Skip to content Skip to footer

História da Igreja 2ª Época: Capítulo II

São Brás, bispo de Sebaste

Após a morte de São Melquíades foi eleito São Silvestre romano de nascimento, para ocupar o lugar de São Pedro, como pastor da Igreja universal. Coube-lhe a sorte de tomar o governo da Igreja enquanto era protegida por Constantino; porém também teve a dor de ver perseguidos os cristãos pelo imperador Licinio que reinava no Oriente. Este tinha prometido a Constantino não os perseguir; porém faltou a sua palavra. A perseguição fez-se sentir especialmente em Sebaste, cidade cuja sede episcopal achava­se ocupada por São Brás, varão esclarecido por suas virtudes e milagres. Achava-se próximo ao martírio, quando se apresentou uma mãe aflita que pos a seus pés o filho único, próximo a morte, sufocado por ter-se-lhe atravessado na garganta uma espinha de peixe. Brás enternecido fez breve oração, e o menino ficou logo livre de todo tormento e perigo. Deste milagre se originou a devoção que os fiéis tem a São Brás contra males da garganta, como também a benção que estes invocam no dia de sua festa.

Vendo o governador da cidade que o santo de nenhum modo queria sacrificar aos ídolos, ordenou que fosse atirado ao mar. Brás fez o sinal da cruz e começou a caminhar por sobre as águas sem submergir; sentou-se logo sobre elas e convidou aos infiéis que fizessem o mesmo, se acreditavam que seus deuses tinham algum poder. Temerários houve que tentaram fazê-lo; porém submergiram no mesmo instante. Depois destes claros sinais de constância e santidade Brás voltou a terra onde o governador, fê-lo decapitar no ano 315.

Basílica de São Pedro no Vaticano

Constantino com o fim de dar maior esplendor ao cristianismo, erigiu muitas igrejas, entre as quais sobressaem a de São João de Latrão a de São Paulo fora dos muros de Roma, e a Basílica de São Pedro no Vaticano chamada assim porque foi edificada aos pés da colina desse nome. Ainda que sempre tida em grande veneração as relíquias do Príncipe dos Apóstolos, ali guardadas em um oratório secreto, não obstante durante os três primeiros séculos não se lhes pode tributar a honra que mereciam erigindo-se-lhes uma Igreja pública; porém apenas cessaram as perseguições, o túmulo de São Pedro foi o santuário do mundo cristão. Por isto o próprio imperador, para dar um testemunho público de honra ao primeiro vigário de Jesus Cristo, projetou erigir-lhe uma Igreja, conhecida sob o nome de Basílica Constantiniana. De comum acordo com São Silvestre, estabeleceu que esta encerrasse em seu interior o pequeno templo edificado por São Anacleto sobre essas relíquias o dia em que se deu princípio àquela santa obra, despiu-se Constantino do diadema imperial e das demais insígnias reais, e depois de ter-se prostrado em terra, e feito uma humilde oração, tomou uma enxada e cavou no lugar onde deviam assentar os alicerces da nova Basílica, e encheu doze canastras com a terra que se tinha extraído, as quais levou sobre seus ombros em honra dos doze Apóstolos. Desenterrou-se então o corpo de São Pedro e, na presença dos fiéis e do clero, foi colocado por São Silvestre em uma grande caixa de prata fechada numa outra de bronze dourado que se achava fixa no chão. A urna que guardava o sagrado depósito tinha cinco pés de altura, cinco de largura e cinco de comprimento. No centro da tampa que a cobria, pôs-se uma cruz de ouro de cento e cinquenta libras de peso que trazia gravados os nomes de Santa Helena e de seu filho Constantino. Terminado este majestoso edifício e preparada a cripta ou aposento subterrâneo, adornado de ouro e pedras preciosas, e rodeado de grande quantidade de lâmpadas, colocou-se nele o corpo de São Pedro, fechado na dita urna. São Silvestre convidou para esta sonidade muitos bispos e fiéis, e para excitá-los abriu os tesouros da Igreja e concedeu muitas indulgências. Foi extraordinário o concurso, e aquela função serviu de exemplo para a consagração das igrejas cristãs de então e dos séculos vindouros. Este acontecimento deu-se aos 18 de novembro do ano 324. A urna de São Pedro fechada desta maneira, segundo parece, não se tornou a abrir. O sepulcro deste grande Apóstolo sempre foi sobremaneira venerado por todos os cristãos

