Skip to content Skip to footer

História da Igreja 1ª Época: Capítulo II

Vocação dos Apóstolos

Na idade de trinta anos começou o Salvador a pregar sua doutrina. Seus estupendos milagres assombravam as turbas que pasmadas o seguiam por toda parte. Pra o êxito de seus fins sacrossantos escolheu Jesus, de entre seus adidos, doze homens aos quais chamou Apóstolos. Eis aqui seus nomes: Pedro e seu irmão André, Tiago – o maior, João – Evangelista, Filipe, Bartolomeu, Matheus, Thomé, Tiago – o menor, Simão – o zeloso, Judas Tadeu e Judas Iscariotes.

Este último foi quem mais tarde traiu o seu divino Mestre. Estes Apóstolos eram uns pobres e simples pescadores, e Jesus Cristo lhes confiou o depósito da fé e os enviou a pregar o Evangelho por todo o mundo, afim de que, como observa Santo Ambrósio, a conversão do mundo não fosse atribuída à sabedoria ou ao poder ao poder dos homens, senão unicamente à divina virtude . (Santo Ambrósio in C. VI, Lucas)

Escolha dos Apóstolos
Escolha dos Apóstolos

Igreja de Jesus Cristo

Por Igreja de Jesus Cristo se entende a congregação dos fiéis cristãos espalhados por toda a terra, que vivem debaixo da obediência do Papa, isto é, do Sumo Pontífice de Roma. Chama-se Igreja de Jesus Cristo, porque Ele mesmo a fundou durante sua peregrinação sobre a terra, e porque saiu de seu abrasado Coração e foi consagrada e santificada com seu Sangue; chama-se também assim porque todos os filhos da Igreja constituem uma só pessoa com Jesus Cristo por meio da fé, da esperança e da caridade.

Jesus Cristo a encheu de seu Espírito Santo a quem enviou para que permanecesse com ela e lhe ensinasse toda a verdade até à consumação dos séculos. Os Apóstolos foram os primeiros mestres e propagadores da Igreja; e a todos eles, em diversas ocasiões, dirigiu Jesus estas palavras: “Não fostes vós quem me escolhestes; mas eu vos escolhi e vos coloquei para que vades e produzais frutos; e que vosso fruto permaneça. Foi-me dado todo o poder no Céu e na terra: assim como meu Pai celeste me enviou, assim também eu vos envio. O que desatardes na terra, será também desatado no Céu. Aos que perdoardes os pecados serão perdoados; e aos que os retiverdes, serão retidos… Quem vos ouve, a mim ouve, quem vos despreza, despreza a mim e a quem me enviou. Quando comparecerdes em presença dos reis e governadores, não vos preocupeis com o que deveis responder. O Consolador, o Espírito Santo que meu Pai enviará em meu nome, Ele vos ensinará todas as coisas. Ele vos dará ciência e saber a que não poderão resistir nem contradizer todos os vossos adversários. Ide pois, eu sou o que vos envia: pregai o Evangelho a toda criatura ensinando e batizando em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. O que crer e for batizado será salvo, porém o que não crer será condenado… Eu subo a meu Pai celeste, mas não vos deixo sós e permanecerei convosco todos os dias até a consumação dos séculos”. Com estas palavras instituiu Jesus Cristo a grande Sociedade religiosa, ou a Igreja cuja administração, como se tem visto, confiou aos Apóstolos aos quais prometeu sua assistência contínua até o fim dos séculos.

Papa Francisco discursando aos Fiéis
Papa Francisco discursando aos Fiéis

São Pedro chefe da Igreja

O Salvador para demonstrar a necessidade de uma autoridade suprema na Igreja, a comparou sucessivamente a um reino e a uma república bem administrados, à fazenda de um grande Senhor, e a uma numerosa família, coisas todas que não podem subsistir sem uma autoridade que governe e dite leis, vele sobre sua observância, reprima aos rebeldes e recompense aos que as observam. O mesmo se dá com a Igreja Católica: chefe absoluto, supremo e invisível da Igreja é Jesus Cristo, seu fundador; e chefe visível instituído pelo próprio Jesus Cristo é São Pedro. De entre os Apóstolos, disse São Jerônimo, escolheu Jesus a São Pedro para dar-lhe a preeminência sobre todos os outros, afim de que a autoridade divinamente instituída, desvanecesse de antemão todo pretexto de discórdia e de cisma.

