nos ameaça. Ai! Por pouco que reflitamos, quão desgraçados somos quando nos domina este pensamento: Incorri no ódio de Deus!

2.° O pecado tira-nos a paz do coração, e deixa-nos o remorso. Quando se era inocente, era-se feliz; a tranquilidade reinava dentro de nós; e uma doce alegria revelava exteriormente a felicidade de um coração puro. Mas, pecando, a paz desapareceu e deu lugar à perturbação, ao remorso, à inquietação, à agitação da consciência, que se volta em todo o sentido, e não acha por toda a parte senão a desgraça. Porque Vós, Senhor, fizestes-nos para Vós; e fora de Vós não há paz nem felicidade.

3.° O pecado tira-nos todos os nossos méritos, e deixa-nos a nudez e a indigência. Tivesse um homem vivido sessenta séculos e adquirido a cada momento tantos méritos quantos adquiriram todos os santos: um só pecado mortal destrói tudo, tira à alma todos os seus méritos (2), e a torna incapaz de adquirir outros enquanto lhe estiver sujeita.

4.° O pecado tira-nos o Céu, e deixa-nos o inferno. Enquanto nos achamos em estado de pecado, não podemos aspirar a esses belos tronos, em que devíamos estar sentados, nem a essas corôas, que deviam cingir-nos a fronte, nem à companhia tão deliciosa dos anjos e dos santos, de Maria e da santa humanidade de Jesus Cristo, nem à posse de Deus. O inferno é a única sorte que nos resta. Estão os demônios ao pé de Deus, pedindo licença para ali precipitar o pecador? (3) Que situação, grande Deus! Só um passo me separa do inferno. Não é para mim que ribomba o trovão? Que temerário, que imprudente sou! Perdão, meu Deus, misericórdia! Eu deploro o meu pecado, detesto-o de toda a minha alma.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Utinam frigidus esses! (Ap 3, 15)

(2) Manum suam misit hostis ad omnia desiderabilia ejus (Lm 1, 10)

(3) Vis? Imus? (Mt 13, 28)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo II, p. 162-165)