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Descida do Espírito Santo

Meditação para o Domingo de Pentecostes. Descida do Espírito Santo

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João 14, 23-30

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: «Se alguém me tem amor, há-de guardar a minha palavra; e o meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos morada. Quem não me tem amor não guarda as minhas palavras; e a palavra que ouvis não é minha, mas é do Pai, que me enviou.»

Segunda promessa do Espírito – «Fui-vos revelando estas coisas enquanto tenho permanecido convosco; mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que Eu vos disse.»

Jesus deixa a sua paz – «Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz. Não é como a dá o mundo, que Eu vo-la dou. Não se perturbe o vosso coração nem se acobarde. Ouvistes o que Eu vos disse: ‘Eu vou, mas voltarei a vós.’ Se me tivésseis amor, havíeis de alegrar-vos por Eu ir para o Pai, pois o Pai é mais do que Eu. Digo-vo-lo agora, antes que aconteça, para crerdes quando isso acontecer.

Já não falarei muito convosco, pois está a chegar o dominador deste mundo; ele nada pode contra mim, mas o mundo tem de saber que Eu amo o Pai e atuo como o Pai me mandou.

Meditação para o Domingo de Pentecostes

SUMARIO

Transportar-nos-emos pelo pensamento ao Cenáculo, onde o Espírito Santo desce sobre os Apóstolos; e consideraremos:

1.º As razões da Sua vinda a esta mundo;

2.° Os prodígios das Suas operações divinas no céu e na terra.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De agradecermos de todo o nosso coração ao Espírito Santo tudo o que fez pelo bem da Igreja e pela nossa própria salvação;

2.° De nos oferecermos a Ele para obedecer em tudo às Suas santas inspirações.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Salmista:

“Enviareis o vosso Espírito e se criaram homens novos” – Emittes Spiritum tuum, et creabuntur (Sl 103, 39)

Meditação para o Dia

Transportemo-nos pelo pensamento ao Cenáculo, onde estão reunidos a Santíssima Virgem e os Apóstolos, esperando em fervorosa oração, a descida do Espírito divino. Afiguremo-nos esta maravilhosa descida, essas línguas de fogo que pousam sobre cada um deles, símbolo dessa transformação invisível, que se efetua dentro deles, dessas sagradas chamas de amor e de zelo, que enchem todo o seu interior e os muda em outros homens. Anelemos ser abrasados no fogo sagrado, e chamemos a nós o Espírito divino, autor destes prodígios.

PRIMEIRO PONTO

Porque desce o Espirito Santo neste dia à terra?

Se o Espírito Santo desce hoje à terra não é para nos fazer uma visita transitória: é para nela permanecer sempre conosco até ao fim dos séculos; é para nela fundar e governar para todo sempre a Sua Igreja conservá-la sempre una, santa, católica, apostólica; mantê-la na verdade contra todos os assaltos da impiedade e da heresia; estar presente ao seu ensino, de sorte que possa sempre dizer:

“Pareceu bem ao Espírito e a nós” – Visum est Spiritui Sancto et nobis (At 15, 28)

É para a tornar eternamente fecunda e nela gerar para sempre santos e filhos de Deus, Apóstolos que a levem por toda a terra, mártires que a confirmem como testemunho do sangue, doutores que a alumiem com a sua ciência, almas escolhidas, que a edifiquem com as suas virtudes. Que grande e bela missão! Só um Deus podia cumpri-la. E esta missão é antes obra do Espírito Santo, que das duas outras Pessoas divinas:

1.° Porque Deus, tendo-nos já enviado o seu Verbo, o Seu pensamento, a Sua imagem intelectual, quer que o Seu amor ainda venha visitar-nos, a fim de que se saiba bem, que tudo na Santíssima Trindade é amor por nós: o poder criou-nos e conserva-nos, a sabedoria resgata-nos, e o amor santifica-nos;

2.° Porque a vinda do Espírito Santo carateriza e faz sobressair o espírito da lei nova. Jesus Cristo já não quer, que gemamos debaixo do temor e da servidão; diz ao amor substancial, que une o Pai e o Filho, que é Deus como um e outro:

«Ó Espírito, ó amor, vai ensinar-lhes a servir-me por amor. Infunde-lhes no coração o espírito de adoção dos filhos, pelo qual apelem a Deus seu Pai; o espírito de caridade, o espírito de amor»

Com efeito, tal é, desde o Pentecostes, o caráter próprio da religião. Tudo nela é amor: o amor é todo o Evangelho; o amor, coando em todos os sentidos através do coração como a fonte de vida, eis todo o Cristianismo.

É esta a ideia que dEle fazemos? Diligenciamos realizar esta ideia em todo o nosso procedimento, principalmente nos nossos exercícios de piedade e na recepção dos Sacramentos? É o amor, que nos domina, que nos inspira? É a nossa vida uma vida de amor?

SEGUNDO PONTO

Maravilhosas operações do Espírito Santo no céu e na terra

Podemos considerar estas operações no seu conjunto e separadamente:

1.º Se as consideramos em seu conjunto, elas oferecem um magnífico espetáculo. Começam no seio do Pai, onde o Espírito Santo só ama perfeitamente os atributos divinos, assim como o Pai só os conhece perfeitamente e o Verbo só os louva dignamente. Este amor delicia o Pai e o Filho; e a Sua felicidade eterna. Se do seio do Pai passamos a Maria, aos Anjos e aos Santos, vemos o Espírito divino, que os move e os anima todos, que vivifica o céu inteiro, o abrasa e lhe faz entoar os seus magníficos cânticos em honra de Deus. Se de lá descemos à terra, vemos nela ainda o mesmo Espírito divino inspirando todas as almas santas, infundindo-lhes no coração tantos sentimentos nobres, tantos louvores e amor, que sobem incessantemente ao céu: de sorte que é um só e mesmo. Espírito, que faz orar todos os santos na terra e no céu, que anima o mesmo Deus e a sua mesquinha criatura, e forma como um magnifico concerto, uma sublime harmonia à gloria das três Pessoas divinas. Doce verdade, que deve incitar-nos a fazer tudo, a dizer tudo e a pensar tudo em união com o Espírito Santo e pelos seus impulsos.

2.° As operações do Espírito Santo separadamente não são menos admiráveis. Que maravilha ver o grande Deus eterno ocupado em santificar cada alma, batendo à porta de cada coração, quando não lh’O querem abrir (1), batendo a ela anos inteiros sem que o Seu amor se deixe descoroçoar com as recusas; e quando O acolhem, esclarecendo a inteligência, abrasando a vontade, repreendendo-a ou animando-a, ora atraindo-a com a doçura da Sua unção, ora aperfeiçoando-a com uma aparente severidade, mas sempre trabalhando por que Jesus se forme nela (2).

Oh! Quão bem merecem estes prodígios todos os nossos louvores, todo o nosso recolhimento e amor, principalmente no grande dia do Pentecostes!

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Ecce sto ad ostium et pulso (Ap 3, 20)

(2) Filioli mei, quos iterum parturio, donec formetur Christus in vobis (Gl 4, 19)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo III, p. 115-119)