Ario e sua doutrina

Nosso divino Salvador nos deixou dito no Evangelho, que sua Igreja sempre seria perseguida, e que o inferno poria em campo todas as suas más artes para destruí-la, nunca, porém, poderia prevalecer contra ela. Os três primeiros séculos foram tempos de perseguições, de sangue e de estragos; mas a fé de Jesus Cristo passou gloriosa e triunfante por entre esses desastres. À perseguição seguiu-se o triunfo e a paz, mas assim que pode respirar a Igreja, ao cessarem as perseguições, acometeram-na ferozmente a heresia e o cisma, especialmente por meio de um sacerdote de Alexandria chamado Ario. Era Ario homem ambicioso que se achava disposto a cometer qualquer crime para satisfazer sua vaidade. Teve o atrevimento de pregar contra a divindade de Jesus Cristo afirmando que o Filho de Deus não é igual ao Pai, mas sim criatura sua. Esta doutrina foi desprezada no mesmo instante com o horror que merecia, ouvindo-se reprovar em todas as partes essas impiedades e blasfêmias. Bispos e doutores se levantaram contra Ario com a voz e com escritos; encontrou não obstante partidários enganados por sua hipocrisia, e conseguiu perturbar a Igreja em todas as partes

Concílio de Nicéia

Conhecendo o imperador os progressos da nova heresia, concordou com o Papa São Silvestre, em opor-se a ela, convocando um Concílio Ecumênico, isto e, uma reunião geral dos bispos. Nesse ínterim ordenou a todos os governadores de províncias que os proviessem de todo o necessário para a viagem. O Pontífice consentiu de bom grado e resolveu que o Concílio se reunisse em Nicéia, cidade principal de Bitínia, chamada hoje Isnik, na Anatólia. Abriu-se o Concílio no ano 325 e achavam-se presentes 318 bispos. O Papa, não podendo ir pessoalmente, mandou para o representar a Ósio, bispo de Córdova, e dois sacerdotes romanos chamados Vito e Vicente. Eram, pois, eles os legados do Papa, que deviam presidir em seu nome ao Concílio. foi uma reunião imponente, nunca vista e impossível de se descrever, parte dos prelados que a compunham distinguia-se já por doutrina, santidade e milagres, e muitos deles traziam as cica­trizes dos tormentos que tinham sofrido na última perseguição. No dia em que devia inaugurar o Concílio, reuniram-se todos os bispos em uma grande sala. Constantino, como sinal de respeito aos que se achavam presentes, quis entrar por último, e não quis tomar assento até que o tivessem feito os demais.Tomou parte no Concílio, não como juiz, senão como protetor dos bispos e para impedir que os hereges causassem turbulências.

Ario, que também tinha sido admitido atreveu-se a sustentar jactanciosamente sua blasfêmia em presença do concílio. Horrorizaram-se os Padres, e com argumentos tirados dos Livros Sagrados e da Tradição provaram e definiram que Jesus Cristo é igual ao Pai e verdadeiro Deus, e que tem a mesma substância e a mesma natureza que o Pai. Para exprimir este dogma, empregaram a palavra “consubstancial”. Ósio como presidente do concílio e legado do Vigário de Jesus Cristo, compôs uma profissão de fé conhecida sob o nome de “Símbolo de Nicéia“. Os bispos pronunciaram anátema contra Ario, e o imperador apoiou o juízo dogmático da Igreja com a força do braço secular, desterrando o hereges e seus partidários. Tal foi a conclusão desta célebre reunião, cuja memória sempre será venerada pelos católicos, por ter constituído o primeiro Concílio Geral da Igreja.

