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Elementos gerais sobre a Eucaristia

Jesus na Eucaristia

O que é a Eucaristia?

É o Sacramento que contém real e substancialmente Jesus Cristo, lhe rememora e reproduz misticamente o sacrifício e nos dá o Seu próprio Corpo e Sangue como alimento espiritual.

Como se vê por esta definição, o Sacramento da Eucaristia nos faz três dons incomparáveis:

a) Contém real e substancialmente Jesus Cristo.
b) Rememora e reproduz misticamente o Sacrifício do Calvário.
c) Dá-nos o Corpo e Sangue de Cristo como alimento espiritual.

Esse Sacramento é, assim, o maior de todos os sete Sacramentos que Cristo deixou à sua Igreja. Nos outros, Ele deixou as Suas graças; neste, deixou Sua própria Pessoa, Seu sacrifício e mais a graça de nos unirmos a Ele pela comunhão.

Existe dom mais excelente que a Eucaristia?

Não existe. Deus nada pode dar melhor que a Si mesmo. E aqui Deus se dá ao homem pessoalmente, fisicamente, para estar com ele, imolar-se por seus pecados e unir-se a ele como alimento.

Este dom é, pois, o mais excelente que Deus pode fazer aos homens, sem excetuar a Encarnação do Verbo.

A Eucaristia supera, então, o dom da Encarnação?

Perfeitamente, pois renova-o todos os dias através dos séculos, e, com os benefícios da Encarnação, dá-nos ainda sua principal consequência e finalidade, que foi o Sacrifício de Cristo.

Em que sentido a Eucaristia renova a Encarnação?

A Eucaristia renova a Encarnação não no sentido de que o Verbo de novo se encarne no seio de Nossa Senhora — isto não. Renova o que substancialmente a Encarnação realizou: a presença do Verbo Humanado entre nós para nos santificar.

Não há necessidade de Jesus passar novamente pelo seio de Maria. A Humanidade recebida de Maria continua inseparavelmente unida ao Verbo. Porque prolonga entre os homens por um Sacramento a presença física desta Humanidade, dizemos prolongar o Verbo a sua Encarnação.

Pode-se dizer que a Eucaristia prolonga também o mistério da Redenção?

Perfeitamente. Pois este Sacramento começa a existir quando se celebra o Sacrifício da Missa, reprodução do mistério augusto de nossa Redenção.

Cumpre mesmo dizer-se que a Eucaristia não só renova os mistérios da Encarnação e Redenção, mas de certo modo reproduz todos os mistérios e maravilhas divinas.

Como entender isto?

Além dos mistérios da Encarnação e Redenção, a Eucaristia torna realidade particularmente presente entre nós o mistério de Deus mesmo, isto é, dá-nos Deus Uno e Trino sob as espécies sacramentais.

As três Pessoas Divinas são inseparáveis. Onde está o Verbo, Filho de Deus, estão unidos a Ele, pela unidade de substância, o Pai e o Espírito Santo. Na Hóstia está, portanto, a Trindade Santíssima realmente presente em Cristo Jesus.

Além disto, no maior de todos os Sacramentos, Deus faz uma como síntese de Suas maravilhas. Pelos grandes prodígios que este Sacramento supõe, ele se torna uma centralização do poder criador, conservador e santificador de Deus.

Santo Tomás explica, por exemplo, que os maiores prodígios da criação foram superados no dom da Eucaristia (1).

Para tornar-se aí presente, e reproduzir o Sacrifício do Calvário e dar-se em alimento, quis o Senhor realizar os mais estupendos milagres, superiores a quaisquer outros na ordem da natureza e da graça.

É por isto que a Santa Igreja aplica à divina Eucaristia aquela palavra dos Salmos:

“Memoriam fecit mirabilium suorum: escam dedit timentibus se” – “Fez Deus um memorial de Suas maravilhas: deu um alimento aos que o temem” (Sl 110)

Então pode-se dizer que a Eucaristia é a síntese de nossa fé?

Isto mesmo. A Eucaristia é uma síntese completa de nossa fé. Por isto também é chamada mistério de fé.

É mistério de fé não só porque a presença e sacrifício de Cristo não podem ser penetrados pela razão humana, mas também porque nossa fé está aí compendiada neste belíssimo e augustíssimo Sacramento.

Resumem-se aí todos os mistérios da fé: a Trindade aí está; a Encarnação aí se prolonga; a Redenção aí se renova; aí se nutre e sustenta a vida da Igreja e das almas; aí se dá a todos nós o penhor da futura imortalidade, como diz a Liturgia: et futurae gloriae nobis pignus datur.

