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Imitar o Verbo Encarnado

Meditação para a Terça-feira da 3ª Semana do Advento. Imitar o Verbo Encarnado

Meditação para a Terça-feira
da 3ª Semana do Advento

Sumário

Meditaremos o nosso terceiro dever para com o Verbo Encarnado, que consiste em imitá-Lo; e veremos:

1.° Que o desígnio de Deus, decretando a Encarnação, foi dar-nos o Verbo Encarnado por modelo;

2.° Que a excelência deste modelo nos convida a imitá-Lo.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De comparar muitas vezes os sentimentos de Jesus Cristo com os nossos, particularmente com relação ao amor da cruz, da pobreza, da preeminência;

2.° De entrar dentro em nós antes de cada ação ou de cada determinação, para fazer esta pergunta a nós mesmos:

Que faria ou que pensaria Jesus Cristo?  – Quid nunc Christus?

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Salvador:

“Dei-vos o exemplo, para que como eu fiz assim, façais vós” – Exemplum dedi vobis, ut quem admodum ego feci vobis, ita et vos faciatis (Jo 13, 15)

Meditação para o Dia

Adoremos o Filho de Deus descido do céu à terra não só para nos remir, mas também para nos ensinar, com o Seu exemplo, a vida cristã. Antes de pregar a Sua doutrina, Ele começou por praticá-la – Caepit facere et docere (At 1, 1). Cumpre os seus conselhos e preceitos antes de no-los dar, para que nenhum pretexto tenhamos para não os observar. Agradeçamos-Lhe tão tocante condescendência, e excitemo-nos a imitá-Lo.

PRIMEIRO PONTO

O desígnio de Deus, decretando a Encarnação,
foi dar-nos o Verbo Encarnado por modelo

Quando Deus, em Seus eternos decretos, decidiu a Encarnação do Verbo, propôs-se patentear aos homens o modelo da nova vida que devia salvá-los. Como homem, o Verbo Encarnado lhes mostraria o caminho; como Deus, lhes garantiria a perfeição do modelo. As Suas virtudes seriam imitáveis, porque seriam praticadas por um homem; e seriam uma norma segura, porque seriam praticados por um Deus. Se, pois, diz São Boaventura, este Verbo adorável se tornou visível na terra, se conversou familiarmente com os homens, se Se sujeitou às ações até mais comuns, não foi senão para nos dar o exemplo em tudo (1).

Dei-vos o exemplo, diz ele mesmo, para que como eu fiz, assim façais vós também. – Exemplum dedi vobis, ut quem admodum ego feci vobis, ita et vos faciatis (Jo 13, 15)

Eu sou o caminho, a verdade e a vida: o caminho, que deveis seguir, a verdade, que deveis ouvir, a vida, que deveis viver – Ego sum via, et veritas, et vita (Jo 14, 6). Finalmente, o Pai eterno declara-nos, por Seu lado, que a predestinação de todos os escolhidos é com a condição de ser conformes à imagem de Jesus Cristo (2). É esta a razão porque São Basílio nos diz que o cristianismo não é senão a imitação de Jesus Cristo (3). São Gregório de Nissa: que não merece a denominação de cristão senão aquele que exprime em sua vida a vida de Jesus Cristo (4); Santo Agostinho: que Jesus Cristo veio à terra para ser o exemplo da vida perfeita (5); São Lourenço Justiniano: que a vida de Jesus é o verdadeiro modelo da perfeição, o tipo da boa vida, o ensino da religião, e a expressão de todas as virtudes (6).
Temos nós até agora bem compreendido esta verdade fundamental, e diligenciado regular a nossa vida pela de Jesus Cristo?

SEGUNDO PONTO

A excelência do modelo que nos é oferecido
em Jesus Cristo convida-nos a imitá-lO

1.° É o modelo mais glorioso: que mais honroso, mais próprio para lisonjear um coração do que ser chamado a imitar um Deus, como diz São Paulo!

2.° É o modelo mais irrecusável: quem poderia achar muito penoso aquilo a que um Deus se sujeitou primeiro, prometendo-nos a Sua graça para elevar a nossa fraqueza à Sua altura?

3.° É o modelo mais amável: porque se nós buscamos assemelhar-nos às pessoas que amamos, se esta semelhança faz que elas nos amem, à imitação de Jesus Cristo, é pois não só um ato de amor para com Ele, mas também um meio de conseguir que nos ame mais.

4.° É o modelo mais ao nosso alcance: a Sua vida não é austera como a de São João Batista, que teria assustado a nossa fraqueza: teve uma vida simples e comum; comeu, dormiu, trabalhou como nós; padeceu, chorou, passou por todas as privações; para nos servir em tudo de exemplo. Compreendemos nós que felizes somos por ter ante os olhos um modelo tão admirável? Diligenciamos copiá-lO e dizermos conosco:

É assim que Jesus Cristo obraria, falaria, pensaria? É esta a Sua religião, a Sua caridade, a Sua mansidão, a Sua modéstia, a Sua abnegação, o Seu espírito de sacrifício?

É o que conviria dizer conosco todos os dias e a todos os instantes, se fosse possível.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Ad hoc nobis de caelo missus est Filius Dei, ut aperiret nobis vias virtutum, ut sicut ad imaginem ejus naturaliter creati sumus, ita ad morum ejus similitudinem per imitationem virtutis reformemur (De Inst. novit., XXXII, 1)

(2) Quos praeseivit et praedestinavit conformes fieri imaginis Filii sui (Rm 8, 29)

(3) Definito christianismi est imitatio Christi (Reg. fus exp., 43)

(4) Veram Chrsiti appellationem habemus, si Christum vita nostra expresserimus (De perf. christ.)

(5) Venit Christus ut exemplar verum, perfectionem speci men, forma recte vidende, religionis magisterium, cunctarumque norma virtutum.

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo I, p. 80-83)