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Jesus Cristo ensina-nos o princípio divino que deve dirigir-nos

Meditação para a Terça-feira da 2ª Semana depois da Epifania. Jesus Cristo ensina-nos o princípio divino que deve dirigir-nos

Meditação para a Terça-feira da 2ª Semana depois da Epifania

SUMARIO

Consideraremos ainda, Jesus Cristo como nosso Mestre sob um novo ponto de vista. Estudaremos:

1.° O princípio divino, de onde procediam todas as Suas ações;

2.° Os princípios viciosos, de onde procedem muitas vezes os nossos.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De nada fazermos nem dizermos por impulso natural, mas segundo o espírito de Deus, buscando a Sua vontade e não a nossa;

2.° De entrarmos dentro em nós antes das nossas principais ações, durante elas, e depois delas; antes delas, para nos desprendermos da natureza e nos unirmos ao espírito de Deus; durante elas, para nos conservarmos nesta disposição; depois delas, para ver se a natureza nisso se não entremeteu.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de São Paulo:

“Todos os que são levados pelo espírito de Deus são filhos de Deus” – Quicumque spiritu Dei aguntur ii sunt filii Dei (Rm 8, 14)

Meditação para o Dia

Adoremos Jesus Cristo fazendo tão divinamente todas as Suas ações pequenas ou grandes, em que a natureza não tomava parte. O espírito de Deus era o Seu único princípio, o Seu inspirador, o Seu motor; era a alma delas, se assim se pode dizer. Admiremos, bendigamos a complacência que o Pai celestial punha em ações assim feitas; e roguemos a Jesus Cristo que nos faça compreender e seguir este procedimento.

PRIMEIRO PONTO

Princípio divino de onde procediam todas as ações de Jesus Cristo

Em tudo o que Jesus Cristo fazia, ou pensava, animava-O sempre um princípio divino; o espírito de Deus era como que a alma da Sua alma. “Nada faço de mim mesmo” (1), dizia Ele; “eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma” (2). “Eu não vim de mim mesmo” (3). “As palavras que eu vos digo, não as digo de mim mesmo; o Pai que está em mim, esse é q que faz as obras” (4). Se vai ao deserto, é o espírito de Deus que O guia e inspira as Suas palavras (5). Faça o que fizer, é sempre movido do espírito de Deus que Ele obra. Eis aqui o modelo de uma vida verdadeiramente cristã. Não basta estar e obrar em estado de graça; é preciso, além disto, obrar por espírito de graça, como esses animais misteriosos, de quem Ezequiel refere, que o só ímpeto do espírito de Deus os encaminhava (6). Não convém prevenir, mas sim esperar e seguir logo o im¬pulso do Espírito de Deus, quanto às coisas que se hão-de fazer ou dizer, quanto ao tempo e modo de as fazer e dizer. Nos deveres, que são do nosso gosto, cumpre-nos buscar somente a vontade de Deus, que os ordena. Em tudo devemos servir como que de instrumentos à obra de Deus, e conservar-nos indiferentes debaixo da Sua mão, para que nos aplique ao que Lhe apraz. Por isso, as nossas menores ações se tomarão como outras tantas ações divinas, pois que nelas tomaremos menos parte do que Deus. Serão mais meritórias do que tudo o que um fervor mesclado de vontade própria pode inspirar de grandioso; e se somos homens apostólicos, o espírito de Deus, que é o que falará em nós, obrará prodígios de conversão (7). Examinemos se é assim que fazemos.

SEGUNDO PONTO

Princípio viciosos de onde procedem muitas vezes as nossas ações

1.° Obra-se com irreflexão: custaria muito prestar atenção ao princípio que nos induz a obrar. Vamos para diante sem refletir, oferecendo talvez a nossa ação a Deus, mas com uma vontade que desmente muitas vezes as palavras; e não nos arguimos disto, porque somente olhamos ao exterior do ato, sem nos importarmos com o interior, que lhe forma todo o mérito.

2.° Obra-se por atividade natural. Deixamo-nos levar desta atividade, quando deveríamos contê-la e mortificá-la para dar tempo à graça para obrar e nos inspirar, a fim de fazer tudo com sossego e moderação, sem precipitação nem lentidão.

3.° Obra-se por gosto e prazer. Buscamos com ardor o que nos agrada, e desprezamos o que nos desagrada, como se não devêssemos obrar segundo a vontade de Deus, como se não devêssemos estar dispostos a interromper ou abandonar tudo, quando a vontade de Deus o exige.

4.° Obra-se por vontade própria: é isto que deprava as nossas melhores ações e nos tira a maior parte dos nossos méritos.

Examinemos se as nossas ações não procedem muitas vezes de algum destes maus princípios.

Quantas vezes, ainda que dizendo que queremos agradar a Deus, somente Lhe queremos agradar segundo o nosso gosto ou ao menos sem renunciar a qualquer outro prazer que o de Lhe agradar! Não nos basta só Deus, e não é a Sua vontade unicamente que nos faz obrar.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) A meipso facio nihil (Jo 8, 28)

(2) Non possum ego a meipso facere quidquam (Jo 5, 30)

(3) A meipso non veni (Jo 7, 28)

(4) Verba quae ego loquor, a meipso non loquor. Pater autem in me manens, ipse facit opera (Jo 14, 10)

(5) Spiritus Domino super me… evangelizare… misit me (Lc 4, 18)

(6) Ubi erat impetus spiritus, illuc gradiebantur (Ez 1, 12)

(7) Spiritus Patris vestri qui loquitur in vobis (Mt 10, 20)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo I, p. 208-210)