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Festa de São Bento, Abade

Omnis qui reliquerit domum, vel fratres, aut sorores, aut patrem, aut matrem… propter nomen meum, centuplum accipiet, et vitam aeternam possidebit — “Todo aquele que deixar por amor de meu nome a casa, ou os irmãos, ou as irmãs, ou o pai, ou a mãe…receberá o cêntuplo, e possuirá a vida eterna” (Mt 19, 29)

Sumário. Ó, quão bem sabe Deus recompensar, nesta vida e na outra, os pequenos sacrifícios dos seus servos. Eis como São Bento, por haver deixado as comodidades da casa paterna, possui agora um reino imenso e eterno. Por haver deixado parentes e amigos, ei-lo feito Pai de uma família numerosa e gloriosa. Regozijemo-nos com o santo Patriarca, e para participarmos um dia de sua recompensa, correspondamos à nossa vocação. Vivamos sobretudo desapegados dos bens terrenos, e se o Senhor te chamar a deixar inteiramente o mundo, não hesites em fazê-lo, que nunca disso te arrependerás.

I. Consideremos as sublimes virtudes que adornaram a vida do santo Patriarca. Oriundo de família nobre, dotado de todos os dons da natureza e da graça, era objeto das mais justas esperanças de seus pais. Logo que a idade o permitiu, os pais enviaram-no a Roma, onde se distinguiu menos pela aplicação no estudo do que pela prática da piedade, e especialmente de uma devoção terna e filial para com a grande Mãe de Deus. Chegado à idade de dezesseis anos apenas, assustou-se à vista dos perigos de condenação que se encontram no mundo, e temendo que o exemplo dos companheiros o arrastasse ao abismo do vício, resolveu retirar-se para o deserto e buscar ali um abrigo para a sua inocência.

Não contente com isso, Bento foi sepultar-se vivo na gruta de Subiaco, onde viveu por espaço de três anos em oração contínua e penitência rigorosa. O chão serviu-lhe de leito, seu sustento eram uns pedaços de pão recebidos por esmola, seu vestido era um cilício áspero. Tantas virtudes praticadas por tão jovem solitário causaram pasmo ao inferno, e o invejoso Lúcifer não só levantou contra ele as perseguições e calúnias dos maus, mas além disso, pela permissão de Deus, assaltou-o com tentações da carne tão fortes, que, para as vencer, o santo se revolveu em abrolhos e espinhos, enquanto a dor não tivesse extinto todo o sentimento de sensualidade.

Não menos virtuosa foi a vida que São Bento levou depois no Monte Cassino, onde, abrasado em zelo apostólico, reduziu a pedaços o ídolo de Apolo, derrubou o altar e operou muitíssimas conversões, porque o Senhor confirmou a sua pregação pelos mais estrepitosos milagres. Regozijemo-nos com o santo, e em seu nome demos graças a Deus, pelo haver dotado de tantas virtudes. E como ele ainda vive em seus filhos, roguemos ao Senhor que lhes aumente sempre o número e conserve o bom espírito.

II. Afinal São Bento morreu como tinha vivido: consumido pelo puro amor de Deus. Sabendo o santo, já velho, por revelação divina, que estava próximo seu fim, fez-se transportar a igreja para ali receber os santíssimos sacramentos. Depois, apoiando-se nos braços dos seus queridos filhos, com os olhos levantados ao céu, expirou num dia de sábado. Sua bela alma foi vista subir ao paraíso por uma estrada luminosa, que, partindo da cela do santo, foi terminar no céu. Ó! Quão bem sabe Deus recompensar ao cêntuplo os sacrifícios dos seus servos!

Por haver deixado as comodidades da casa paterna, eis agora São Bento possuidor de um reino imenso e eterno. Por haver deixado parentes e amigos, ei-lo feito Pai de uma família numerosa, que tem sido e será sempre o asilo e baluarte da civilização; de uma família na qual foram tantos reis, rainhas e imperadores, achar a paz; que deu a Igreja grande número de Pontífices, Doutores e Santos.

Se desejamos ter um dia parte na recompensa do santo, obedeçamos fielmente aos convites divinos, a, seja qual for o nosso estado de vida, empenhemo-nos de hoje em diante na imitação das belas virtudes do santo Patriarca. Vivamos sobretudo desapegados, ao menos pelo afeto, das coisas terrestres. Se o Senhor te chamar a deixar o mundo, não hesites em fazê-lo, visto que nunca disse te há de se arrepender.

Meu santo Patriarca, regozijo-me convosco pela glória a que o Senhor vos sublimou, e animado pela vossa grande bondade, escolho-vos hoje por meu pai, meu mestre e meu advogado. Pelo amor que tendes a Jesus e Maria, suplico-vos que me admitais no número dos vossos devotos e me protejais como vosso servo. Obtende-me a graça de imitar sempre as vossas virtudes e de trilhar sempre o caminho da perfeição cristã. Obtende-me especialmente o desprendimento de todas as criaturas, uma devoção terna e constante a Jesus sacramentado e a Maria Santíssima, o espírito de oração e um zelo ardente pela salvação das almas.

Aceitai, ó meu querido santo, esta pequena oferta, penhor da minha servidão; assisti-me na minha vida e em particular na hora da minha morte; para que, tendo-vos venerado e servido na terra, mereça gozar convosco da posse de Deus no céu. “Ó Senhor, concedei-me pela intercessão de São Bento, abade, que patrocinado por ele consiga obter o que meus méritos não merecem” (1). Fazei-o pelo amor de Jesus e Maria.

Referência:
(1) Or. festi.

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 451-454)