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Amor devido à Eucaristia

Amor devido à Eucaristia

Meditação para a Quinta-feira na oitava do Santíssimo Sacramento

SUMARIO

Meditaremos o nosso segundo dever para com a Eucaristia, que é amá-la; e consideraremos:

1.º Quanto Jesus na Eucaristia merece todo o nosso amor;

2.° Como havemos de mostrar-Lhe este amor

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De formarmos muitas vezes, até no meio das nossas ocupações, aspirações de amor para com Jesus sacramentado;

2.° De Lhe oferecermos todas as nossas ações com espírito de reconhecimento e de amor.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra da Igreja:

“Quem não amará aquele que nos ama tanto?” – Sic nos amantem quis non redamaret?

Meditação para o Dia

Cheguemo-nos pelo pensamento ao santo tabernáculo, com os sentimentos de Moisés, quando se aproximava da sarça ardente (1), ou com o desejo do homem que, tendo frio, se chega a um grande fogo para se aquecer. A sagrada Eucaristia é um fogo de amor: aqueçamo-nos a Ele (2).

PRIMEIRO PONTO

Quanto Jesus na Eucaristia merece todo o nosso amor

Jesus na Eucaristia merece todo o nosso amor, por toda a sorte de títulos:

1.° Como Deus, pois que a plenitude da divindade habita substancialmente neste mistério, não menos digno de aí ser amado do que no mesmo céu, onde os anjos e os santos se abrasam para com Ele em um eterno amor, que nunca resfria nem afrouxa.

2.° Como Deus-Homem, pois que por este título junta às inefáveis amabilidades do Deus Criador todas as perfeições, que pode comportar uma criatura.

3.° Em razão do seu ser Eucarístico. Ó milagre de amor! Jesus Cristo não só se humilha aqui mais ainda do que no presépio e Calvário; mas se multiplica em milhares de lugares ao mesmo tempo; mas põe-Se ao alcance de todos, e Se dá a todos os que querem recebê-lO; mas Se mostra, debaixo de certos pontos de vista, mais amável que no mesmo céu. Porque, no céu, não deroga a dignidade de Sua posição; está no Seu lugar, no apogeu da glória; mas aqui desce dela por amor de nós e reduz-Se à mais extrema pequenez.

No céu não se comunica senão aos santos, que só tem coração para O amar; aqui entrega-Se até aos pecadores, que não O amam, admite-os à Sua presença, dá-lhes a comer a Sua carne, a beber o Seu sangue, a gozar toda a Sua sagrada pessoa, se querem recebê-la.

No céu está cercado dos louvores de toda a côrte celestial; aqui está exposto às irreverências, às profanações e aos ultrajes.

No céu é um rei no seu trono; aqui é uma vítima, que se imola pelos pecadores, pelos Seus súditos rebeldes; um medianeiro, que suplica, que pede misericórdia, que se interpõe entre os nossos crimes e as vinganças divinas.

Ó Jesus sacramentado! Quão amável Sois! Quão bem mereceis todo o nosso amor! E não termos milhares de corações para Vos oferecer em reconhecimento! Quão ingrato sou por ter tido tantas vezes o coração frio para conVosco! Mas de hoje em diante me aplicarei a amar-Vos e amar-Vos sempre mais, sempre mais cada dia do que na véspera.

SEGUNDO PONTO

Como havemos de demonstrar o nosso amor a Jesus no Santíssimo Sacramento

1.º O amor quer ser retribuído com amor. É-nos preciso, portanto, ter um coração cheio de amor para com a sagrada Eucaristia. E que havemos nós de amar, meu Deus, se Vos não amarmos? Somos dignos de ter um coração, senão o consumirmos todo em amar-Vos? Se só estivésseis em um lugar do mundo, e não pudéssemos chegar ao pé de Vós senão uma vez na vida, com que amor nos aproximaríamos da Vossa sagrada pessoa? Mas porque Vos temos sempre ao pé de nós, porque a todas as horas do dia e da noite podemos gozar-Vos, ó vergonha! Ó ingratidão! Familiarizamo-nos conVosco, não nos comove já o Vosso amor, e à força de sermos amados, tornamo-nos ingratos. É tempo de acabar com tão indigna conduta, e como Luiz de Gonzaga, Madalena de Pazzi, Catarina de Sena, Francisco de Assis, Tereza e muitas outras almas nobres, não respirar senão amor para com a Eucaristia.

2.° Este amor deve-nos fazer prezar todos os momentos, que possamos passar em adoração nas nossas igrejas, e principalmente fazer-nos olhar a sagrada comunhão e a ação de graças, que se lhe segue, como um antegosto do céu.

3.° Finalmente, devemos lembrar-nos da sagrada Eucaristia e amá-la fora da igreja e por toda a parte. O nosso coração deve estar incessantemente no santo cibório com as sagradas hóstias, empregado em adorar, amar e louvar o Deus, que o amor ali conserva encerrado; devemos incessantemente, no meio das nossas maiores ocupações, fazer-Lhe companhia com fervorosas aspirações e a oferta de tudo o que somos.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Vadam, et videbo visionem hanc magnam (Ex 3, 3)

(2) Quis, juxta copiosum ignum stans, non parum caloris indepercipit? (IV Imitação 9, 3)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo III, p. 177-180)