Os arianos e São Atanásio

Os arianos que tinham sido condenados no Concílio de Nicéia, para não serem desterrados, fingiram aceitar a decisão dos Padres, ao passo que trabalhavam secretamente contra os católicos. São Atanásio bispo de Alexandria foi seu mais formidável adversário e a coluna que Deus pos para que servisse de dique contra aqueles ímpios blasfemos de seu Filho. Nasceu em Alexandria no Egito, e ainda muito jovem, apenas diácono, tomou parte no Concílio de Nicéia onde deu visíveis sinais de santidade, zelo e profunda doutrina. Morto o bispo São Alexandre, foi eleito com aplauso universal para ocupar seu posto.

Tendo ele reprimido a impiedade de Ario, de tal modo concitou contra si o ódio de todos os arianos, que desde então nunca mais deixaram de lhe armar insídias. E como vissem que saiam baldados todos os esforços, dirigiram contra ele a arma costumada dos malvados, a calúnia. Em conciliábulo reunido em Tiro, os arianos apresentaram a Santo Atanásio, que se achava presente, a mão de um morto, dizendo-lhe:

“Eis aqui o que te condena. Conheces esta mão? É a mão daquele santo varão chamado Arsênio, a quem tu mandaste dar a morte.”

Atanásio ficou algum tempo em silêncio, e dirigindo-se em seguida à assembleia, disse:

“Recorda algum de vós as feições de Arsênio?”

Muitos responderam afirmativamente. Então Atanásio fez um sinal a Arsênio, que tinha feito ir ali para provar a sua inocência, e mandou-lhe que, deixando o manto em que estava envolto, se adiantasse e mostrasse que estava vivo, e que possuía ambas as mãos. Em vista disto, aqueles ímpios caluniadores se cobriram de vergonha, longe, porém, de se apaziguarem ante justificação tão evidente, se enfureceram ainda mais e, acrescentando calúnia a calúnia, obrigaram ao imperador a tirar Atanásio de sua sede e à mão armada por outro em seu lugar. O santo prelado viu-se obrigado a salvar sua vida passando muitos anos em penoso desterro. Pode, é verdade, voltar de vez em quando a Alexandria, porém teve de retirar-se novamente dali pela perseguição dos arianos: e para não cair em suas mãos viu-se forçado a ficar escondido cinco anos em uma cisterna enxuta, e outros quatro meses no sepulcro de seu pai. Contudo não deixou por isto de refutar e combater por meio de cartas, livros e todos os meios a seu alcance, a esses inimigos de Jesus Cristo; até que, voltando à sua sede, concluiu em paz sua vida no ano 373, tendo sido bispo durante 46 anos.

Morte de Ario

Ario, depois de ter causado males gravíssimos à Igreja, desejando abrir-lhe chagas mais profundas ainda, fingiu emendar-se: para isso se apresentou ao imperador, e com juramento lhe assegurou que acreditava em tudo o que ensinava a Igreja Católica. Receando Constantino algum engano disse-lhe:

“se mentes, Deus vingará teu perjúrio, entretanto podes voltar a ocupar teu cargo!”

E deu ordens para que pudesse voltar ao exercício de seu ministério em Contantinopla. Os hereges seus sectários, estavam sobremaneira contentes de poder levar Ario a tomar posse daquela Igreja, donde tinha sido expulso; e para que a reintegração fosse mais solene estabeleceram que se realizaria no domimgo seguinte.

