Skip to content Skip to footer

Jesus ora no horto

Meditação II. Para o Domingo da Paixão

1. Sabendo Jesus que era chegada a hora de sua paixão, depois de haver lavado os pés de seus discípulos e instituído o Santíssimo Sacramento do Altar, no qual se nos deixou todo a si mesmo, se dirige ao horto de Getsêmani, onde seus inimigos iriam procurá-lo para o prender, como já era de seu conhecimento. Aí põe-se a orar e eis que se sente assaltado por um grande temor, um grande tédio e uma grande tristeza:

“Começou a ter pavor, tédio e tristeza” (Mt 14,33; Mt 26,37).

Assaltou-o primeiramente um grande temor da morte tão amarga que devia sofrer sobre o Calvário e de todas as angústias e desolações que deveriam acompanhá-la. No decurso de sua paixão, os flagelos, os espinhos, os cravos e os outros tormentos o afligiram cada um por sua vez; no horto, porém, vieram todos juntos atormentá-lo. Ele os abraça a todos por nosso amor, mas isso o faz tremer e agonizar:

“Posto em agonia, orava com maior instância” (Lc 22,43).

2. Doutro lado, assalta-o um grande tédio ou repugnância pelo que devia sofrer e por isso suplica ao Pai que o livre disso:

“Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice” (Mt 26,39).

Ele orou assim para ensinar-nos que bem podemos pedir a Deus nas tribulações que nos livre delas, mas ao mesmo tempo devemos nos submeter à sua vontade e dizer então como Jesus:

“Contudo, não se faça como eu quero, mas como tu queres”.

Sim, meu Jesus, não se faça a minha vontade, mas a vossa. Eu aceito todas as cruzes que quiserdes enviar-me. Vós, inocente, tanto sofrestes por meu amor; é justo que eu, pecador, réu do inferno, padeça por vosso amor tudo o que determinardes.

3. Assaltou-o também uma tristeza tão grande, que bastaria para lhe dar a morte, se ele não a tivesse detido, para expirar crucificado
por nós, depois de ter sofrido ainda mais.

“Minha alma está triste até à morte”(Mc 14,34).

Essa grande tristeza foi motivada pela vista da ingratidão futura dos homens, que, em vez de corresponder a tão grande amor, haveriam de ofendê-lo com tantos pecados, o que o faz suar sangue:

“E seu amor se fez como gotas de sangue correndo sobre a terra” (Lc 22,44).

Assim, ó meu Jesus, mais cruéis que os carnífices, os flagelos, os espinhos, a cruz, foram os meus pecados que tanto vos afligiram no horto. Fazei-me participar daquela dor e aversão que experimentastes no horto, para que eu chore amargamente, até à morte, os desgostos que eu vos dei. Eu vos amo, ó meu Jesus, acolhei um pecador que vos quer amar. Ó Maria, recomendai- me a esse Filho afligido e triste por meu amor.

Voltar para o Índice de Meditações sobre a Paixão de Cristo, por Santo Afonso