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História da Igreja 3ª Época: Capítulo V

São Leão IX

São Leão, chamado antes Bruno, nasceu no ano 1002, de real família alsaciana. Fez tais progressos nas ciências, que na idade de vinte e quatro anos foi consagrado bispo de Toul. Para não perder um só momento de tempo, distribuía-o entre a oração, a leitura de bons livros, o estudo, a visita aos hospitais e a instru­ção aos pobres, método que seguiu toda sua vida. Tendo falecido o Papa Damaso II, foi eleito para substituí-lo sob o nome de Leão IX. Teve muito que trabalhar para combater a heresia de Berengário que negava a presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo na Eucaristia. São Leão, depois de tê-la condenado, foi em pessoa a Verceli para assistir a um concílio que esta cidade convocara. Condenou-se nele o herege e seus escritos, condenou-se também e foi lançado ao fogo um livro de João Scoto Erígenes, isto é, Holandês por estar cheio de erros contrários à fé. Depois de ter apaziguado estas turbulências, recebeu Leão uma carta do Patriarca de Constantinopla, chamado Miguel Cerulário, que acusava a Igreja romana porque celebrava a missa com pão ázimo, isto é, sem fermento: jejuava aos sábados, deixava o Alleluia desde a Septuagésima até a Páscoa.

Respondeu-lhe São Leão com muita caridade, observando-lhe que eram estas coisas de mera disciplina e que por isto não davam motivo algum razoável para causar cisma na Igreja. O soberbo patriarca só buscava pretextos para subtrair-se à autoridade do romano pontífice; por isso, fechando os olhos à luz da verdade, renovou o cisma de Fócio que, consumado alguns séculos depois separou a igreja grega da igreja latina, isto é, da Igreja Católica (1034). Este foi o último ano de São Leão. O Santo Pontífice, vendo aproximar-se seu fim, quis que o levassem à basílica vaticana à beira do túmulo, onde pronunciou um discurso comovedor. Em seguida, depois de ter recebido o viático e os demais confortos da religião morreu, aos 52 anos de idade.

Berengário e sua Retratação

Berengário de quem já falamos, era arcediago da igreja de Angers, e foi o primeiro que se atreveu a negar for­mal e publicamente a presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo na Eucaristia. Confundido muitas vezes nas discussões, declarando que se retratava de seus erros, em seguida tornava a recair neles. Depois de uma série de retratações e recaídas, entrou finalmente em si mesmo, converteu-se devéras e passou os últimos anos de sua vida fazendo penitência. Apesar disto, quando estava em ponto de morte, temia os juízos divinos e exclamava chorando:

“Confio que o Senhor não se negará a receber-me em sua glória em vista da penitência que me inspirou; porém temo a sua justiça por causa daqueles a quem eu perverti com meus escândalos”

Ano 1088.

São Pedro Damião

Enquanto Berengário escandalizava a Igreja, edificava-a um grande santo; era Pedro Damião, natural de Ravena, o qual desde menino já havia deixado entrever maravilhosa inclinação para o estado eclesiástico. Achando certo dia uma moeda de preta, apesar de que tivesse dela grande necessidade e lhe faltasse o necessário sustento, quis levá-la logo a um sacerdote, pedindo-lhe para celebrar uma missa por alma de seu pai. Deus recompensou a generosa ação inspirando a um irmão seu para se encarregar dele.

Mandou-o estudar em Parma onde muito depressa foi um dos mais hábeis preceptores. Este ministério proporcionava-lhe ocasião de ser pródigo para com os pobres, a quem recebia com alegria em sua casa e servia com suas próprias mãos, pois via a Jesus Cristo debaixo de seus andrajos. O mundo, porém, não era para ele; por isso decidiu-se a ir para uma ermida nas faldas dos Apeninos na Umbria onde viveu uma vida verdadeiramente angélica. Jejuava todos os dias a pão e água; às vezes passava três dias sem tomar alimento; caminhava descalço, açoitava-se até ao sangue, golpeava com frequência o peito, orava com os braços abertos, dormia pouco e deitado sobre uma esteira estendida no chão. Com seu pesar foi nomeado abade de um mosteiro, que administrou santamente; fundou vários outros, procurando insinuar em todos os corações três máximas fundamentais: Caridade recíproca, solidão e humildade. Tivera desejado passar toda sua vida em tranquila solidão; porém o Papa Estevão IX obrigou-o a aceitar a dignidade de cardeal e de bispo de Ostia. Neste cargo que ocupou sob o pontificado de sete Papas, resolveu os assuntos mais intrincados da Igreja com o maior êxito, conseguiu com seu infatigável zelo, vantagens consideráveis para toda a Igreja e para a da Itália especialmente. Empregou especial solicitude em combater valorosamente os simoníacos e os libertinos daqueles tempos e em promover a disciplina do clero. Ao voltar de uma legação sobreveio-lhe em Faenza violenta febre que o levou ao sepulcro. Ano 1072.

