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Encerramento do mês do Rosário

O Rosário e o Purgatório

É um tema vasto para nossas meditações e considerações. O dogma do Purgatório é terrível e consolador.

Terrível! Daremos contas ao Senhor até de uma palavra ociosa, diz o Evangelho, e pagaremos até o último ceitil…

Só entraremos no céu, bem perfeitos e santos. E que tormentos os do Purgatório! Nada se pode comparar na terra, dizem os Santos Padres e Doutores da Igreja, às penas dolorosas e terríveis das chamas expiadoras do Purgatório.

Dogma terrível, sim, porém consolador!

Há na outra vida um remédio, uma penitencia, uma expiação e nos tornamos mais puros e menos indignos da visão de Deus! Há consolações no Purgatório, diz São Francisco de Sales e excedem a todas as consolações da terra! E uma delas e a maior sem dúvida é a Materna, doce proteção de Nossa Senhora. A Mãe de Deus, Rainha dos Anjos e do Céu, Rainha do Céu e da Terra é também Rainha do Purgatório!

Felizes os devotos de Maria, diz Santo Afonso, pois Ela os socorre neste mundo, os assiste e consola no Purgatório com sua proteção!

São Bernardino de Sena, São Boaventura, Gerson, São Pedro Damião, enfim uma plêiade gloriosa de santos e doutores da Igreja são todos unânimes em afirmar a proteção de Maria sobre as santas almas do Purgatório. A devoção à Nossa Senhora do Carmo, tantas vezes e calorosamente recomendada, não é a devoção à Maria Rainha e Mãe do Purgatório?

Quando dizemos à Maria em nossas preces mil vezes repetidas do Rosário: — Rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte, é certo, imploramos também a proteção… para depois da morte.

Maria, repete Santo Afonso, nos protege na vida, na morte e… depois da morte.

A Igreja nos diz numa das suas preces da Liturgia:

“Ó Deus, que perdoais aos pecadores e desejais a salvação dos homens, imploramos a vossa clemencia, por intercessão da Bem-aventurada Maria sempre Virgem, e de todos os santos, em favor de nossos irmãos, parentes e benfeitores, que saíram deste mundo afim de que alcancem a bem-aventurança eterna”

Isto nos autoriza a firmar a nossa crença no poder intercessor de Maria em favor das santas almas. Alguns escritores, observa o piedoso oratoriano, o padre Faber, pretendem que Nossa Senhora não quer ajudar as almas do Purgatório sem a nossa cooperação. E dizem mesmo que Nossa Senhora não pode ajudá-la senão indiretamente.

“Ó, exclama o padre Faber, eu não gosto de ouvir falar de alguma coisa que Nossa terna Mãe não possa fazer! (Tudo por Jesus)”.

Sim, Maria pode nos socorrer no Purgatório e nos socorre.

Ora, a melhor, a maior, a mais bela, a mais eficaz de todas as orações para se implorar o socorro e a proteção de Maria, na Igreja, é o Rosário. Já não o está mil vezes provado? Há, portanto, melhor, maior e mais eficaz sufrágio às almas do Purgatório, depois da Missa e a liturgia dos defuntos, que o Rosário de Maria?

Não é possível.

São Domingos tantas vezes viu e sentiu a eficácia do Rosário no alívio dos sofrimentos das santas almas.

O Rosário é uma grande prece da Comunhão dos santos. É a glória da Igreja triunfante, a força e arma da Igreja militante, e o alívio da Igreja padecente.

Tomemos o Rosário bendito neste mês de Novembro, o mês do sufrágio, o mês da saudade, e tenhamos compaixão de nossos mortos queridos!

A Igreja leva o mês do Rosário até 2 de Novembro, até o dia dos mortos, como para nos dizer:

Rezai, rezai o Rosário de Maria pelos mortos!

***

Resoluções

Finda-se o belo mês do Rosário quando a Igreja militante, unida à Igreja triunfante se inclina sobre os que sofrem na Igreja padecente. É a hora de nossas resoluções. Após havermos meditado as grandezas, os privilégios e as glórias do Santo Rosário de Maria; depois de sentirmos quanto é bela e eficaz a Rainha das devoções marianas, tomemos resoluções firmes de fidelidade e amor a Nossa Senhora que é a fidelidade e amor ao seu Rosário bendito.

Nunca foi mais necessário recorrer a Maria como nesta hora tremenda de sangue, de lama e de ódios. A hora mais trágica da história. Rezemos com fervor o Rosário pela salvação do mundo.

É que bem há de fazer ao mundo e à civilização o Terço?! — pergunta ironicamente o orgulhoso cidadão moderno e até mesmo o católico sem a compreensão e o espírito do sobrenatural. Não sabemos, não vemos na história da Igreja que Deus se serve de meios pobres e fracos aos olhos do mundo para confundir o orgulho do século, a vaidade e presunção dos homens?

O Rosário é uma devoção bem singela, bem dos humildes e dos pequeninos. Anda em mãos dos Papas e reis e do mais pobrezinho operário, o mais humilde dos enfermos e dos ignorantes e das criancinhas. No entanto é uma força poderosa. Uma das mais extraordinárias forças espirituais do mundo. A oração não é uma força? E que oração mais completa e bela que o Rosário? Davi quando tentou vencer o gigante Golias revestiu-se da couraça e das pesadas armaduras. Viu-se sem força para lutar. Toma porém umas pedrinhas da Torrente, despe as armaduras e… cinco pedras abatem o terrível e invencível inimigo.

Santo Afonso com alguns santos padres aplica a devoção à “Virgem” ao poder das cinco letras do nome de Maria, a vitória de Davi com cinco pedrinhas.

Venceremos também com os cinco mistérios do nosso Terço os inimigos modernos da Igreja e da Civilização.

Que valem hoje “Tratados”, gritos de paz, conclaves internacionais, Conferências e Pactos?

Tudo falha e quanto mais se fala em paz, mais a guerra se alastra devastadora e terrível, mais se incendeiam os ódios. Meu Deus! Já se viu hora mais trágica na história da Humanidade? Só nos resta olhar para o céu e pôr nossa confiança em Maria.

É o que a Igreja nos aconselha a fazer quando por Leão XIII e Pio XI, e uma plêiade gloriosa de Papas desde São Domingos até hoje, prega e incentiva a devoção do Rosário de Maria como arma de combate contra o inferno.

Diz Leão XIII na “Encíclica Magnae Dei Matris”:

“O campo do Senhor está batido por ventos empestados e corrompidos e coberto de uma vegetação de ignorância religiosa, de erros e de vícios.

As nações aflitas, gemem sob o peso da vingança divina e tremem angustiadas na expectativa ainda de maiores catástrofes”

Isto dizia Leão XIII em 1892. E agora? Há maiores calamidades?

O Rosário é essencialmente uma oração à Mãe de Misericórdia. Ad Mariam, Ad Matrem Misericordiae confugimus. A Maria, a Maria Mãe da Misericórdia recorremos, bradava o Papa do Rosário.
Agora, é o que nos resta fazer. Ó, tomemos o Rosário e confiantes imploremos a proteção de Maria. Só Ela nos salvará. Só Ela, sim, porque a salvação dos homens e do mundo, Deus confiou à sua Misericórdia.
E, seja toda a nossa vida pela nossa devoção ardente a Nossa Senhora e ao Rosário, um eterno mês do Rosário!

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(BRANDÃO, Monsenhor Ascânio. O Mês do Rosário, Edições do “Mensageiro do Santíssimo Rosário”, 1943, p. 267-274)