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Meditação sobre a Solenidade da Imaculada Conceição

Solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora
Por Dom Henrique Soares

A Imaculada Conceição da Virgem Maria – é este o mistério que neste dia celebramos. Hoje, a Virgem foi concebida no ventre de Ana, sua mãe. Mas, que tem isso de mistério?

É verdade que toda vida que brota é um mistério; é verdade que todo feto, desde o primeiro momento de sua existência, seja são ou defeituoso, é já uma vida humana e, portanto, um milagre de Deus, um sorriso de Deus, um presente de Deus – apesar dos monstros de hoje, dessa humanidade desalmada e sem Deus, desejarem tanto negar a dignidade da vida humana desde o seu primeiro momento… Sobre isto, basta pensar em alguns ministros do Supremo Tribunal Federal, que podem ter até alguma ciência, mas certamente, pouquíssima consciência, pelo menos consciência realmente humana – se é que outro tipo de consciência possa existir…

Se é assim, se cada concepção neste mundo é um mistério, o que tem de extraordinário a concepção daquela que será a Mãe do Cristo-Deus?

Eis o mistério, eis a novidade, eis o extraordinário: no momento mesmo em que Ana, idosa e estéril, concebeu a Virgem Santa, ela, por ser destinada a ser a Mãe do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, foi preservada da mancha do pecado original. Em outras palavras: a Virgem Maria, desde o primeiro momento de sua existência no ventre materno, foi preservada daquela marca negativa, de fechamento e desarmonia, que mancha e fere a nossa natureza humana. Portanto, a ela, e só a ela, o Senhor pode exclamar, com as palavras do Cântico dos Cânticos:

“Como és bela, Minha amada, como és bela! És toda bela, Minha amada, e não tens um só defeito!” (4,1.7)

Que o Senhor Deus exclame assim!
Que a Mãe Igreja cante assim!
Que a humanidade exulte assim!

A Igreja desde muito cedo foi compreendendo sempre mais este mistério da Imaculada Concepção de Nossa Senhora: ela, a Virgem, fora preservada do pecado graças aos méritos do Cristo, que com Sua paixão, morte e ressurreição nos libertou do pecado.

Como diz São Paulo aos Romanos:

“Todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus e são justificados gratuitamente por Sua graça, em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus” (3,23s)

Com efeito, sem Jesus, sem a cruz que Deus já sabia que aconteceria, a Virgem seria tão pecadora, tão perdida quanto todo o resto da humanidade! Mas, a mesma cruz de Cristo que nos arrancou da lama, sequer permitiu que a Mãe do Cordeiro Imaculado pela lama fosse tocada! Que grande providência de Deus! Que amorosa sabedoria! Nossa Senhora, mais que todos nós, pode e deve cantar as palavras do Profeta:

“Com grande alegria rejubilo-me no Senhor, e minha alma exultará no meu Deus, pois me revestiu de justiça e salvação, como a noiva ornada de suas jóias!” (Is 61,10)

Nossa Senhora, de sorriso escancarado, pode erguer o olhar para o Senhor e exclamar:

“Eu Vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes, e não deixastes rir de mim meus inimigos!” (Sl 29,2)

Em Maria começou a manifestar-se a vitória de Cristo contra o Inimigo da nossa raça humana…

Se pensarmos bem, veremos que este mistério deita suas raízes na antiguidade, nos primórdios do sonho de Deus. A primeira leitura, do Livro do Gênesis, nos diz que, quando toda a humanidade foi marcada pelo pecado, pelo “não” a Deus – esse “não” no qual todos nós já nascemos e que tantas e tantas vezes vamos dizendo e aprofundando -, o Senhor prometeu uma inimizade entre Satanás e a Mulher, entre a descendência de Satanás e a da Mulher:

“Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”

Eis, que mistério tão grande: uma queda, uma miséria, uma misericórdia, uma inimizade, uma promessa! E, desde então, toda a história da humanidade, todo o caminho de Israel, todo o Antigo Testamento, foram um correr para essa promessa, um esperar por esse cumprimento tão santo! Porque, desde o início, Deus tem um plano, e Seu plano é nos enviar o Salvador, de modo que tudo quanto o Pai bendito pensa e sonha para nós, é pensando em Cristo e em função de Cristo. Escutemos o Apóstolo:

“Em Cristo, Deus nos escolheu antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e irrepreensíveis sob o Seu olhar, no amor. Ele nos predestinou para sermos Seus filhos adotivos por intermédio de Jesus Cristo, conforme a decisão de Sua vontade!”

