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História da Igreja 1ª Época: Capítulo X

Quarta perseguição

Esta perseguição se atribui em grande parte às calúnias que se espalharam contra os cristãos. Cometeram-se nela tais violências que muitas vezes os próprios verdugos se horrorizavam da atrocidade dos tormentos com que os martirizavam, e com grande repugnância cumpriam o bárbaro ofício que se lhes confiava. Governava então a Igreja Pio I que, depois de ter empregado os nove anos do seu pontificado em combater as heresias, em animar os mártires e promover as necessidades da cristandade, fez-se credor da palma do martírio. Cortaram-lhe a cabeça no ano 167. Conta-se entre os mais célebres mártires desta perseguição um jovenzinho chamado Germânico que animava os outros com o seu exemplo. Antes de expô-lo às feras tentou o juiz seduzi-lo; porém o magnânimo menino disse que preferia antes perder mil vidas, que conservar uma à custa de sua inocência; e dirigindo-se para um leão que se arrojava contra ele, terminou sua vida na boca daquele furioso animal apressurando-se a sair deste mundo para chegar o quanto antes ao Céu.

Papa São Pio I
Papa São Pio I

São Policarpo em Roma

Chegando ao conhecimento de São Policarpo, discípulo de São João Evangelista e bispo de Smirna, a notícia do grande número de hereges que tinham ido à Roma, dirigiu-se ele também para esta cidade no pontificado de São Aniceto, sucessor de São Pio I com o fim de dissipar seus erros. Sua ida à Roma foi muito oportuna, porque tendo sido ele um dos que conversaram com os Apóstolos, gozava sobre todos de uma grande autoridade, e como disse Santo Irineu, muitos dos que se tinham deixado seduzir pelos erros de Valentim e de Marcião voltaram para a Igreja de Jesus Cristo, mediante a eficácia de sua palavra. Persuadido o herege Marcião de que alcançaria uma grande vitória podendo contar o santo bispo como um de seus sectários, tratou de ganhá-lo; e com este fim se lhe apresentou um dia e lhe disse com audácia: “Cognoscis nos?” Conhece-me, sabes quem eu sou? “Sim, respondeu-lhe incontinente Policarpo, conheço-te muito bem, e sei quem és Marcião, primogênito de Satanás”.

Um dos principais pontos a que se dirigia o zelo de Policarpo, era o de segregar os católicos dos hereges para que permanecesse pura a fé dos primeiros. Eusébio de Cesárea acrescenta que São Policarpo foi a Roma também para conferenciar com o Sumo Pontífice sobre algumas coisas concernentes ao bem da Igreja, conferências que terminaram com caridade de ambas as partes. Também foi à Cidade Eterna para determinar com o Papa, se devia se celebrar o dia da Páscoa no primeiro domingo, depois da lua cheia de março, como se tinha celebrado desde o tempo dos Apóstolos, ou antes do mesmo dia da lua de março, como se fazia em algumas Igrejas da Ásia. Aniceto, ainda que desejasse uniformidade em toda Igreja, julgou oportuno não desgostar aos bispos da Ásia, e tolerou que naqueles países se celebrasse a Páscoa no dito Plenilúnio. Essa tolerância tinha por fim contentar aos judeus recém-convertidos à fé. (Euseb. liv. 4.º). Aniceto deu prova de grande veneração à santidade e doutrina de São Policarpo, pois permitiu-lhe que celebrasse a Santa Missa vestido de pontifical e administrasse do mesmo modo a comunhão aos fiéis.

Durante sua estada em Roma, soube Policarpo que a perseguição tinha tornado a recrudescer em sua diocese; por isso apressou-se em voltar ao seu rebanho. Pouco tempo depois de ter chegado, foi preso pelos perseguidores e levado ao cárcere. Às palavras do juiz que o exortava a que renegasse Jesus Cristo e o amaldiçoasse, respondeu: “Há 86 que me consagrei a seu divino serviço e nunca recebi dele injúria alguma. Como queres tu que maldiga meu Rei e Salvador?” Depois de muitos sofrimentos foi condenado às chamas em que consumou seu heroico sacrifício.

"Há 86 que me consagrei a sue divino serviço e nunca recebi dele injúria alguma. Como queres tu que maldiga meu Rei e Salvador?" - Martírio de São Policarpo
“Há 86 que me consagrei a seu divino serviço e nunca recebi dele injúria alguma. Como queres tu que maldiga meu Rei e Salvador?” – Martírio de São Policarpo

Santa Felicidade e seus filhos

Santa Felicidade verdadeiro modelo das mães cristãs, pertencia a uma das principais famílias de Roma. Enviuvando resolveu dedicar-se unicamente à sua santificação e à seus filhos. Acusada como cristã foi conduzida perante o prefeito público, que lançou mão de toda sorte de indústrias para fazê-la prevaricar. “O Espírito de Deus, respondia a santa, me faz superior a todo engano e sedução, e enquanto viva não poderás vencer-me, porque se tu me tiras a vida, morrendo eu será muito mais gloriosa a minha vitória.” No dia seguinte o prefeito fez conduzir Felicidade e seus filhos a seu tribunal, e disse à mãe: “Se a ti não importa a vida, compadece-te ao menos de teus filhos”; porém ela respondeu-lhe: “A compaixão que tu pedes seria atroz crueldade”. Voltando-se logo a seus filhos e mostrando-lhes o céu, disse-lhes: “Vede lá em cima, lá vos espera Jesus Cristo com seus santos, que vos têm aberto o caminho. Mostrai-vos agradecidos a tão magnânimo remunerador, e combatei com um valor digno do prêmio que se vos promete”.

O prefeito a fez esbofetear, chamou em seguida seus sete filhos, que, depois de confessar Jesus Cristo com firmeza heroica, morreram um depois do outro em horríveis tormentos. A mãe assistiu com intrepidez a seu martírio, animando-os a perseverar na fé. Por último cortaram-lhe também a cabeça e misturou assim seu sangue com o de seus filhos na terra, para ir reunir-se com eles na glória do Céu. Pouco depois o Papa Aniceto também sofreu o martírio. Cortaram-lhe a cabeça no ano de 175.

Martírio de Santa Felicidade e seus 7 filhos
Martírio de Santa Felicidade e seus 7 filhos
Martírio de São Aniceto
Martírio de São Aniceto

Heresia de Montano

Montano começou a propagar sua heresia no pontificado de Santo Aniceto. Nascido na Frigia e educado na religião cristã foi tomado do espírito da vaidade, e desejou ardentemente ser Bispo; porém como se lhe negasse esta dignidade por sua má conduta, rebelou-se contra a Igreja e começou a pregar mil torpezas.

Suas extravagâncias chegaram a tal ponto que se vendeu ao demônio, o qual o possuía realmente. Acompanhava-o duas mulheres dissolutas e endemoniadas como ele; uma se chamava Prisca e outra Maximila.

Convocou-se na Ásia uma reunião de Bispos e Sacerdotes que depois de um maduro exame, condenou como herege Montano e seus sectários. Então o astuto Montano dirigiu-se a Roma com suas falsas profetizas e conseguiu seduzir vários cristãos incautos; foi tão audaz que se apresentou ao próprio Aniceto para se fazer agregar ao Clero Romano. Conhecendo o Pontífice a sua hipocrisia, excomungou-o como já o tinham feito os Bispos da Ásia. Depois disto Montano e suas profetizas, cedendo ao espírito maligno, se estrangularam por suas próprias mãos.

Montanismo, a herisia de Montano
Montanismo, a herisia de Montano