São Pedro Damião deixou muitos escritos utilíssimos pelo que é contado entre os doutores da Igreja.

São Gregório VII

Depois da morte de São Pedro Damião, subiu à cadeira de São Pedro um dos maiores Papas que têm governado a Igreja: foi São Gregório VII, chamado antes Hildebrando. Desde seus primeiros anos profetizou sua futura grandeza, pois ainda menino e sem nenhum conhecimento, estando certo dia a brincar com serragens em uma carpintaria, formulou estas palavras de David: Dominarás de um a outro mar.

Vestiu o hábito dos monges beneditinos em Cluny; passou mais tarde para o mosteiro de São Paulo perto de Roma, onde sua doutrina, santidade, perspicácia e firmeza o tornaram merecedor da dignidade cardinalícia, e foi, em toda a extensão da palavra, um poderoso sustentáculo da Santa Sé sob o pontificado de seus cinco antecessores. Trataram muitas vezes de elevá-lo à cadeira Papal, porém ele sempre se recusou humildemente, até que, a seu pesar, no ano 1073 viu-se obrigado a aceitá-la. Dominou realmente de um a outro mar e, como o sol, espalhou seus raios benéficos em proveito de toda a Igreja. Trabalhou com denodo para extirpar o vício da simonia, confundir os hereges, reformar a disciplina eclesiástica e defender os direitos da Santa Sé apostólica. Empregou grande zelo contra Henrique IV, rei dissoluto e cruel da Alemanha, que desperdiçava as rendas da Igreja em festas e donativos aos soldados que tinha alistado contra a religião, encarcerava e matava os sacerdotes e bispos que se opunham às suas crueldades e sacrilégios. São Gregório conser­vou firme e imóvel contra ele a imunidade eclesiástica o excomungou e depôs, desligando todos os seus súditos da obrigação do juramento. Depois disto os sectários de Henrique e os cúmplices de suas maldades foram castigados de modo visível pela divina Justiça. O mesmo Henrique, abandonado por todos, foi despojado do império por seu filho, e concluiu seus dias morrendo repentinamente.

Morte e milagres de São Gregório VII

Este incomparável Pontífice, depois de ter renovado a face do mundo por meio de sua ciência e piedade, para evitar as tramas do ímpio Henrique, retirou-se de Roma e foi a Salerno, onde caiu gravemente enfermo. Antes de expiar prometeu que, quando mediante os méritos de Jesus Cristo chegasse ao céu, a todos recomendaria vivamente ao Senhor. Pronunciou estas palavras:

“Amei a Justiça e odiei a iniquidade; por isso morro no desterro”

Descansou no Senhor a 25 de Maio do ano 1085, depois de doze anos de glorioso pontificado.

Deus confirmou sua santidade com muitos milagres, entre os quais se nota o seguinte: Enquanto se achava o santo disputando com um homem que lhe negava ser réu de simonia, mandou-lhe que firmasse sua palavra rezando Gloria Patri; porém começando-o por três vezes nunca pode pronunciar as palavras et Spiritui Sancto, porque era culpado dos delitos que se lhe imputavam. Outra ocasião enquanto celebrava a santa Missa, viu-se baixar do céu uma pomba que, indo pousar no ombro direito de Gregório, cobriu-lhe a cabeça com suas asas. Com o sinal da Santa Cruz apagou um incêndio que se tinha ateado em Roma. Seu corpo cinquenta anos depois de sua morte, foi encontrado ainda inteiro com os ornamentos pontificais.