Eis aqui como São Pedro foi instituído Chefe Supremo da Igreja:

Estando Jesus Cristo certo dia nos confins de Cesárea de Felipe, depois de ter orado, por algum tempo, perguntou a seus Apóstolos: “Que dizem de mim os homens? Um Apóstolo respondeu dizendo: Alguns dizem que sois o Profeta Elias”. Outro replicou: “Disseram-me muito que éreis Jeremias ou João Batista ou algum dos profetas que tinha ressuscitado”. O Salvador torna a perguntar: “Porém vós, quem dizeis que eu sou?” Tomando então a palavra Simão Pedro disse: “Vós sois o Filho do Deus vivo que veio a este mundo”. Disse-lhe então Jesus: “És bem-aventurado, Simão, filho de João; porque o que disseste não te foi revelado pelos homens senão por meu Pai celeste; eu e de digo que és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela. E a ti darei as chaves das portas do Céu e tudo o que ligares na terra será ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será também desligado no Céu”. (Mt 16)

São Pedro, primeiro Sumo Pontífice
São Pedro, primeiro Sumo Pontífice

Explicações

Estes fatos e estas palavras merecem alguma explicação. Pedro permaneceu silencioso enquanto Jesus não deu a conhecer senão o desejo de saber o que diziam os homens acerca de sua pessoa; mas quando convidou os Apóstolos para exporem seu modo de pensar, Pedro, no mesmo instante falou, como se falasse em nome de todos, porque ele já gozava de certa primazia ou superioridade sobre os demais companheiros. Pedro, pois, divinamente inspirado, disse: Vós sois o cristo: que era o mesmo de dizer: Vós sois o Messias prometido por Deus, que veio para salvar os homens. Filho de Deus vivo: ele aplica a Deus o epíteto de vivo, para diferenciá-lo das falsas divindades dos idólatras, que sendo fabricadas pelas mãos dos homens, não tem vida. Isto também equivalia a dizer: Vós sois o verdadeiro Filho de Deus, o Filho do Pai Eterno, e por isso sois com Ele Criador e Senhor absoluto de todas as coisas. Em seguida Jesus Cristo, com o fim de premiá-lo por sua fé, chamou-o de bem-aventurado, dando-lhe depois os motivos porque desde o dia que o havia seguido, lhe tinha mudado o nome de Simão pelo de Pedro, assim falando: “Tu és Pedro e sobre esta pedra, edificarei a minha Igreja”. Do mesmo modo Deus mudou o nome de Abrão para Abraão quando estabeleceu que ele seria o pai de todos os crentes; o de Sarai em Sara quando lhe prometeu o nascimento prodigioso de um filho; e o de Jacó em Israel quando lhe garantiu que de sua estirpe nasceria o Salvador.

Jesus outrossim chamava bem-aventurado a São Pedro, porque tudo o que este tinha dito não lhe tinha sido revelado pelos homens, senão por seu Pai celeste. Aqui transluz a divina assistência à pessoa de São Pedro desde o mesmo instante em acabava de ser eleito o chefe da Igreja; assistência que continuou por toda a sua vida e que continuará nos romanos Pontífices até a consumação dos séculos.

Jesus disse em seguida: “Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Com estas palavras quis dizer: Tu, ó Pedro serás na Igreja o que nos edifícios são os alicerces; os alicerces constituem a parte principal, a mais indispensável de uma casa, visto sobre eles descansar todo o edifício; assim também tu, ó Pedro serás o fundamento da minha Igreja, isto é, exercerás nela a autoridade suprema que te outorgo, a Igreja se conserve, e permaneça firme e inabalável. Sobre ti, a quem eu chamei Pedro, como sobre uma rocha e uma pedra firmíssima, por minha virtude eterna, eu levanto o edifício eterno da minha Igreja, que descansando sobre ti, será forte e invencível contra todos os ataques de seus inimigos.

São Pedro pregando o Evangelho
São Pedro pregando o Evangelho

Assim como não há edifício sem base, assim também não há Igreja sem Pedro. Uma casa sem alicerce não pode ser erguida, e se o é, precipita-se ao primeiro impulso; assim também toda a Igreja que se quiser erigir sem Pedro não poderá erguer-se, e se o fizer cairá ao primeiro sopro. Nos edifícios as partes que não descansam sobre os alicerces desabam e caem, assim também na minha Igreja todo aquele que se separa de Pedro precipita-se no erro e se perde.

