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Mansidão e Humildade de Jesus Cristo ultrajado

Meditação para a Terça-feira da Quinquagésima. Mansidão e Humildade de Jesus Cristo ultrajado

Meditação para a Terça-feira da Quinquagésima

SUMARIO

Consideraremos quanto o mistério de Jesus ultrajado na Eucaristia faz sobressair:

1.° A Sua humildade;

2.° A Sua bondade;

3.° A perfeição do Seu recolhimento de espírito.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De tratarmos hoje toda a gente com bondade e urbanidade;

2.° No meio da distração geral, de nos conservarmos em um espírito de meditação e de oração.

O nosso ramalhete espiritual será o convite do Salmista:

“Vinde, adoremos e prostremo-nos diante do Senhor” – Venite, adoremus, et procidamus… ante Dominum (Sl 94, 6)

Meditação para o Dia

Adoremos Jesus, tão humilde e cheio de bondade, no Santíssimo Sacramento, dirigindo-nos do altar, em que está exposto, a Sua estimada palavra:

“Dei-vos o exemplo para que como eu fiz, assim façais vós também” – Exemplum dedi vobis, ut quemadmodum ego feci vobis, ita et vos faciatis (Jo 13, 15)

Agradeçamos-Lhe esta excelente palavra e estes santos exemplos.

PRIMEIRO PONTO

Quanto o mistério de Jesus ultrajado na Eucaristia,
faz sobressair a Sua Humildade

Ainda que somente tivesse tido essa vida oculta há mais de dezoito (vinte) séculos, na escuridão do tabernáculo, seria já um rasgo de prodigiosa humildade. Que é, pois, sofrer ali o desamparo dos homens, por amor de quem Ele lá está? A maior parte abandonam-O, uns por esquecimento ou indiferença, outros por desprezo; e Ele passa semanas e meses oculto nessa obscura prisão, sofrendo nela as irreverências, os insultos, as profanações, os sacrilégios de muitos daqueles que vem à igreja, a ponto de ser calcado aos pés dos malfeitores, que Lhe roubam até o pequeno vaso em que está depositado!

Ó Deus dos tabernáculos, quão humilde Sois! Como poderei eu, à vista de tantas humilhações, ter ainda soberba e amor-próprio, exigências e melindres? Como quereria eu ser preferido aos outros, mostrar-me e ser exaltado? Ah! Direi eu antes com Davi:

“Humilho-me, meu Deus, e confundo-me diante de Vós, e me confundirei sempre mais” – Vilior fiam plus quam factus sum (1Sm 6, 22)

SEGUNDO PONTO

Quanto o mistério de Jesus, ultrajado na Eucaristia,
faz sobressair a Sua Bondade

Ofende-se a Jesus no Santíssimo Sacramento, com as distrações voluntárias, a indevoção e a irreverência, com as vistas e palavras petulantes, com a postura pouco religiosa do corpo, com a profanação e o sacrilégio; e entre tantos horrores, é cheio de bondade e paciência; vê tudo, e dissimula; sofre tudo, e cala-se. Há mais de mil e oitocentos (dois mil) anos que não tem mostrado, sequer uma vez, que estava descontente; nenhum sinal de impaciência, nem de ira. Poderia castigar os profanadores, lançá-los no inferno; mas prefere dizer-nos:

“Aprendei de mim que sou manso” – Discite a me quia mitis sum (Mt 11, 29)

Que admirável bondade! Mas também que lição para mim! Que condenação das minhas palavras ásperas e das minhas faltas de paciência! Não posso suportar que os outros me contrariem, que tenham defeitos, e não sejam anjos. Ó Jesus tão benigno, tão manso, ensinai-me a suportar tudo com paciência, sem ofender a ninguém, e a reprimir os meus repentes, os meus arrebatamentos, as minhas acerbas exprobações!

TERCEIRO PONTO

Quando o mistério de Jesus, ultrajado na Eucaristia,
faz sobressair o Seu Recolhimento de Espírito

As coisas exteriores, aquelas principalmente que ferem o nosso amor-próprio, ou que ofendem o nosso caráter, preocupam-nos e distraem-nos, a ponto de não vivermos já nem com Deus para respeitar a Sua presença e Lhe oferecer as nossas obras, nem conosco para estudar os nossos defeitos, seguir a prática das virtudes e todos os impulsos do nosso coração. Jesus, ultrajado no Santíssimo Sacramento, ensina-nos o contrário. Não se deixa distrair pelas contradições das criaturas, pelos desprezos e ultrajes. Sempre recolhido consigo, sempre tranquilo, ora pelos pobres pecadores que O ofendem; e quanto mais O ofendem, mais ora por eles, mais se recolhe dentro em si para fazer à majestade divina retratação pública de tantos ultrajes. É deste modo que conservamos o nosso interior tranquilo e recolhido consigo entre o tumulto das coisas exteriores, principalmente entre os acontecimentos que ferem o nosso amor-próprio?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo II, p. 72-77)