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Estada amorosa de Jesus no Santíssimo Sacramento

Ecce ego vobiscum sum omnibus diebus, usque ad consummationem saeculi — “Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28, 20)

Sumário. O amantíssimo Jesus não quis pela morte ficar separado dos seus fiéis; e por isso instituiu o Santíssimo Sacramento. Já que o Senhor, para nos patentear o seu amor, quis ficar continuamente conosco sobre os altares, também nós, para lhe patentear o nosso amor, devemos visitá-lo frequentemente, e expor-lhe as nossas necessidades. Permaneçamos o mais tempo possível diante do Tabernáculo, e pelo nosso fervor procuremos reparar as muitas ingratidões que Jesus recebe da parte dos homens. Todos os santos acharam cá na terra o seu paraíso na presença de Jesus sacramentado.

I. O nosso amantíssimo Redentor, tendo de deixar a terra para ir ao Pai, depois de ter cumprido pela sua Paixão a obra da nossa Redenção, e vendo aproximar-se a hora da sua morte, não nos quis deixar a sós neste vale de lágrimas. Que fez então? Instituiu o Santíssimo Sacramento da Eucaristia, no qual nos deixou a sua própria pessoa.

“Nenhuma língua, dizia São Pedro de Alcântara, pode exprimir a grandeza do amor que Jesus tem a cada uma das almas; e por isso, querendo este Esposo partir desta terra, a fim de que a sua ausência no-lo não fizesse esquecer, deixou-nos por lembrança este divino Sacramento, no qual reside em pessoa, porque não quis que entre ele e nós, para conservar sua memória sempre viva, existisse outro penhor senão ele mesmo”.

Jesus não quis, pela sua morte, separar-se de nós, e instituiu este Sacramento de amor a fim de ficar conosco até o fim do mundo: Aqui estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos (1) . Eis portanto, segundo nos ensina a fé, Jesus Cristo sobre tantos altares encerrado como em outras tantas prisões de amor, a fim de se deixar achar por todos aqueles que o procuram. Mas, Senhor, exclama São Bernardo, isto não convém à vossa majestade. E Jesus responde: Basta que convenha ao meu amor.

Grande ternura experimentam os peregrinos que vão a Jerusalém e visitam a Gruta onde nasceu o Verbo Encarnado , o pretório onde foi flagelado, o Calvário onde morreu, e o sepulcro onde foi sepultado. Mas quanto maior deve ser a nossa devoção, quando visitamos um altar, no qual está o próprio Jesus no Santíssimo Sacramento! Dizia o Bem-aventurado João de Ávila, que é impossível achar santuário mais comovente nem mais consolador que uma igreja em que reside Jesus sacramentado.

II. Já que Jesus Cristo, a fim de nos patentear o seu amor, quis ficar continuamente conosco no Santíssimo Sacramento, também nós, a fim de lhe patentearmos o nosso amor, devemos visitá-lo frequentemente; e sempre ir expor-lhe as nossas necessidades e misérias. Deixemo-nos ficar o mais tempo possível ao pé do Tabernáculo, e procuremos, pelo nosso fervor, reparar as muitas ingratidões que Jesus recebe da maior parte dos cristãos. Todos os santos cá na terra acharam o seu paraíso na presença de Jesus sacramentado.

Ó meu amado Jesus, ó Deus todo amor para com os homens, que podíeis inventar mais a fim de serdes amado por esses homens ingratos? Ah! Se os homens Vos amassem! Então, de certo todas as igrejas estariam continuamente repletas de gente que, com rosto em terra, Vos havia de adorar e agradecer, toda abrasada em amor, ao ver-Vos com os olhos da fé escondido dentro do Tabernáculo. Mas não! Os homens, esquecendo-se de Vós e do vosso amor, correm atrás de outro homem, do qual esperam algum bem miserável, e Vos deixam abandonado e só. Oxalá pudesse com as minhas homenagens reparar tantas ingratidões.

Ó meu Redentor, pesa-me de também eu ter sido no passado tão negligente e ingrato. Mas para o futuro não quero mais ser assim; quero fazer-Vos companhia o mais possível. Abrasai-me no vosso santo amor, pois que doravante só quero viver para Vos amar e Vos agradar. Mereceis o amor de todos os corações. Se outrora Vos desprezei, agora não desejo senão amar-Vos. Meu Jesus, Vós sois o meu amor e todo o meu bem: Deus meus et omnia. Ó Santíssima Virgem, Maria, alcançai-me um grande amor para com o Santíssimo Sacramento.

Referência:
(1) Mt 28, 20.

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até à Undécima semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 406-409)