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História da Igreja 1ª Época: Capítulo XIX

São Xisto II e os Sabelianos

A São Cornélio sucedeu São Lúcio que ocupou a santa Sé somente dezesseis meses, pois caiu sobre ele a espada da perseguição. À sua morte foi eleito São Estevão que também sofreu o martírio depois de três anos de pontificado. Sucedeu-lhe no trona de São Pedro Xisto II, ateniense, que permaneceu nele um ano somente. o que mais ocupou seu zelo foi a heresia dos Sabelianos, chamada assim por Sabélio, que foi seu autor.

Nasceu este em Tolemaida e começou a espalhar seus erros no ano 250. Entre outras extravagâncias dizia que não havia distinção real entre as três pessoas da Santísslma Trindade, e que o Pai era a mesma pessoa que o Filho e o Espírito Santo.

São Dionisio, bispo de Alexandria, foi primeiro a declarar-se contra os novos erros. A princípio os combateu energicamente com palavras, porém mais tarde pos por escrito a doutrina dos Sabelianos e sua refutação, e a enviou ao mesmo Sumo Pontífice em forma de carta. São Dionisio escreveu também outra carta a São Xisto para consulta-lo sobre algumas questões difíceis.

“Apresentou-se-me um caso, disse-lhe, sobre qual não me atrevo a pronunciar um juízo definitivo, pois tenho medo de enganar-me. Consilium quaero, tuamque vehementer exposco sententiam. Peço conselho e com vivas instâncias solicito que deis vossa sentença a respeito”.

O Pontífice examinou o caso e conheceu que as razões expostas davam lugar a verdadeiras dúvidas sobre a validade do batismo administrado por certos hereges, atendendo ao modo pelo qual o administravam; por isso respondeu que se devia renovar esse Sacramento debaixo de condição, não porque o tivesse administrado um herege, porém porque parecia terem-se omitido coisas essenciais. (V. Bor.).

É esta a regra que ainda segue a Igreja católica, quando recebe em seu grêmio aos que foram batizados quando professavam a heresia. Posto que ela considere válido o batismo administrado como o instituiu Jesus Cristo, contudo, quando há dúvidas razoáveis de que esse procedimento não tem sido observado, então temendo a Igreja que esse batismo tenha sido invalidamente administrado o faz administrar novamente debaixo de condição.

8ª perseguição. São Xisto e São Lourenço

A oitava perseguição nasceu da estulta promessa que fizeram a Valeriano os sacerdotes dos ídolos, em que lhe asseguravam uma grande vitória sempre que aniquilasse o cristianismo.

Entre os mártires mais ilustres desta perseguição conta-se São Xisto II Papa, e São Lourenço. Aquele denodado Pontífice, depois de ter sido preso e insultado, e ter sofrido fome e sede, e depois de ter mostrado grande firmeza em presença dos juízes e do próprio imperador, foi finalmente condenado à morte. Enquanto o conduziam para o suplício, seu diácono São Lourenço o acompanhava soluçando: “Para onde ides, Santo Padre, lhe dizia, sem o vosso ministro … ?” Ele lhe respondeu: “Tem coragem; daqui a três dias me seguirás. A mim que sou velho, convém uma luta menos dura, porém a ti que és jovem, esta se preparando um combate mais atroz. Reparte entretanto com os pobres as riquezas que te foram confiadas”. Coroou seus trabalhos sendo decapitado no ano 264.

O que predissera o Papa em relação a seu diácono verificou-se pontualmente. Tendo ordenado o prefeito de Roma a São Lourenço que lhe entregasse naquele instante os tesouros da Igreja, o santo diácono respondeu-lhe que estes já não estavam em seu poder, pois tinham sido distribuídos entre os pobres. Indignado o tirano ao receber esta resposta, fez-lhe padecer horríveis tormentos, e para acabar com ele, fê-lo deitar sobre uma grelha incandescente o valoroso mártir parecia insensível a dor, pois passado algum tempo disse ao tirano: “Se queres, faz-me virar do outro lado pois já estou bastante assado deste“; e depois que o voltaram acrescentou: “Já estão minhas carnes bastante cozidas; se gostas, podes comer delas” e ficou nesta firmeza até o último suspiro. Seu martírio causou tal impressão que vários senadores romanos consideravam-se muito honrados em levar o cadáver sobre seus ombros até o cemitério de Ciríaco no Campo Verano. Ali foi sepultado, e nesse mesmo lugar Constantino lhe erigiu mais tarde uma basílica que ainda existe.

Martírio de São Cipriano

São Cipriano também foi um dos mártires da oitava perseguição. Nascido em Cartago de pais ricos, porém pagãos, por divina disposição encontrou um amigo que lhe fez conhecer as verdades da fé. Reconheceu-as Cipriano e recebeu o batismo; vendeu logo todos os seus bens, distribuiu seu valor aos pobres, e retirou-se do mundo. Conhecida sua santidade e engenho, apesar de sua resistência, foi elevado com aplauso geral à cadeira episcopal de sua pátria. É impossível dizer tudo o que fez para propagar o Evangelho, refutar de viva voz, com escritos e com milagres aos hereges, e animar ao martírio. Acusado como cristão e chefe dos cristãos, foi condenado a morte. Ao saber da noticia exclamou:

“Graças a Deus, que se dignou livrar-­me do cárcere do meu corpo”.

Chegando ao lugar do suplício, despiu-se com tanta serenidade de seu manto e hábitos episcopais, que o verdugo vacilava em cumprir seu sangrento ofício. O mártir o animou ordenando que lhe pagassem vinte e cinco moedas e ele mesmo ajudou vendar os próprios olhos. Cortaram-lhe a cabeça a 14 de Setembro do ano 258, exatamente no dia, em que um ano antes tinha predito que seria martirizado.