Se Deus tudo pensou para nós em Cristo, se em Cristo nos predestinou, a Igreja crê firmemente que, desde o princípio, aquela Mulher anunciada no paraíso, fora predestinada para ser a Mãe do que esmaga a Serpente, a inimiga de Satanás, aquela que não tem nenhuma amizade com o pecado, nenhuma convivência com a descendência da Serpente! E tudo isso, por graça de Deus em Cristo!

Podemos, então, compreender o modo como Gabriel, no Evangelho, saúda Maria. Como a chama? Não diz o seu nome “Maria”, mas chama-a com um nome novo, aquele que somente Deus, que sonda os corações, poderia conhecer. Escutemos o Anjo, admiremos:

“Alegra-te, ó Toda Agraciada! O Senhor é contigo!”

Toda Agraciada, isto é, toda invadida, inundada pela graça, pelo favor de Deus! Na Virgem Maria não há lugar algum para a “des-graça” do pecado. Nela, em quem o Santo de Deus, o Cristo, o Santo Messias, deveria habitar, não pode, não pôde, não poderá nunca haver lugar para o pecado! Desde o primeiro momento de sua existência, a Virgem foi escolhida e predestinada para a Mãe do Salvador. Não esqueçamos a palavra da Escritura:

“Em Cristo, Ele, o Pai, nos escolheu antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e irrepreensíveis sob o Seu olhar, no amor.”

É este mistério que celebramos!

Se Cristo é o Dia, a Virgem é a Aurora;
se Ele é o Sol, ela é a Estrela d’Alva;
se Ele é o Fruto, ela é a Flor bendita!

Como é bela a solenidade deste hoje: é aurora do santo Natal!
Aquele que ilumina a noite de Belém e do mundo é prenunciado pela luminosidade da Virgem Imaculada!

Caríssimos, vivemos num mundo cada vez mais sem graça, um mundo literalmente “des-graçado”, isso, é fechado para a graça. O grande presente de Natal neste ano que o Supremo Tribunal Federal brasileiro está dando a Deus é o projeto de destruir a vida embrionária com um maldito discurso degenerado, condicionado por uma ideologia ateia e até mesmo anticristã. As revistas, os canais de televisão, a internet estão aí, criticando e ridicularizando aqueles que na Igreja são contra esta e outras aberrações morais. Pois bem: neste mundo sem graça, celebrar a Imaculada Conceição da Mãe de Deus é proclamar a vitória da graça sobre o pecado, é renovar nossa certeza na força que vem da cruz e ressurreição do Senhor, que dissipa as trevas e vence o mal.

Ó Maria Santíssima, Virgem imaculada desde a conceição, intercede por nós, intercede por toda a Igreja, intercede pela humanidade:

Que lutemos contra o pecado, do qual tu foste preservada desde o primeiro momento de tua existência!
Que a força do Cristo Salvador, que não deixou o pecado te atingir, não deixe que o pecado nos vença!
Ó Alegria do mundo, Estrela d’Alva, nenhuma outra como tu nos guias!
És o braço do Deus Forte que nos salva, Virgem Maria!
És um Raio de luz lançado à treva, para aquecer a terra fria!
Imensa Aurora, a Vida em ti se encerra, Virgem Maria!
Só o trono de Deus é mais sublime, que o teu trono, à luz do eterno Dia!
Ó Santa Mãe da Paz que nos redime, Virgem Maria!

Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!