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História da Igreja 4ª Época: Capítulo I

Quarto Concílio de Latrão

Inaugurou-se o século treze com o duodécimo concílio ecumênico, que é o quarto de Latrão. Este concílio, convocado pelo Papa Inocência III, reuniu-se em Roma no ano 1215, e intervieram nele 573 bispos e 800 abades. Os decretos que nele foram emanados tiveram tal importância, que se considerou a celebração deste concílio como um fato digno de assinalar época na história eclesiástica. A principal causa que o motivou foi a heresia dos Albigeneses, assim chamados porque começaram a difundir seus erros na província de Albi, em França. Esta heresia era um conjunto de todas as que tinham aparecido nos séculos anteriores, e ensinava, entre outras extravagâncias, como os Maniqueus” que existem dois princípios criadores, Deus e Satanás; que o primeiro criara as almas e o segundo os corpos. Repeliam a autoridade da Igreja e os Sacramentos, vomitavam blasfêmias contra Jesus Cristo e Maria Santíssima, e tinham, além disto, costumes muito relaxados.

Como não bastassem as palavras para difundir esta impiedade, punham em obra toda sorte de violências; derrubavam templos, destruíam altares; ameaçavam e matavam a todos os que não queriam seguir suas doutrinas. Não sendo suficientes para pôr um dique a tantas desordens, nem o zelo de São Domingos, exercido por meio de seus sermões, nem o fervor militar de Simão de Montfort, julgou-se necessária a convocação do dito concílio. Foram condenados nele os erros dos Albigenses, e, por lei do mesmo, obrigou-se a todos os príncipes e soberanos a purificar seus domínios da infecção destes hereges turbulentos, sob pena de perderem sua autoridade e todos os seus direitos. Também se tratou nele de alguns pontos da doutrina católica, especialmente sobre a santa Eucaristia. A este respeito foi definido que, depois de pronunciadas pelo sacerdote as palavras da consagração, cessa de existir a substância de pão e vinho, para se converter na substância do corpo e sangue de Jesus Cristo. Para enunciar com maior precisão esta verdade da fé, empregou-se pela primeira vez a palavra transubstanciação. Como naqueles tempos, muitos cristãos se entibiassem muito na piedade, e passassem anos inteiros sem se aproximar dos sacramentos da confissão e da comunhão, foi ordenado que todos, ao chegar ao uso da razão. deviam confessar-se ao menos uma vez por ano, e receber a comunhão pela Páscoa, cada um em sua paróquia. Foi decretado também que aquele que não cumprisse esse preceito, fosse impedido de entrar na Igreja, e que, depois de morto, (morrendo impenitente) se lhe negasse sepultura eclesiástica. Esta lei, ao passo que demonstra a clemência da Igreja que se contentou com o menos possível, é também muito justa, porque é fora de dúvida que já não merece o nome, e se torna indigno de gozar dos direitos de cristão, aquele que não se aproxima de tais sacramentos.

São Domingos e a ordem dos Pregadores

São Domingos foi escolhido de maneira especial pela Providência para combater aos Albigenses. Nascido na Espanha de nobre família, concluiu seus estudos fazendo assombrosos progressos na ciência e na virtude. Enviado pelo Papa, com outros missionários, para defender a fé contra os Albigenses, os combateu denodadamente, e Deus confirmou sua pregação com brilhantes milagres. Eis aqui um dos principais: Tendo o santo transcrito algumas passagens da sagrada Escritura que mais diziam respeito aos hereges, lhas entregou para que as considerassem atentamente. Reuniram-se estes de noite em forma de concílio e depois de ter lido um deles o escrito de São Domingos, disse-lhe outro:

“Atira-o ao fogo; se arder, é sinal que nossa crença é verdadeira; se não, será a dos católicos”

Atiraram o papel às chamas; porém, com admiração de todos, saiu intacto, como dantes.

“Atira-o ao fogo de novo, e melhor se conhecerá a verdade”

Assim se fez, porém o papel de novo ficou ileso. Atiraram pela terceira vez, e pela terceira vez saiu perfeito.

