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A Missa, culto de submissão prestado a Deus

Meditação para a Terceira Terça-feira depois de Pentecostes. A Missa, culto de submissão prestado a Deus

Meditação para a Terceira Terça-feira depois de Pentecostes

SUMARIO

O culto de latria, que tributamos a Deus pelo Santo Sacrifício, e ao qual devemos unir-nos, junta à suma estima e ao profundo respeito para com Deus uma completa submissão ao Seu supremo domínio. Veremos, portanto:

1.° Como Jesus, no Santo Sacrifício tributa esta submissão a Seu Pai;

2.º Como nós mesmos devemos ser em tudo perfeitamente submissos ao supremo domínio de Deus.

— Tomaremos depois a resolução:

1.º De nos conservarmos sempre em uma humildade e amorosa submissão a todas as ordens da Providência;

2.º De sacrificarmos com alegria, até nas coisas que nos custam mais, a nossa própria vontade ao supremo domínio e à vontade de Deus.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do grande sacerdote Eli, sabendo da morte de seus dois filhos e do desastre do seu povo:

“Deus é o Senhor: faça o que for agradável a seus olhos” – Dominus est: quod bonum est in oculis suis faciat (1Sm 3, 18)

Meditação para o Dia

Adoremos o supremo domínio de Deus sobre todo o universo, sobre a Igreja e sobre o mundo, sobre os nossos bens e as nossas vontades, sobre o nosso corpo e a nossa alma. Louvemos e amemos este supremo domínio, submetendo-nos a tudo o que Ele quer e quiser fazer de nós:

“Senhor, todas as coisas estão de baixo do vosso domínio; sois senhor de tudo” – Domine… in dictione tua cuneta sunt posita… Dominus omnium es (Est 13, 9)

PRIMEIRO PONTO

Jesus Cristo, no Santo Sacrifício, ensina-nos, com o Seu exemplo, a Submissão a Deus

Toda a vida de Jesus Cristo foi uma vida de humilde e amorosa submissão a Deus Seu Pai. Entrando no mundo, refere São Paulo, Ele diz:

“Os holocaustos e os sacrifícios dos animais não vos são agradáveis; mas formastes-me um corpo. Eis aqui: eu serei a vítima de expiação; farei em tudo a vossa vontade” – Hostiam et oblationem noluisti: corpus autem aptasti mihi… Tunc dixi: Ecce venio (Hb 10, 5)

Até ao Seu último suspiro, nunca se separa um instante, nem sequer na menor das Suas ações ou vontades, deste espírito de submissão, e de dependência.

“Eu sempre faço o que é do agrado de meu Pai” – Quae placita sunt ei, facio semper, dizia Ele (Jo 8, 29)

“Não se faça o que eu quero, senão o que vós quereis” – Non quod ego volo, sed quod tu (Mc 14, 36)

“A minha comida é fazer eu a vontade daquele que me enviou” – Meus cibus est ut facium voluntatem ejus quid misit me (Jo 4, 34)

Todavia nunca esta submissão e dependência foram tão notáveis, tão incompreensíveis como no Santo Sacrifício. Ali sujeita-Se a descer do céu à terra sobre todos os altares do mundo, todas as vezes que um sacerdote lá O chamar; e apenas chega ao altar, imola-Se misticamente para reconhecer e confessar que Deus, como Supremo Senhor do universo, tem o poder de vida e de morte sobre todo o ser criado; e depois de prestada esta sublime homenagem, fica num sacrário em um estado contínuo de imolação para prosseguir na glorificação do supremo domínio de Deus sobre toda a criatura. Ali sujeita-Se a tudo o que Seu Pai permitir, que Lhe façam, a ser levado, colocado, acolhido como quiserem; sujeita-Se ao abandono dos homens, à solidão e escuridão do sacrário, às irreverências dos maus cristãos; sujeita-Se a que O deixem cair no chão por descuido ou malícia, a ser calcado aos pés, sepultado vivo numa consciência manchada, a sofrer a ação dos ladrões que roubaram os vasos sagrados, ou do fogo e de outros elementos que puderem alcançá-lO.

É possível mais plena submissão a Providência, mais completo abandono ao supremo domínio de Deus? Depois de semelhante exemplo, quão desairoso me seria não me submeter a todas as disposições da Providência, murmurar ou me queixar? Consideremos em que temos faltado a este dever, e proponhamo-nos cumpri-lo mais fielmente.

SEGUNDO PONTO

Devemos imitar Jesus Cristo na Sua perfeita Submissão à Providência

A exemplo da adorável Vítima imolada sobre o altar, devemos abandonar-nos com tudo o que temos e somos à vontade de Deus, para que a Seu grado disponha de nós e de todos os nossos bens. Não há exceção neste abandono e sacrifício. Devemos imolar-Lhe o nosso corpo para o conservar numa modéstia e pureza perfeitas; o nosso espírito, para só pensar em Deus e segundo Deus; o nosso coração, para não amar senão a Ele e com todas as nossas forças; todo o nosso ser, finalmente, para O servir. Ó Rei dos reis, soberano Senhor de toda a criatura, devemos nós dizer-Lhe, abismado diante de Vós no sentimento da minha dependência, reconheço com alegria o Vosso supremo domínio; estimo muito ser o súdito de tão grande Senhor, e que desponhais de mim como de coisa que Vos pertence por milhares de títulos. e que eu folgaria de dar-Vos, se Vos não pertencesse (1). Ó meu Deus! Quão horrendo não é o pecado, que é uma recusa de submissão à Vossa augusta majestade e uma espécie de rebelião contra o Vosso supremo domínio! Ao contrário, quão justa é a tranquila e resignada submissão a todas as ordens da Vossa Providência, e quanto desejo ver todos os corações do universo submissos ao Vosso absoluto domínio! Por isso, meu Deus, eu detesto todo o pecado, e de qualquer modo que desponhais de mim ou de tudo o que me respeita, direi sempre:

“Assim é, porque assim foi do Vosso agrado” – Ita, Pater, quonium sic fuit placitum ante te (Mt 11, 26)

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Tu Domine universorum, qui nuhius indiges (2Mac 14, 35). Tu es, Domine, qui vitae et mortis habes potestatem (Sb 16, 13)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo III, p. 194-197)