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A Missa, culto de Expiação

Meditação para a Terceira Quinta-feira depois de Pentecostes. A Missa, culto de Expiação

Meditação para a Terceira Quinta-feira depois de Pentecostes

SUMARIO

Consideraremos que a Missa é não só um sacrifício latrêutico e eucarístico, mas também um sacrifício expiatório; e que por este título ela é:

1.° Uma completa reparação da ofensa que o pecado faz a Deus;

2.° Uma satisfação superabundante pelas dívidas da Igreja padecente e militante.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De nos renovarmos no espírito de penitência, e de aceitarmos de boa vontade, neste intuito, todas as penalidades da vida;

2.° De sermos sensíveis à ofensa de Deus, de a repararmos com atos de amor e de contrição, e fazermos o que pudermos pela conversão dos pecadores.

O nosso ramalhete espiritual será a suplica de Joel:

“Perdoai, Senhor, perdoai ao nosso povo, e aplacai a Vossa ira contra nós” – Pasce, Domine, pasce populo tuo, ne in aeternum irascaris nobis (Jl 2, 17)

Meditação para o Dia

Adoremos Jesus Cristo como nosso medianeiro e pontífice, pondo-Se de permeio entre o céu irado e a terra delinquente, afastando o raio de sobre as nossas cabeças, e fazendo dos relâmpagos da cólera divina uma chuva de graças (1). Agradeçamos-Lhe esta caridosa mediação, a que o mundo deve a sua existência.

PRIMEIRO PONTO

O Santo Sacrifício é uma completa Reparação da Ofensa que o pecado fez a Deus

O cristão que reconhece pela luz da fé quão grande mal é essa ofensa, aflige-se, deplora-o, como o santo rei Davi e o profeta Jeremias; e quando considera quão comum é este grande mal, quando olha para todos os pecados da terra:

«Pai celestial, exclama ele, Pai tão digno de toda a honra e de todo o amor, quanto me aflijo de ver, que os homens ingratos, em vez de Vos amar, Vos ofendem! Oh! Quão desejara oferecer à Vossa honra ofendida uma reparação igual à ofensa!»

Então, do fundo da sua dor, eleva o seu pensamento para o Santo Sacrifício, e vendo um Deus que Se oferece em pessoa como hóstia expiatória por todos os pecados da terra:

«Ó meu Deus!, continua ele, com imensa consolação, eis aqui o que eu buscava; eis aqui uma reparação de todos os pecados do mundo, não só já igual, mas superior à ofensa. Porque um Deus, satisfazendo-Vos em pessoa a ofensa com humilhações infinitas, honra-Vos incomparavelmente mais do que todos os pecados dos homens e dos demônios juntos podem ofender-Vos. De todo o meu coração me uno a esta superabundante reparação; uno-me a ela pela aversão e detestação do pecado, pelo zelo da Vossa glória e de todas as boas obras, que podem ou honrar-Vos, ou converter os pecadores e salvar as almas»

São estas as nossas disposições?

SEGUNDO PONTO

O Santo Sacrifício é uma Satisfação superabundante pelas dívidas da Igreja Padecente e Militante

Jesus Cristo, no Santo Sacrifício, é o grande penitente da Igreja universal, e oferecendo-Se como vítima expiatória, abrevia os tormentos das almas do purgatório; pede para os pecadores o dom da penitência, e obtém essas conversões, que às vezes espantam o mundo. Clama misericórdia; afasta os flagelos, com que Deus, do contrário, feriria a terra; e é esta a razão da paciência de Deus no meio de todos os delitos e desordens. Se a Sua ira não se manifesta, ou se detém depois de alguns castigos destinados a servir-nos de avisos, é porque, como outrora Moisés e Arão diante do antigo propiciatório, ou antes muito melhor que esses condutores do povo de Israel, Jesus Cristo, nosso grã-sacerdote, advoga no altar a causa do mundo delinquente e aplaca a vindita celeste.

Unamo-nos ao ardente zelo de Jesus Cristo em aliviar as almas do purgatório e expiar os pecados do mundo. Deus, em Sua admirável clemência, nada deseja tanto como ver-nos resistir à Sua ira unidos com Jesus Cristo, fazer penitência pelos pecadores, sacrificar-nos por Ele como outras tantas hóstias expiatórias, e pedir para nós os castigos, que quer infligir ao Seu povo. Ele queixa-Se pelo Seu profeta de não achar bastantes almas antepostas à Sua vindita.

“Busquei entre eles, diz ele em Ezequiel, um homem que se interpusesse como uma sebe, e que posto em campo contra mim acudisse por esta terra para eu não a destruir, e não o achei. Não viestes, diz ele no mesmo profeta, antepor-vos à minha justiça como um muro pela causa de Israel” (Ez 22, 30)

Ora, se Deus se queixava deste modo na antiga lei, quanto mais se não queixaria de nós na nova lei, se não nos aproveitássemos da vantagem que temos de poder oferecer-Lhe, em apoio da nossa oração, uma hóstia expiatória de um valor infinito? Temos nós até ao presente compreendido bem este dúplice dever de expiação pelas almas do purgatório e pelos pecados da terra?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Fulgura in pluviam fecit (Sl 134, 7)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo III, p. 201-203)