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2.º Meio de virmos a ser Humildes: A Humilhação

Meditação para o Décimo Segundo Sábado depois de Pentecostes. Segundo meio de virmos a ser Humildes: A Humilhação

Meditação para o Décimo Terceiro Sábado depois de Pentecostes

SUMARIO

Meditaremos sobre outro meio de vir a ser humildes, que é:

1.° Exercitarmo-nos na prática da humildade;

2.° Aplicar esta pratica a todos os atos da nossa vida.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De nos conservarmos muito humildes nas nossas orações;

2.º De empregarmos em todas as nossas relações com o próximo maneiras e palavras conformes à humildade.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Sábio:

“A soberba é aborrecível a Deus e aos homens” – Odibilis coram Deo est et hominibus superbia (Ecl 10, 7)

Meditação para o Dia

Adoremos Jesus Cristo humilhado no seu presépio, humilhado na sua infância, humilhado na sua idade madura, humilhado na sua morte, humilhado na Eucaristia. Louvemo-lO o amemo-lO nestes diversos estados, e roguemos-Lhe que nos comunique a sua graça.

PRIMEIRO PONTO

A humilhação ou a prática da humildade é o melhor meio de vir a ser humildes

Há uma essencial diferença entre a humilhação e a humildade. A humilhação é um fato exterior, que não depende de nós, e que sofremos muitas vezes sem querer. A humildade é um fato interior, uma disposição da alma que, julgando-se desprezível, aceita a humilhação como coisa que ela merece; é o que se pode chamar a humildade em prática, e o que dizemos ser o melhor meio de nos tomarmos humildes. Com efeito, tanto as artes como as ciências se aprendem pela prática; quem se limitasse a conhecer a teoria da medicina, da arquitetura ou da pintura sem as praticar, nunca seria um bom médico, bom arquiteto, bom pintor. Com maior razão, quem não se exercita pela humilhação na prática da humildade, nunca será humilde. Há na humilhação alguma coisa que mete medo à natureza; e este medo, como qualquer outro, não se cura senão afrontando o que amedronta, e provando assim a nós mesmos que não havia motivo para temer tanto. Ao começar, hesita-se; à medida que se avança, cobra-se ânimo, e acaba-se não somente por superar, mas por amar a humilhação, a exemplo de São João da Cruz, que não ambicionava outra recompensa dos seus trabalhos apostólicos senão o desprezo dos homens. Senhor Jesus, que me desprezeis, é a única recompensa que desejo de tudo o que tenho feito por Vós – Domine Jesu, contemni pro te, diz ele a Nosso Senhor, que lhe apareceu. É porque a humilhação é o caminho que conduz à humildade (1), assim como a paciência conduz à paz, o estudo à ciência. Todo aquele que quer ser verdadeiramente humilde, deve seguir o caminho da humilhação. Assim como um ato exterior de soberba produz ou desenvolve o seu sentimento interior, assim também um ato exterior de humildade, ou, o que é a mesma coisa, uma humilhação bem recebida aumenta em nós o espírito de humildade, pela razão que a prática influi mais na vontade que o pensamento ou desejo, que o objeto presente comove mais que o objeto ausente, e que a experiência ensina melhor as coisas do que a teoria. Por isso Jesus Cristo não se limitou a dar preceitos de humildade e a senti-la profundamente; toda a sua vida foi uma série de humilhações. E porque não as aceitaremos a seu exemplo? O mal, que há no desprezo, é a recusa que se faz de o sofrer. Nada torna tão desprezível como o horror que se tem ao desprezo. Uma verdadeira humildade recebe de boa vontade um desprezo grande ou pequeno. Quem não sabe sofrer o menor desprezo não tem a menor humildade; e nunca se fará progresso sem se querer ser humilde e tido em conta de nada na opinião dos outros. Calculemos segundo este princípio o grau da nossa virtude.

SEGUNDO PONTO

Em que consiste a prática da humildade

Pode-se praticar a humildade:

1.° Nas relações com Deus, estando diante dEle como um pobre que nada possui, como um doente envergonhado das suas enfermidades, como um bichinho da terra rojando ao pé do seu trono, como um nada diante de sua infinita majestade, e dizendo-lhe profundamento aniquilado:

“Eu sou nada, Senhor, e Vós sois tudo: nada posso, e Vós tudo podeis; causo vergonha e horror a mim mesmo, tão profundas são as minhas misérias; e Vós encantais todo o céu com as vossas infinitas perfeições!”

Oh! Quanto agracia a Deus uma alma neste estado, e quantas graças ela atrai sobre si!

2.° Nas relações com o próximo, tomando sempre para nós a menor parte e o último lugar; tratando todos os outros com atenções e respeito, vendo-os de bom grado mais estimados que nós, e alegrando-nos de sermos tidos por ignorantes, a fim de honrar à custa do nosso amor-próprio as humilhações do Verbo Encarnado; recebendo de boamente os conselhos, as repreensões, os mesmos desprezes sem nos justificarmos, nunca falando de nós, sofrendo a contradição com paciência; gostando de ter trato com os pobres, os pequenos e simples, e preferindo a sua companhia à dos grandes e ricos. É assim que os santos se firmaram e aperfeiçoaram na humildade; e só é assim que nós a adquiriremos.

3.º Em nós mesmos, sofrendo com alegria os defeitos naturais que nos humilham; conversando muitas vezes interiormente acerca do pouco que somos, do nosso pouco talento e juízo, de nossa pouca virtude, comparada com a dos santos; distraindo-nos prontamente de tudo o que o amor-próprio nos poderia dizer do nosso mérito ou das nossas graças; enfim, principalmente tendo-nos em conta de nada no conceito dos homens e julgando-nos ainda mais desprezíveis que os pecadores e os infiéis que, se houvessem recebido tantas graças como nós, valeriam talvez mais do que nós, que os mesmos demônios, que só cometeram um pecado de soberba, enquanto que nós temos cometido tantos outros.

Examinemos a nossa consciência: exercitamo-nos habitualmente nestas prática de humildade?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Humiliatio via est ad humilitatem (São Bernardo ep. 87)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo VI, p. 145-148)