Costuma-se também chamar a Eucaristia «Mistério de amor». Justifica-se esta denominação?

É muito justa esta denominação. Pode ser explicada com respeito a nós e com respeito a Deus.

Com respeito a nós, a Eucaristia é um mistério de amor, porque lhe devemos um amor todo especial. Visto que este Sacramento encerra as maravilhas de Deus e o próprio Deus, devemos-lhe amor incomparável.

Com respeito a Deus, este Sacramento é o mistério de amor, porque só o amor infinito do Senhor para conosco o explica. E foi certamente por isto que o Evangelista São João, ao narrar a instituição da Eucaristia, principiou dizendo:

“Como o Senhor havia amado os seus que estavam neste mundo, até o extremo os amou!” (Jo 13, 1)

De acordo com o que foi dito até aqui, pode-se afirmar que a Eucaristia sintetiza também a própria Religião Católica?

De fato. Foi o que afirmou Pio XII na Encíclica Mediator Dei:

“O Mistério da Santíssima Eucaristia, instituída pelo Sumo Sacerdote Jesus Cristo e por sua vontade perpetuamente renovada pelos seus ministros, é como a súmula e como que o centro da Religião Cristã”, diz textualmente este Pontífice.

Toda a vida da Santa Igreja e das almas circunda em torno da Eucaristia. A Santa Igreja perderia o sentido de sua existência se a Eucaristia fosse extinta de qualquer modo.

A Eucaristia realiza em plenitude a Religião, cujo sentido último é união do homem com Deus. Por este divino Sacramento consuma-se a união mais perfeita da criatura com o seu Criador.

Como se efetua na Eucaristia esta íntima união de Deus com o homem que constitui a Religião?

De tríplice modo se dá esta união pela Eucaristia:

a) Pela presença especial de Deus entre os homens neste Sacramento.
b) Pela realização mais perfeita do culto divino, que se presta a Deus no Sacrifício da Missa.
c) Pela união estreitíssima de Jesus Cristo com a alma na Sagrada Comunhão.

Expliquemos bem estes pontos.

Religião quer dizer relação do homem com Deus. O primeiro passo desta relação com Deus será, certamente, a presença.

O homem não pode estar presente junto a Deus, como seria seu desejo. Deus, porém, realiza na Eucaristia o milagre estupendo de uma presença especial e contínua no meio dos homens.

Note-se que falamos de uma presença especial. Deus por Sua essência e poder está entre as criaturas. É uma presença universal, geral. Na Eucaristia, porém, Ele está na Humanidade de Jesus Cristo. E está ali não só como Criador e Senhor como nas demais criaturas, mas especialmente, como objeto de nosso culto, de nosso amor, para Se unir a nós, receber nossos respeitos e para santificar-nos. Presença especialíssima, portanto, pelo seu modo e pela sua finalidade.

A Religião é constituída principalmente pelas relações de homenagens que prestamos ao nosso divino Criador. Em todos os tempos, os homens sentiram que deviam homenagear ao Senhor com sacrifícios de adoração, de propiciação pelos pecados e de súplicas. Assim, ofertavam a Deus vítimas, que eram queimadas em homenagem a Deus. Eram animais puros, como os cordeiros, os novilhos, as pombas. Quão longe estavam de serem condignas com a Majestade divina estas homenagens de vítimas tão mesquinhas! Deus mesmo quis proporcionar ao homem a possibilidade de oferecer um sacrifício condigno: na Eucaristia, no instante em que ela é consagrada, Jesus Cristo renova, em virtude de uma instituição divina, o Sacrifício de sua vida feito uma vez sobre a cruz. A Eucaristia é, pois, o mais excelente ato de culto que estabelece relações entre os homens e seu divino Criador.

Enfim, quis Deus estreitar de um modo mais admirável as suas relações com as almas. O que o amor terreno não pode senão sonhar e desejar, o amor divino todo poderoso o realizou: entrar dentro do coração amado.

A Eucaristia nos é dada como alimento, e por ela Deus entra dentro de nós e nós nos mergulhamos em Deus. Não existe e não poderia existir, antes do Céu, mais estreita relação da criatura com o seu Criador! É o ato último da Religião.

Foi dito acima que a presença de Deus na Eucaristia é especialíssima pelo modo e pela finalidade. Em que sentido?

A resposta está contida na explicação supra. Não será inútil, porém, repeti-la sob novas formas, para maior clareza.

Deus, criador de tudo o que existe, é o princípio de todo ser. Coisa alguma pode existir sem que o ser intrínseco lhe seja dado e sustentado pelo princípio de todo ser — Deus. Logo, Deus está presente em todos os seres pelo seu poder criador. É uma presença geral, universal, que nada adiciona, por si mesma, à natureza das coisas e dos homens.

