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História da Igreja 1ª Época: Capítulo IX

Santo Alexandre 1º em presença de Aureliano

A Santo Anacleto sucedeu o Papa São Evaristo, natural de Belém, que ocupou o trono pontifício cerca de nove anos, sendo martirizado no ano de 121. A este sucedeu Santo Alexandre que, ainda muito jovem, pregava com tal eficácia que chegou a converter o prefeito de Roma, chamado Hermetes, sua família e 1250 criados seus. Chegada a notícia aos ouvidos do imperador, este irritou-se muitíssimo com ele, e desde a cidade de Selêucia, onde se achava então, mandou a Roma o conde Aureliano para que condenasse à morte todos os cristãos que descobrisse. Os primeiros encarcerados foram o prefeito e o Pontífice. Fizeram-lhes minuciosíssimos, longos e violentos interrogatórios; experimentou-se o cárcere, a fome, a sede, o ferro e o fogo, porém em vão; antes a pregação e os milagres que em todas as partes fazia o santo Pontífice contribuíam para trazer novas almas à fé.

Papa Santo Alexandre I
Papa Santo Alexandre I

Interrogatório de Santo Alexandre

“Eu quisera, lhe disse Aureliano, que me fizesses conhecer os mistérios de tua religião, e o prêmio pelo qual deixas tirar a vida com tanta indiferença.

Alexandre respondeu: “O que queres saber é coisa santa, e Jesus nos proíbe falar das verdades da fé aos que desejam saber não para acreditar nelas, porém para escarnecê-las. Não é conveniente, dizia o Salvador, dar as coisas santas aos cães e atirar as pedras preciosas aos porcos.”

– Como sou eu um cão? Replicou Aureliano encolerizado.

– Tua sorte é inferior à dos brutos, respondeu Alexandre; pois estes, sendo irracionais, não podem venerar as verdades da fé que eles não conhecem, ao passo que o homem, feito à imagem e semelhança de Deus, se recusa conhecê-las ou as despreza, ofende ao Criador, e pagará sua culpa não só com as penas desta vida, mas também com as chamas eternas do inferno.

– Responde ao que te pergunto: se assim não o fizeres condeno-te aos tormentos.

– Aquele que quer instruir-se na Religião de Jesus cristo deve fazê-lo com humildade e não com ameaças.

– Responde ao que te pergunto, e lembra-te que te achas em presença de um Juiz cujo poder é temido em todo o mundo.

– Aquele que se jacta de seu poder, está perto de perdê-lo.

– Infeliz! Tuas palavras e tua audácia serão castigadas com atrozes tormentos.

– Nada fazes de novo fazendo-me atormentar. Porque, qual homem inocente que pode sair com vida de tuas mãos? Junto de ti, unicamente vivem tranqüilos os que renegam a Nosso Senhor Jesus Cristo; eu que espero morrer e padecer por Ele, certamente serei atormentado e morto, como o foram o glorioso Hermete e o intrépido Quirino, e todos aqueles que passaram com valor por meio de tormentos para chegar por eles à vida eterna.

– Qual a razão que te impele à extravagância de deixar-te matar antes que obedecer às minhas ordens?

– Já to disse e repito: não é lícito dar aos cães as coisas santas.

– Voltas a me chamar de cão? Basta já de palavras; passemos aos tormentos.

– Não temo os tormentos que passam, porém sim aqueles que tu não temes, isto é, os tormentos do inferno que não se acabarão jamais.

Compreendeu então Aureliano que falava inutilmente; por isso ordenou que despissem Alexandre e que o estendessem sobre o ecúleo (instrumento de tortura). Açoitaram-no com varas e o dilaceraram com unhas de ferro.

Enquanto suas carnes caiam em pedaços, punham tochas acesas debaixo de suas chagas; pareciam no entanto que aqueles agudos e penosos sofrimentos não serviam senão para aumentar as ânsias que o santo Pontífice tinha de padecer.

– Porque não te queixas? Perguntou-lhe admirado Aureliano. Qual a razão do teu silêncio?

– Quando o cristão reza, fala com Deus, e quando pensa n’Ele esquece tudo que aqui em baixo se padece.

– Responde a tudo que te pergunto e farei suspender teus tormentos.

– Estulto! Faze o que queres; não temo tua crueldade.

– Considera ao menos tua idade, ainda não tem 30 anos, e já queres privar-te da vida?

– Tem antes mais compaixão de tua alma; pois se eu perco o corpo, salvo a alma, porém se tu perdes a alma, com ela tudo perderás par sempre.

Martírio de Santo Alexandre e seus companheiros

Depois de ameaças, interrogatórios e tormentos inúteis, Aureliano ordenou se acendesse uma fogueira. Quando as chamas chagaram à sua maior intensidade, mandou que atassem juntos Alexandre e Evêncio, e os atirassem nas chamas. Quis também o imperador que um sacerdote chamado Teódulo se achasse presente ao suplício de seus companheiros para atemorizá-lo. Alexandre vendo-o triste, gritou em alta voz: “irmão Teódulo, vem aqui tu também, porque o quarto companheiro, isto é, aquele anjo que apareceu aos três meninos judeus no forno da Babilônia, se acha também conosco.” Então Teódulo se atirou à fogueira. Deus operou então o mesmo milagre que fizera no tempo de Nabucodonosor, pois o fogo perdeu seu poder e não fez dano algum àqueles campeões de fé. Eles vendo-se tão prodigiosamente defendidos, puseram-se a cantar: “Ó Senhor, tu nos hás provado com fogo, e tendo-nos purificado de nossos pecados com tua misericórdia, já não encontraste em nós nenhuma iniqüidade”.

Furiosamente encolerizado, Aureliano ordenou que tirassem da fogueira Evêncio e Teódulo e que se lhes cortasse logo a cabeça e a Alexandre fez introduzir tantas pontas de ferro no corpo que em pouco tempo exalou o último suspiro. Este martírio teve lugar a 3 de maio de 132.