Portas do Inferno

As portas do Inferno são constituídas pelo poder de Satanás e representam as perseguições, as heresias, os erros, os esforços e as artimanhas que emprega o demônio para deitar por terra a Igreja. Todas estas potências infernais, juntas ou separadas poderão, sim, declarar guerra aberta à Igreja, obriga-la a estar sempre sob as armas, e por no caminho da perdição os que não forem suficientemente humildes, mortificados e vigilantes na oração; mas nunca poderão vencê-la, antes com todos os seus esforços não conseguirão mais do que aumentar a glória da Esposa do Redentor.

Tentações do demônio a Jesus Cristo
Tentações do demônio a Jesus Cristo

Chaves do Paraíso

Jesus Cristo disse finalmente: “Eu te darei as chaves do reino dos céus”. As chaves são o símbolo do poder. Quando o vendedor de uma casa entrega as chaves ao comprador dá-lhe com elas a posse plena e absoluta da mesma casa; assim também quando se apresentam a um Rei as chaves de uma cidade simboliza-se com isto que a cidade o reconhece como Soberano; assim pois o haver entregue Nosso Senhor a Pedro as chaves do Reino dos Céus significa que ele foi feito dono, príncipe e governador supremo da Igreja. Por isso Nosso Senhor Jesus Cristo continuou dizendo a Pedro: “Tudo o que atares na terra será atado no Céu; e tudo o que desatares na terra também será desatado no Céu”.

Instituição da Igreja Católica por Jesus Cristo, sob São Pedro
Instituição da Igreja Católica por Jesus Cristo, sob São Pedro

Estas palavras põem em manifesto a suprema autoridade que foi dada a São Pedro; autoridade que obriga a consciência dos homens com decretos e leis em ordem a seu bem espiritual e eterno; e por meio da qual se absolvem os pecados e as penas que impedem conseguir esse mesmo bem espiritual e eterno. É bom notar aqui que também os outros Apóstolos receberam de Jesus Cristo a faculdade de atar e desatar (Mt 17). Mas esta faculdade não lhes foi conferida senão depois de terem sido ditas a São Pedro as palavras magníficas que precedem, para que compreendessem que sua autoridade devia permanecer subordinada à de São Pedro, que foi feito seu príncipe e seu chefe, o qual também fora encarregado de conservar a unidade da fé e da moral. Por isto os demais Apóstolos e todos os Bispos que lhes sucedem devem depender de Pedro e dos Papas que também lhe sucedem para assim permanecerem perpetuamente unidos a Jesus Cristo, que do Céu assistirá seu Vigário e toda a Igreja até o fim dos séculos.

Primado de São Pedro e de seus sucessores

Tendo ressuscitado o Salvador, antes de subir ao Céu, entregou de fato a São Pedro a faculdade que lhe havia prometido. Aparecendo a seus discípulos no lago de Genesaré, depois de ter tomado com eles algum alimento para que melhor se assegurassem de sua ressurreição, dirigiu-se a Pedro e disse: “Simão filho de João, me amas tu?” “Senhor, respondeu Pedro, Vós bem sabeis que eu vos amo” Jesus lhe disse: “Apascenta meus cordeiros”. O Senhor tornou a perguntar: “Simão filho de João, me amas tu?” “Senhor, respondeu incontinente São Pedro, Vós bem o sabeis que vos amo”. Jesus lhe disse: “Apascenta meus cordeiros”. Jesus lhe perguntou pela terceira vez: “Simão Pedro, me amas tu mais do que estes?” Pedro, vendo que o interrogava três vezes sobre o mesmo assunto, perturbou-se. Nesse momento lembrou-se das promessas que outra vez lhe tinha feito e a que tinha faltado, temeu por isto que Jesus Cristo não gostasse de seus protestos, como se quisesse predizer-lhe coisas futuras. Assim, pois, com a maior humildade, afirmou: “Senhor, Vós sabeis tudo, meu coração vos é manifesto e por isso Vós também sabeis que vos amo.” São Pedro naquele momento, estava seguro da sinceridade de seus afetos, mas não o estava igualmente para o futuro. Jesus que bem sabia o desejo que São Pedro tinha de amá-lO, e a fraqueza de seus afetos, consolou-o dizendo: “Apascenta minhas ovelhas”.

Com estas palavras Jesus Cristo constitui São Pedro príncipe dos Apóstolos, pastor universal da Igreja e de todos os cristãos; porque todos os fiéis cristãos, espalhados por todas as partes do mundo e simbolizados pelos cordeiros, devem estar sujeitos ao chefe da Igreja, como os cordeiros estão a seus pastores; e as ovelhas simbolizadas pelos Bispos e demais ministros sagrados, posto que dão alimento da doutrina celestial aos fiéis cristãos, devem fazê-lo estando sempre em boa harmonia, unidos e submissos ao Supremo Pontífice, Vigário de Jesus Cristo na terra.

