Skip to content Skip to footer

Escola de Mansidão

Meditação para o Sábado da 3ª Semana depois da Epifania. Escola de Mansidão

Meditação para o Sábado da 3ª Semana depois da Epifania

SUMARIO

Depois de termos aprendido a humildade no berço do Salvador, iremos aprender:

1.° A mansidão;

2.° A necessidade da humildade para adquirir a mansidão: porque não se é manso sem que  se seja humilde.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De vigiarmos sobre nós, para nunca nos deixarmos vencer dos ímpetos de cólera;

2.° De nunca falarmos ou obrarmos nos momentos de emoção, mas de esperarmos o sossego e o sangue frio da mansidão.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Salvador:

“Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” – Discite a me quia mitis sum et humilis corde (Mt 11, 29)

Meditação para o Dia

Adoremos o divino Menino Jesus, tão manso no Seu berço; o Seu rosto, a Sua vista, as Suas maneiras, tudo nEle respira a mansidão e benignidade (1). Oh! Quão bem merece, neste estado, todos os nossos respeitos e todo o nosso amor!

PRIMEIRO PONTO

O Menino Jesus no berço ensina-nos a Mansidão

O Verbo Encarnado, descido do céu à terra, nada tomava mais a peito do que ensinar os homens a tratar-se uns aos outros com toda a mansidão e caridade. Propunha-Se dizer-lhes um dia, quando falasse aos povos congregados: Aprendei de mim que sou manso. Mas não quer esperar tanto tempo para dar ao mundo este ensino; e não podendo ainda articular sons, prega-lhes com o exemplo a virtude, que é o primeiro desejo do Seu coração. Com efeito, que mais manso do que um menino no berço! Ele é sem desdem e sem altivez para pessoa nenhuma, sem azedume e sem fel; não sabe o que é querer mal a alguém; é acessível a todos, sem distinção de rico e de pobre, de sábio e de ignorante, de poderoso e de fraco, de grande e de pequeno. Tais são os meninos vulgares. Mas, no Menino Jesus, a mansidão é muito mais admirável. NEle, a mansidão não é natural, mas uma virtude, refletida e voluntária; ou antes, é a mansidão personificada, a bondade e a brandura pintadas em todas as feições do Seu rosto. Nunca Lhe escapa o menor movimento de cólera, que tem algumas vezes os meninos; nunca a sombra dessa petulância, que nasce da irreflexão. É uma atenção delicada em evitar tudo
o que pode causar desgosto, em opôr-se a tudo que pode causar prazer.

Eis aqui o nosso modelo. É assim que devemos sempre observar na nossa conduta uma mansidão inteiramente divina (2); não ter nos lábios senão palavras doces (3), abafando todo o movimento de impaciência ou de descontentamento, que tenda a manifestar-se por qualquer modo; e como Sansão, tirando o mel da boca do leão ou do forte a doçura (4). Devemos sofrer com paciência todas as dores e contradições, tudo que ofende a nossa má índole ou que nos desagrada. Enquanto não tivermos atingido este grau de virtude, não há caridade possível com o próximo: porque, diz São Vicente de Paula, «todos os homens a possuem, quando querem ser tratados com brandura; ninguém quer ser levado com aspereza, repreendido com dureza, corrigido com acrimonia: assim é feito o homem; nós não o mudaremos».

Examinemos a nossa consciência neste ponto; quantas vezes não temos nós faltado à mansidão cristã?

SEGUNDO PONTO

Não se é Manso sem que se seja Humilde

A soberba é essencialmente altiva, dura e desdenhosa, pronta a irritar-se pelas menores coisas, a ofender o próximo com as suas palavras: por conseguinte, não há com ela mansidão possível; ao contrário, com a humildade, a mansidão é infalível. O homem humilde é essencialmente manso: nunca se irrita por coisa alguma, porque julga que, seja o que for que lhe façam ou lhe digam, tratam-o sempre melhor do que merece; não ofende a ninguém, porque, reputando os outros superiores a si, somente tem deferência e atenções para com todos. É manso, porque é humilde; e daí esta palavra cheia de exatidão, que a mansidão é filha da humildade: é a sua flor, o seu encanto. Quando faltamos à mansidão? Não foi quando tinham ofendido o nosso amor-próprio, quando tinham mostrado fazer pouco caso de nós, quando nos tinham anteposto outrem, ou quando nos tinham dito uma palavra injuriosa? Humilhemo-nos, pois, se quisermos ser mansos: somente a humildade é que pode levar-nos à mansidão.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Benignitas et humanitas apparuit Salvatoris nostri Dei (Tt 3, 4)

(2) In suavitate, in Spiritu Sancto (2Cor 6, 6)

(3) Mei et lac sub lingua tua (Ct 4, 11)

(4) De forte egressa est dulcedo (Jd 14, 14)

Voltar para o Índice do Tomo I das Meditações Diárias de Mons. Hamon

(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo I, p. 242-244)