Um povo imenso acompanhava o obstinado herege que sentado em um carro elegantemente adornado, tratava de aumentar sua pompa espraiando-se em fastidiosos e arrogantes discursos; porém ali o esperava a divina vingança. Tendo chegado no meio de tanta glória, perto da Igreja onde devia dar-se a reintegração, apodera-se dele um repentino terror, empalidece e treme agitado por violentos remorsos. Acometido ao mesmo tempo de horríveis dores de ventre e laceração de intestinos, morreu desesperado em uma pública sentinha, tendo caído com muito sangue uma parte de suas entranhas. Ano 336.

Invenção da Santa Cruz

O imperador Constantino, reconhecendo-se devedor à Cruz de suas vitórias, desejava ardentemente dar mostras especiais de veneração àquela sobre qual dera sua vida o Salvador. Ardendo o coração de sua mãe Santa Helena no mesmo desejo, posse de acordo com seu filho e com o romano Pontífice, e foi a Palestina em busca desse tesouro, apesar da avançada idade de oitenta anos. Era muito difícil encontrá-la, porque os pagãos tinham amontoado muita terra no lugar onde se achava o sepulcro e formado ali uma grande praça, erguendo no centro um templo a Vênus; porém nada pode impedir que a piedosa princesa visse realizados seus desejos. Sabendo pelos anciãos de Jerusalém, que se chegasse a encontrar o sepulcro, encontrar-se-ia também a Cruz, fez logo derrubar o templo pagão e dar começo às escavações. Depois de muito trabalho, descobriu-se afinal a gruta do santo sepulcro, e a muito curta distância dele se acharam três cruzes, e em lugar separado encontrou­-se também o letreiro que tinha sido posto na cruz do Salvador, com os cravos que tinham perfurado suas mãos e seus pés. Mas, como se podia conhecer qual a verdadeira cruz? Helena, a conse­lho de Macário bispo de Jerusalém, mandou levar as três cruzes à casa de uma mulher que desde longo tempo se achava atacada por uma incurável enfermidade. Aproximaram sucessivamente as três cruzes, e ao mesmo tempo rogava-se ao Divino Salvador que fizesse conhecer qual delas tinha sido banhada com seu sangue. Estava presente a imperatriz, e toda a cidade esperava com ansiedade o sucesso. As duas primeiras cruzes não causaram nenhum efeito na enferma, porém assim que se aplicou a terceira, sentiu-se perfeitamente curada e se levantou no mesmo instante. O historiador Sozomenos afirma que também sendo aplicada a um cadáver o ressuscitou logo, o que se acha confirmado por São Paulino. Cheia de alegria a santa mulher, desprendeu uma parte da verdadeira cruz para a enviar a seu filho, e encerrando o resto em uma caixa de prata, colocou-a nas mãos do bispo Macário para que a depositasse na Igreja que Constantino tinha ordenado se levantasse no Santo Sepulcro. Helena não viveu muitos anos depois de sua viagem a Jerusalém e cheia de merecimentos perante Deus e os homens, morreu pouco tempo depois, sendo honrada pela Igreja como santa. A Igreja católica celebra todos os anos este prodigioso descobrimento no dia 3 de maio.

>> Leia a bela História da Santa Cruz

Morte de Constantino

Quanto mais miserável foi a morte dos perseguidores da Igreja, tanto mais consoladora foi a morte desse protetor da fé. Vendo Constantino os oficiais que choravam em redor de seu leito de morte, disse-lhes: Eu vejo com olhos diferentes dos vossos a verdadeira felicidade; e, longe de afligir-me, folgo muito porque chegou para mim o momento de gozar dela. Deu-lhes as ordens necessárias para que se conservasse a paz no império, fez-lhes jurar nunca empreenderiam coisa alguma contra a Igreja, e com a paz dos justos morreu com 64 anos de Idade, 31 de reinado no ano 337 de nossa era. Antes de morrer dividira o império entre seus filhos Constâncio e Constante. Sua morte foi chorada por todos, e embora seja verdade, que se lhe imputam alguns delitos que cometeu levado pela cólera ou engano por falsas relações, o certo é que fez penitência deles e reparou seus escândalos vivendo virtuosa e exemplarmente.