Além desta presença universal, natural, Deus quis ainda estar no coração dos homens pela graça. É uma presença sobrenatural. Pela graça Deus habita no coração do homem, santificando-o, dando-lhe uma participação da vida divina. Esta presença de Deus só a têm os homens que estão em estado de graça. Os pecadores não a possuem.

Deus, porém, ainda quis estar presente no meio dos homens por um modo novo. Inicialmente encarnou-Se, assumiu nossa natureza humana e viveu entre os homens, pela Encarnação. Depois, quis estender este modo de presença enquanto homem através dos séculos. E o faz pela divina Eucaristia.

Na Eucaristia está Deus presente de modo substancialmente diverso do modo pelo qual está nas almas em estado de graça e do modo pelo qual está em todas as criaturas.

Nas criaturas Deus está naturalmente como princípio de todo ser.

Nas almas está Deus sobrenaturalmente, dando uma vida acima da vida natural, ou seja, uma participação da vida divina.

Na Eucaristia acha-se Deus sacramentalmente, na Humanidade Santa do Verbo, que continua a morar entre os homens, sacrificar-Se como Vítima por eles, e a dar-se como alimento na mais estreita das uniões.

A particularidade especialíssima da Eucaristia é que aí não está somente a Divindade, mas também e principalmente a Humanidade Santa do Verbo Encarnado, e aí está como Vítima e como alimento das almas.

Assim, fica explicado porque dizíamos ser a presença de Deus na Eucaristia especialíssima pelo modo e pela finalidade.

O modo de presença aí é especialíssimo e diverso dos outros dois (pelo poder criador e pela graça); é uma presença de Deus na Humanidade Santa de Cristo, real, física e substancialmente presente.

A finalidade desta presença é também especialíssima e diversa das finalidades dos outros dois modos de presença (para conservar o ser e nos santificar); a finalidade desta nova presença é ser vítima e alimento da Santa Igreja.

Então a Eucaristia pode ser considerada como Presença, como Sacrifício e como Comunhão Sacramental, não é?

Isto mesmo. Tríplice o aspecto da Eucaristia, que não se deve esquecer: Presença, Sacrifício e Comunhão sacramental do Verbo Encarnado.

Mas é preciso não esquecer também que este tríplice aspecto da Eucaristia é benefício eminentemente social, e não só individual. Isto é, embora este Sacramento seja aplicado pessoalmente a cada indivíduo, entretanto ele é um Sacramento para a Igreja toda, corpo social e místico de todos os fiéis.

Cristo está aí presente para a Igreja. Renova Seu sacrifício para a Igreja. Dá-se em Comunhão a fim de unir a todos do modo mais íntimo, na unidade da Igreja.

Sempre, portanto, devemos considerar o tríplice aspecto da Eucaristia — Presença, Sacrifício e Comunhão — com olhos postos na vida social e divina do Corpo Místico, que é a Igreja.

Qual dos três aspectos da Eucaristia é o mais importante?

Propriamente, todos são igualmente importantes, porque um completa os outros, e um sem os demais não realizaria a finalidade plena deste grande Sacramento.

Podemos, entretanto, considerar graus de importância nestes aspectos conforme a face sob que os pesquisarmos.

Assim, se considerarmos a Eucaristia enquanto Sacramento social, centro da liturgia da Igreja, deveremos dizer que o seu aspecto de Sacrifício é o mais importante. Pois é em virtude de ser Sacrifício que a Eucaristia é o centro da unidade social da Igreja e centro da liturgia.

Se considerarmos a Eucaristia em sua aplicação individual, ou seja, enquanto graça sacramental, releva o aspecto de Comunhão.

Mas se atentarmos para o fundamento de toda a realidade eucarística, veremos que a Presença Real se torna o aspecto mais importante, porque fundamental.

A Presença Real de Cristo na Eucaristia é o fundamento essencial do Sacrifício e da Comunhão. Não existirá aí Sacrifício de Cristo nem Comunhão com Cristo, se Cristo não estiver presente. E é por isto que os manuais de catecismo e teologia, ao tratarem deste assunto, versam primeiro a Presença Real, depois o Sacrifício e enfim a Comunhão.

Assim procederemos em nosso estudo, segundo esta ordem costumeira.

Referências:

(1) Suma Teológica III P. Q. 75, art. 8, ad 3

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(Miranda, Padre Antônio. Doutrina Eucarística: Respostas às perguntas mais naturais que espírito humano formula diante do Mistério da Eucaristia. Editora O Lutador, 1955, p. 11-23)