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Meditação para o 9º Domingo do Tempo Comum

Cristo e o Centurião
Por Dom Henrique Soares da Costa
A Palavra do Senhor que a nossa Mãe católica nos faz escutar neste Domingo apresenta-nos duas realidades aparentemente contraditórias, mas, na verdade, complementares.

Primeiro um olhar para os que estão fora do Povo de Deus. É o caso do oficial romano do Evangelho de hoje. Ele era um pagão, oficial de um exército ímpio, que oprimia duramente o povo de Israel. E, no entanto, esse homem era amigo dos judeus, era temente ao Deus de Israel, a ponto de ajudar decisivamente na construção da sinagoga local. Mais ainda: vê-se, no seu modo de reportar-se ao Senhor Jesus, tanta humildade, tanta benignidade de coração, que ele merece o elogio do Senhor e é um exemplo para todos nós!

Vede, Irmãos, que temos muito a aprender com esse pagão!

Primeiro, ele, um centurião, um oficial, sabe amar, sabe compadecer-se e querer o bem de um seu inferior hierárquico. Vê-se aqui um homem de coração bom, benigno, que se condói da dor alheia, a ponto de suplicar a um rabi desconhecido – esse Jesus que ele não conhecia pessoalmente – que curasse o seu servo…

Depois, a generosidade para com o Senhor Deus: ainda que pagão, ele era temente a Deus, um simpatizante do judaísmo. E, crendo, não hesitou em gastar do seu dinheiro construindo uma sinagoga! Ah, Irmãos, que o modo como nos relacionamos como dinheiro, o modo como nos comportamos com nosso dinheiro nas coisas de Deus dizem muitíssimo da verdade ou da mentira da nossa fé! Órgão sensível é o bolso! Quantos há que usam seu dinheiro como se Deus não existisse, não fosse Deus e rezam e dizem que creem como se isso não tivesse nada a ver com o modo como utilizam seus bens materiais ou espirituais! Esse pagão crê no Deus de Israel e demonstra sua fé pelo uso que faz do seu dinheiro e do seu afeto: com parte do seu dinheiro constrói uma sinagoga e com seu afeto preocupa-se com um pobre servo! Exemplo para nós! Mais ainda: desafio para nós! E até mesmo acusação contra nós, por vezes apegados, por vezes frios de coração!

Em segundo lugar, esse homem é humilde! Faz o bem, é generoso por causa do Senhor Deus, mas não se julga com direitos adquiridos diante do Senhor! Ele é um pobre de coração, desses, a quem pertence o Reinado de Deus! Ele não se julga digno do Senhor Jesus: nem de ir pessoalmente encontrá-Lo, nem de recebê-Lo em sua casa! Esse homem sabe e nos ensina que não temos direitos diante do Senhor, pois tudo é graça, tudo é dom, tudo é misericórdia imerecida! Que tristeza quando achamos que temos uma folha corrida de serviços prestados ao Senhor e à Sua Igreja, quando nos julgamos credores do Senhor! Convertamo-nos, Irmãos! Convertamo-nos!

Em terceiro lugar, a fé desse oficial em Jesus: ele tem certeza que, com uma só palavra, o Senhor nosso pode curar seu servo! Temos uma fé assim no Senhor? Acreditamos que, venha o que vier na nossa existência, tudo está nas mãos do Senhor? Somos como aquele estrangeiro da primeira leitura, capaz de sair de si, da sua terra, para dirigir-se ao Senhor com um coração pobre e confiante? Ao humilde diante do Senhor, ao pobre de coração, ao que confia, ao que sabe esperar e aceitar os caminhos do Altíssimo, o Senhor Se manifesta com Sua graça, Seu amor, Seu consolo, seu perdão!

Caríssimos, fiquemos com estas lições que a Palavra do Senhor nos dá! Lembremo-nos: nós, cristãos, nós, filhos da Mãe católica, Esposa do Cristo, não somos melhores nem piores que ninguém; mas, deveríamos ser diferentes: deveríamos ser humildes, generosos, confiantes, pobres, disponíveis diante do Senhor! Que lástima, que muitas vezes não sejamos assim! – Perdão, Senhor, por nossa miséria! Converte-nos, Senhor, e seremos convertidos!

Há ainda uma segunda realidade nas leituras de hoje. São Paulo censura duramente os gálatas por abandonarem o Evangelho pregado por ele, Apóstolo de Jesus Cristo, e correrem atrás de outros pregadores, de um evangelho que não é aquele apostólico: corriam atrás de um tipo de cristianismo que voltava aos preceitos do Antigo Testamento, terminando por negar a liberdade da Nova Aliança em Cristo Jesus! Quantos hoje caem nesse mesmo erro! Vão atrás de pregadores autoproclamados enviados de Cristo, vão atrás da letra do Antigo Testamento e, com ousada ignorância, censuram a fé católica e apostólica, apegando-se à letra da Antiga Aliança e sufocando o Espírito no qual Cristo Jesus nos libertou da servidão da Lei! Esquecem-se esses que “foi para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1).

Cuidado, Irmãos, porque a fé não é somente aderir a Jesus e a Ele amar! A fé verdadeira exige também a profissão da reta doutrina, da fé apostólica presente no Evangelho pregado ininterruptamente pela nossa Mãe católica. Vale ainda hoje – e sobretudo hoje! – a exortação gravíssima do Apóstolo: “Mesmo que nós ou um anjo vindo do Céu vos pregasse um evangelho diferente daquele que vos pregamos, seja excomungado!” Infelizmente, há tantos pregando tantos evangelhos por aí a fora, enganados e enganadores, longa da Tradição apostólica! De Bíblia nas mãos, esquecem ou nem sabem que “nenhuma profecia da Escritura resulta de interpretação particular” (2Pd 1,20), pois foi à Igreja, Sua Esposa católica, que o Cordeiro imolado e ressuscitado entregou a pregação do Evangelho, garantindo a assistência do Seu Santo Espírito ao conjunto dos legítimos sucessores dos Apóstolos, pastores legítimos do Seu rebanho! Quantos falsos pregadores, quantos autoproclamados apóstolos, bispos, missionários! Como previne as Escrituras, “muitos seguirão suas doutrinas dissolutas e, por causa deles, o caminho da verdade cairá em descrédito. Por avareza, procurarão, com discursos fingidos, fazer de vós objeto de negócios…” (2Pd 2,2-3).

Irmãos amados no Senhor, conservemos nosso coração pobre diante do Senhor como o centurião do Evangelho e firme na fé como o Apóstolo nos exorta a ser na Epístola de hoje! Os tempos são maus! Há muitos que preferem agradar aos homens e ter o elogio e os aplausos do mundo ao invés de procurarem agradar a Cristo Senhor! Vigiemos, convertamo-nos, permaneçamos firmes na nossa profissão de fé e estejamos sempre arraigados no Senhor, nosso Salvador e Deus, bendito pelos séculos dos séculos! Amém.