Apoiados nestas palavras de Jesus Cristo, os católicos têm acreditado como verdade de fé que São Pedro foi constituído por Jesus Cristo, seu Vigário na terra, e chefe supremo e visível da Igreja, e que recebeu d’Ele a plenitude da autoridade sobre os demais Apóstolos e sobre todos os fiéis.

É claro, pois, que a autoridade de Pedro deve durar enquanto durar a Igreja, isto é, até o fim dos séculos, pois que é certo que os alicerces devem durar o mesmo tempo que dura o edifício que sobre ele descansa; e por isso, depois de Pedro, sua autoridade passará a seus sucessores, que são os Romanos Pontífices. Esta verdade se acha explicitamente exposta em centenas de documentos da antiguidade cristã, e, entre outros, encontra-se formalmente declarada no Concílio Florentino nas seguintes palavras: “Nós definimos que a anta Sé Apostólica, e o Romano Pontífice é o sucessor do Príncipe dos Apóstolos, o verdadeiro Vigário de Cristo, o chefe supremo de toda Igreja, o mestre e o pai de todos os cristãos: e que a ele, na pessoa do bem-aventurado Pedro, foi dado, por Nosso Senhor Jesus Cristo, pleno poder de apascentar, reger e governar a Igreja universal.

Últimos três Romanos Pontífices: João Paulo II, Bento XVI e Francisco
Últimos três Romanos Pontífices: João Paulo II, Bento XVI e Francisco

Infalibilidade dos Sumos Pontífices

Querendo São Pedro corresponder a tantas provas de benevolência, e demonstrar ao mesmo tempo sua gratidão ao Divino Salvador, havia declarado várias vezes que estava pronto a dar sua vida por Ele. Não obstante isto, o Divino Mestre o advertiu que não confiasse em suas próprias forças, mas sim no auxílio da divindade. Disse-lhe em seguida que cairia por fraqueza, assegurando-lhe sem embargo que depois se levantaria; encarregou-o de cuidar de seus irmãos e de conservá-los firmes na fé:

“Tenho pedido por ti, ó Pedro, disse-lhe Jesus, para que não falte tua fé; e tu, uma vez convertido, confirma teus irmãos”. (Lc 22)

Com estas palavras o divino Salvador prometeu uma particular assistência ao chefe da Igreja, em virtude da qual nunca faltará sua fé, antes ao contrário contribuirá para fortalecer aos demais pastores. Com elas assegurou a São Pedro o dom da infalibilidade, isto é, o preservou do perigo de errar nas coisas que concernem à fé e aos costumes; porque disse a São Pedro que tinha pedido para que nunca faltasse sua fé: assim sendo, quem poderá por em dúvida que a oração de Jesus Cristo tenha sido ouvida? E certamente nosso divino Salvador, assegurou a São Pedro que sua prece tinha sido plenamente escutada: por isso como legítima consequência o encarregou de confirmar na fé os demais Apóstolos. Não se pode, pois, por em dúvida a infalibilidade de Pedro e de seus sucessores, sem afirmar que não foi ouvida a oração do Salvador, absurdo que nunca poderá ser afirmado por um católico. Apoiados pois, os católicos de todos os tempos e de todos os lugares, nesta promessa de Jesus Cristo, sempre tem acreditado com muito poucas exceções, que o Romano Pontífice, como sucessor de São Pedro, é infalível nas sentenças que profere em matéria de fé e de moral. Esta verdade foi depois definida na sessão 11ª do Concílio do Vaticano (Vaticano I), como um artigo que devia necessariamente ser acreditado para se obter a salvação eterna.

Eis as suas palavras:

“Nós definimos, que o Romano Pontífice quando fala ex cathedra, isto é, quando no exercício do cargo de pastor e mestre de todos os cristãos, por sua suprema autoridade apostólica, define alguma doutrina acerca da fé ou dos costumes para norma de toda a Igreja pela divina assistência que lhe foi prometida na pessoa do Bem-aventurado Pedro, goza da mesma infalibilidade, que o divino Redentor quis dar à Igreja nas definições das doutrinas acerca da fé ou dos costumes. Pelo que estas definições do Romano Pontífice são por si mesmas, e não pelo consentimento da Igreja, irreformáveis. Que se alguém ousar contradizer esta nossa definição, do que Deus nos guarde, seja excomungado”.