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Quais sejam os que na verdade seguem a Jesus Cristo

Sigamos Cristo até o calvário

Si quis vult post me venire, abneget semetipsum, et tollat crucem suam quotidie, et sequatur me – “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz cada dia, e siga-me” (Lc 6, 23)

Sumário. Devemo-nos persuadir de que Deus nos conserva no mundo para que suportemos com paciência as tribulações que Ele mesmo nos envia para o nosso bem. Resolvamo-nos, pois, a recusar a nós mesmos aquilo que um amor próprio desordenado nos pede; abracemos de boa vontade a nossa cruz de cada dia; e não nos cansemos de a carregar após Jesus Cristo até ao Calvário, isso é, até a morte.

I. Façamos hoje algumas reflexões sobre estas palavras de Jesus Cristo. Si quis vult post me venire — “Se alguém quer vir após mim.” Jesus não somente quer que a Ele vamos, senão que vamos em seu seguimento. Jesus vai sempre para diante e não pára enquanto não chegar ao Calvário, onde irá morrer. Portanto, se O amamos, devemos segui-Lo até à nossa morte. Por isso faz-se mister que cada um se negue a si mesmo: abneget semetipsum; isso é, recuse a si mesmo o que o amor próprio pede, mas que não é do agrado de Jesus Cristo.

Diz ainda:

Tollat crucem suam quotidie et sequatur me — “Tome a sua cruz cada dia e siga-me.”

Tollat, tome: de pouco serve carregá-la forçadamente; todos os pecadores a carregam, mas sem merecimento. Para a carregarmos com merecimento, devemos abraçá-la de boa vontade.

Crucem, a cruz: sob o nome de cruz vem toda a tribulação, que por Jesus Cristo é chamada cruz, a fim de nô-la tornar doce, com pensar que em uma cruz ele morreu por nosso amor.

Jesus diz: suam, a sua cruz. Alguns, ao receberem qualquer consolação espiritual, se oferecem para sofrer o que tem sofrido os mártires: acúleos, unhas de ferro e lâminas candentes; mas, logo em seguida não sabem sofrer alguma dor de cabeça, uma falta de atenção da parte de um amigo, o enfado de um parente. Irmão meu, Deus não quer de ti que sofras nem cavaletes, nem unhas de ferro, nem lâminas candentes; mas quer que sofras com paciência essa dor, esse desprezo, esse aborrecimento. Tal outro quisera ir a um deserto para sofrer; quisera praticar grandes penitências; entretanto não sabe suportar um seu superior, um seu companheiro de ofício. Deus, porém, quer que ele carregue a cruz que lhe é dada para carregar, e não aquela que ele mesmo escolheu.

Ainda diz: quotidie, cada dia. Alguns abraçam a cruz no princípio, quando ela se apresenta; mas quando dura, dizem: Não posso mais. Todavia, Deus quer que continues a carregá-la com paciência, muito embora fosse preciso carregá-la sem cessar até à morte. Eis aí portanto em que consiste a salvação e a perfeição; consiste em cumprir estas três palavras: Abneget, recusemos ao amor próprio o que não lhe convém. Tollat, abracemos a cruz que Deus nos envia. Sequatur, sigamos as pegadas de Jesus Cristo até à morte.

II. Devemo-nos, pois, persuadir de que Deus nos conserva no mundo, para que carreguemos as cruzes que nos envia; e é isto o que faz a nossa vida meritória. Porque nosso Salvador nos ama, veio sobre esta terra, não para gozar, mas para sofrer, a fim de que lhe sigamos as pegadas: Christus passus est pro nobis, vobis relinquens exemplum ut sequamini vestigia eius — “Cristo padeceu por nós, deixando-nos exemplo, para que sigais as suas pisadas (1). Contemplemo-lo, a Ele que vai adiante com a sua cruz, a fim de traçar-nos o caminho pelo qual devemos segui-Lo, se nos quisermos salvar. Oh! Que grande remédio, dizer a Jesus Cristo em cada aflição: Senhor, Vós quereis que eu carregue esta cruz; aceito-a e quero sofrê-la até quando quiserdes. Assim, e muito mais ainda, o merece Jesus Cristo, que, para nos livrar do inferno, escolheu uma vida de trabalho e uma morte de dor.

Jesus meu, somente Vós pudestes ensinar-nos estas máximas de salvação, de todo contrárias às máximas do mundo, e somente Vós nos podeis dar a força para carregarmos a cruz com paciência. Não Vos peço que me façais isento dos sofrimentos; peço-Vos somente que me deis força para sofrer com paciência e resignação. Pai Eterno, vosso Filho prometeu que nos haveis de dar tudo quanto Vos pedíssemos em seu nome: Amen, amen dico vobis, si quid petieritis Patrem in nomine meo, dabit vobis (2). Eis, pois, o que Vos pedimos: dai-nos a graça de sofrer com paciência as aflições desta vida: atendei-nos pelo amor de Jesus Cristo. — E Vós, ó meu Jesus, perdoai-me todas as ofensas que Vos tenho feito, por não ter praticado a paciência nas cruzes que me enviastes. Dai-me o vosso amor: que me dará força para sofrer tudo por Vós privai-me de todas as coisas, de todos os bens terrestres, dos parentes, dos amigos, da saúde do corpo, de todas as consolações; tirai-me ainda a vida, mas não o vosso amor. Dai-Vos a mim, e nada mais Vos peço. Virgem Santíssima, obtende-me para com Jesus Cristo um amor constante até à morte.

Referências:

(1) 1 Pd 2, 21
(2) Jo 16, 23

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 20-23)