Vendo São Domingos a necessidade de operários evangélicos, para combater a heresia, conservar a fé e retemperar o espírito cristão nos católicos, fundou uma ordem que se chamou de São Domingos, conforme o nome de seu fundador, e dos Pregadores pelo fim principal que estes têm de dedicar-se à pregação. Dedicaram-se estes a princípio a combater a heresia dos Albigenses, porém mais tarde se estenderam por todos os países cristãos, pregando e trabalhando sem descanso para dilatar o reino de Deus. Inocêncio III antes, e no ano seguinte Honório III, (1216), aprovaram esta ordem. Como causasse profunda magoa a São Domingos ver o grande número de donzelas, que por falta de mestres católicos e de casas de educação de igual gênero, frequentavam as escolas dos Albigenses, fundou uma segunda ordem, chamada de freiras Dominicanas, as quais, ao mesmo tempo que trabalhavam para sua própria santificação, faziam o possível para arrancar as meninas cristãs dentre as garras de heresia. Mas como muitas pessoas não podiam ir se encerrar no claustro, fundou outra ordem, chamada dos Terceiros. Homens e mulheres de toda idade e condição podem professar nesta ordem ainda estando no século, sem fazer votos. A princípio chamou-se milícia de Jesus Cristo, e devia enfrentar a heresia com todos os meios possíveis. Mais tarde chamou-se ordem terceira da penitência ou dos penitentes, porque os que se inscrevem nela se propõem levar um método de vida perfeita, que se aproxime o quanto possível, ao que se leva no interior dos conventos.

Atribui-se a São Domingos a instituição do Rosário, por inspiração que teve da mesma Virgem Maria que aparecendo-lhe em uma capela da Apúlia, mandou-lhe que pregasse esta devoção como arma formidável contra a impiedade. Os fatos corresponderam às promessas, porque com a eficácia dessa devoção foram vencidos os Albigenses. Esta prática se tornou universal, e foi como um grande auxiliar da Igreja Católica. Não se pode dizer, quão grande é o bem feito à Igreja, e quanto o mal, que por ela se tem evitado. Além dos milagres já mencionados, ressuscitou este santo a três mortos, em presença de muito povo. Achando-se próximo à morte, fez com que o deitassem sobre cinza; e chamando a seus religiosos, disse-lhes:

“Com a castidade e pobreza sereis agradáveis a Deus e úteis à Igreja”

Morreu em Bolonha no ano 1221, experimentando o doce consolo de ver seus religiosos produzirem em todo o mundo frutos de graça e de bênção.

Ordem Franciscana

Se São Domingos com a ordem dos Pregadores prestou à Igreja um poderosíssimo adjutório, não foi menos eficaz o que prestou São Francisco de Assis, instituindo a religião dos Frades menores, chamados vulgarmente Franciscanos. Seu nome primitivo era João, e foi chamado Francisco porque falava bem a língua francesa. Desde seus primeiros anos deixou entrever sua grande caridade para com os pobres, pois se impusera uma lei de nunca recusar uma esmola, quando lhe fosse pedida pelo amor de Deus. Encontrando um dia um homem de boa família, porém muito pobre e mal vestido, despiu o traje novo que levava e o obrigou a que o vestisse. Indignado o pai, porque Francisco não queria seguir suas vistas mundanas, deserdou-o expulsando-o de sua casa.

“Pois bem, dizia Francisco, já que me abandona o pai que tenho na terra, direi de agora em diante, com mais confiança: Pai nosso que estais no céu”

Saiu logo da cidade de Assis e dedicou-se ao serviço dos leprosos e ao exercício das obras de misericórdia, fixando morada perto de uma igreja consagrada a Nossa Senhora dos Anjos, chamada também da Porciúncula, nome do lugar onde estava situada. Apesar da rigidez de sua vida e da austeridade que professava, viu-se muito depressa à frente de numerosos discípulos, animados de seu mesmo espírito.

Levado pelo zelo de salvar almas, dirigiu-se ao Egito, para conseguir a palma do martírio, e se apresentou ao próprio Sultão para pregar-lhe a Jesus Cristo; ali, porém em vez de lhe darem a morte, o cumularam de honras e lhe deram os maiores sinais de veneração. De volta à Europa, fundou muitos conventos, entre os quais figuram um em Chieri e outro em Turim, pois as cidades da Itália tratavam à pórfia de ter entre elas discípulos de homem tão santo. Continuou regendo a santa ordem até sua morte gloriosa, que aconteceu no ano 1226. Dois anos antes de morrer recebeu uma grande graça que anteriormente a ninguém fora concedida. Foi a de ter as mãos e os pés atravessados milagrosamente por cravos e o lado milagrosamente aberto por obra de um Serafim que lhe apareceu; assim Francisco era a imagem de Jesus Crucificado.

No ano 1221, fundou São Francisco sua segunda ordem para as donzelas que desejassem levar uma vida devota e retirada. As freiras franciscanas são chamadas também Clarissas, do nome de santa Clara, que foi sua primeira superiora. Para que o fruto da nova ordem se pudesse estender a maior número de fiéis, estabeleceu São Francisco outra para as pessoas que vivem no século, chamada dos terceiros, a qual também se propagou maravilhosamente por todo o mundo.