Skip to content Skip to footer

A Caridade sacrifica-se até mesmo pelos Inimigos

Meditação para a Vigésima Segunda Segunda-feira depois de Pentecostes. A Caridade sacrifica-se até mesmo pelos Inimigos

Meditação para a Vigésima Segunda Segunda-feira depois de Pentecostes

SUMARIO

Meditaremos sobre dois outros caracteres da Caridade, que são:

1.° Sacrificar-se pelo próximo;

2.° Até pelos próprios inimigos.

– Tomaremos depois a resolução:

1.° De nunca recusarmos ao próximo os serviços que pudermos prestar-lhe, ainda quando nos custem sacrifícios;

2.° De perdoarmos todo o mal que nos fizerem, a ponto de não guardarmos e menor ressentimento disso, e de nos reconciliarmos o mais cedo possível.

O nosso ramalhete espiritual serà a palavra do Apóstolo:

“A caridade não busca os seus próprios interesses, não se irrita” – Charitas non quaerit quae sua sunt, non irritatur (1Cor 13, 5)

Meditação para o Dia

Adoremos Jesus Cristo ensinando-nos com o seu exemplo a sacrificando-nos pelo próximo, até pelos nossos inimigos. Ele amou todos os homens, ainda os mais ingratos, ainda os maiores pecadores, a ponto de se entregar por eles aos tormentos e à morte. Agradeçamos-Lhe tanto amor, e roguemos-Lhe que nos permitia imitá-lO.

PRIMEIRO PONTO

A Caridade sacrifica-se pela próximo

As leis da amizade puramente humana impõem ao homem a obrigação de se sacrificar pelos seus irmãos: porquanto, que homem teria por amigo aquele que restringisse a sua amizade à condição de não se incomodar para prestar algum serviço? Com maior razão, a caridade cristã, tão superior à amizade natural, essa caridade formada pelo preceito do Senhor:

“Amai-vos uns aos outros assim como também eu vos amei” (Jo 13, 34)

Deve elevar-se até ao sacrifício: sacrifício das comodidades e do prazer, sacrifício da fortuna e da própria vida em certos casos. Devemos estar dispostos, dizia São João aos fiéis, a sacrificar em serviço do próximo tudo o que possuirmos, tudo o que somos, e a nossa mesma vida, sendo necessário, pois Jesus Cristo, nosso modelo, sacrificou a sua vida por nós (1). De mui boa vontade, dizia São Paulo aos Coríntios, sacrificarei por vós o que possuo, e me sacrificarei eu mesmo (2). Conformes com estes santos ensinos e belos exemplos, os primeiros cristãos vendiam os seus bens e entregavam o seu preço aos Apóstolos, para que o distribuíssem segundo as necessidades de cada um: e nos séculos seguintes, vemos uns dispender a sua fortuna em esmolas e boas obras, outros sacrificar a sua vida indo evangelizar os povos idólatras, outros consagrar a sua existência nos hospitais ao cuidado dos doentes, nas escolas ao ensino da infância, nos países bárbaros à redenção dos cativos, ou na sua pátria ao alívio de todos os infortúnios.

Examinemos a nossa consciência: temos nós uma caridade que se sacrifica pelo próximo, que não poupa tempo, nem trabalho, nem dinheiro para o beneficiar? Não nos impede algumas vezes o egoísmo de nos compadecermos dos outros, de os socorrermos com as nossas esmolas?

SEGUNDO PONTO

A Caridade sacrifica-se até pelos próprios inimigos

A caridade sacrifica-se por todos os homens sem exceção, ainda aqueles que nos odeiam, nos ofenderam com as suas palavras ou obras, e praticaram para conosco as maiores injustiças; porque todos são filhos de Deus, e Deus não quer que se tenha ódio a um só de seus filhos; todos são membros do mesmo corpo, cuja cabeça é Jesus Cristo, e Jesus Cristo não quer que os membros se dividam, se odeiem, e reputa feito a Si o que se faz ao mais pequeno dentre eles. Este amor dos inimigos tem até a vantagem de que se está mais seguro de amá-los com um amor sobrenatural e meritório, enquanto que o amor dos amigos está exposto a ser puramente natural e sem mérito. Quanto à prática deste preceito, ensinam-no-la claramente quatro palavras do Evangelho:

“Amai os que se tornam vossos inimigos, não digais mal deles, orai por eles, fazei-lhes bem” – Diligite…, benedicite…, orate…, benefacite (Mt 5, 41; Lc 6, 27.28)

1.º Amai-os, isto é, não guardeis nenhuma animosidade ou aversão, vingança ou ressentimento contra eles; não vos limiteis a não lhes querer mal, mas estai dispostos a reconciliar-vos com eles o mais cedo possível, e não hesiteis em antecipá-los, ainda quando sejam vossos inferiores, ainda quando tiverem mais culpas do que vós; finalmente, tende-lhes uma terna afeição, e aproveitai todas as ocasiões de lh’a provar.

2.° Não digais mal deles, isto é, nunca vos queixeis deles, nem da ofensa que vos fizerem e, ao contrário, dizei deles todo o bem que puderdes.

3.° Orai por eles, isto é, se tem culpas ou defeitos, implorai para eles a graça, que corrige e santifica, lamentai-os, e pedi ao céu que eles sé tornem melhores; se são desditosos, rogai a Deus que se compadeça deles e os faça felizes.

4.° Fazei-lhes bem, isto é, ajudai-os com os vossos conselhos, com o vosso crédito, até com o vosso dinheiro, se for necessário, e acudi às suas necessidades, ainda quando vo-lo não peçam. Se persistirem em ser vossos inimigos, continuai a amá-los, como o Apóstolo São Paulo, que dizia aos Corintios:

“Ainda que amando-vos mais eu seja menos amado, não deixarei de me sacrificar por vós” – Licet plus vos diligam, minus diligar (2Cor 12, 15)

É assim que nos portamos com os nossos inimigos ?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Quoniam ille aniumar suam pro nobis possuit, et nos debemus pro fratribus animas ponere (1Jo 3, 16)

(2) Libentissime inpendam, et superimpendar ipse pro animabus vestris (2Cor 12, 15)

Voltar para o Índice das Meditações Diárias de Mons. Hamon

(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo V, p. 138-141)