O jovenzinho Cirilo

O jovenzinho Cirilo também glorificou publicamente em Cesareia da Capadócia o nome de Jesus Cristo. Ainda que expulso da casa paterna e privado de tudo, permaneceu firme na fé; o juiz o chamou a seu tribunal e tratou de convencê-lo com lisonjas oferecendo-se como mediador entre ele e seus pais.

“Eu experimento um verdadeiro prazer, respondeu o menino com valor, em sofrer desprezos e desdem, expulso de minha casa, sei que me espera outra infinitamente melhor; e a morte que tu encaras como o mais terrível dos males, é para mim a porta que me conduzirá à glória”.

O juiz para assustá-lo fingiu faze-lo atormentar; porém longe de subir-lhe as cores ao rosto, ele mesmo dirigiu-se para o fogo no qual o queriam atirar. Quando o tiraram dai e tornaram a levá-lo a presença do juiz, lhe disse: ”

Tirano, tu me injuriaste tirando-me a morte. Ferro e fogo, eis todos os dons que te peço”

Os que se achavam presentes choravam ao ouvi-lo assim falar; porém ele lhes disse:

“Em vez de chorar deveríeis alegrar-vos comigo e participar do meu triunfo. Vós ignorais que reino se me há preparado; e que felicidade me espera”

E ficou firme nestas admiráveis disposições até a morte.

Morte de Valeriano

A promessa dos sacerdotes idólatras a Valeriano, de que alçaria uma assinalada vitória contra os Persas, não se viu realizada; antes, sofreu ele uma derrota em que caiu nas mãos de Sapor, rei daquela nação, o feroz persa fê-lo carregar de cadeias, depondo-lhe as vestimentas imperiais, e quando montava a cavalo, obrigava-o a prostrar-se diante dele, e pisava-lhe o pescoço para que servisse de estribo. Finalmente ordenou que o esfolassem vivo: e que seu corpo esfolado e sua pele tingida de vermelho se conservasse como opróbio desse perseguidor dos cristãos. Deus quis manifestar assim sua justiça. A maldição divina caiu também sobre toda a descendência de Valeriano, pois seu filho, aclamado imperador após sua morte, foi morto pelo exército de Ilíria. Sucedeu-lhe Galiena que também foi assassinado; e o filho de Galieno e seu irmão foram precipitados do alto do Capitólio. assim extinguiu-se completamente a estirpe daquele tirano.

Aureliano e a 9ª perseguição

Atribui-se a Aureliano a nona das grandes perseguições suscitadas contra a fé de Jesus Cristo. Este imperador, a princípio se mostrou favorável aos cristãos, e nos dá provas disso o seguinte fato: Paulo de Samosata, que tinha sido deposto de sua sede em Antioquia, recusava-se a entregar a seu sucessor o palácio episcopal. Depois de inúteis instâncias, os católicos apresentaram suas queixas a Aureliano, que tendo examinado a questão, deu a respeito desta memorável sentença: “Entregue-se a casa episcopal ao designado para ocupa-la pelos prelados italianos de religião cristã, e pelo pontífice romano”, isto é, o bispo de Roma e seu clero, Esta sentença nos dá a conhecer duas coisas de suma importância: a saber, que a veneração dos fiéis para com o Pontífice romano, como chefe supremo, era tão notória naqueles tempos que nem os próprios gentios a desconheciam; pois Aureliano viu que para fazer justiça aos cristãos de Antioquia, em coisas concernentes a seus interesses religiosos, era o caminho mais curto remetê-las ao juízo do Papa, prometendo fazer executar sua sentença, e também nos demonstra o erro em que se achavam os que pretendiam que a Igreja não possuía nos primeiros tempos bens de raízes.

Instigado este imperador pelos pagãos, achava-se a ponto de firmar um terrível decreto contra os cristãos, porém aterrorizado por um raio caído a seus pés, suspendeu por momentos semelhante edito, ainda que o firmou pouco depois. Passado algum tempo, foi Aureliano assassinado por seu secretário, e assim concluiu a perseguição. Ano 275.

Heresia de Manes

A heresia dos Maniqueus é assim chamada por causa do seu autor, Manes. Nascido escravo na Pérsia, resgatou-o uma viúva cuidadosa, que não tendo filhos, o adotou e nomeou herdeiro de suas grandes riquezas. Entre as demais coisas que herdou, encontrou Manes um livro de que tirou as extravagâncias mais infames. Acreditando com isto ter-se tornado um homem divino, chamava-se paráclito, isto é, luz do gênero humano; ensinava que existem dois deuses, um bom e autor do bem, e outro mau e autor do mal.

Proscrevia a esmola, os Sacramentos, o culto das santas imagens e negava a Encarnação de Jesus Cristo. Tendo a cabeça cheia de ridicularias, pretendeu também fazer milagres, e se ofereceu para curar o filho de seu rei perigosamente enfermo; porém o menino morreu e o impostor foi preso. Tendo conseguído iludir a vigilância de seus carcereiros, fugiu do cárcere, retirou-se do reino e para dar crédito a seus erros foi disputar com o bispo de Cesareia, e mais tarde com São Trifônio; porém ambos o confundiram e o cubriram de vergonha. O povo, irritado por suas blasfemias, ameaçou apedrejá-lo; então ele fugiu e voltou a Persia, onde caiu em mãos do rei, que ordenou que o esfolassem vivo. Seu corpo foi atirado as feras, e sua pele foi colocada em uma porta da cidade. (277). Mas desgraçadamente não morreu com ele o sistema de suas absurdas doutrinas; e a seita dos maniqueus se propagou de tal modo, que dez séculos mais tarde, ainda causou grandíssimos trabalhos à Igreja.