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Cristo, nossa fé, razão da nossa esperança

Dom Henrique Soares da Costa

Meditação XII – Quarta-feira da II semana da Quaresma

Por Dom Henrique Soares da Costa

Reze o 118/119, 81-88:

89SENHOR, a tua palavra permanece para sempre,
mais estável do que os céus.
90A tua fidelidade atravessa as gerações;
formaste a terra e ela continua firme.
91Pelos teus decretos, tudo se mantém até hoje,
porque tudo está ao teu serviço.
92Se a tua lei não fizesse as minhas delícias,
já teria sucumbido na minha aflição.
93Jamais esquecerei os teus preceitos,
pois é por eles que me dás a vida.
94Eu sou teu: salva-me,
pois sempre tenho seguido os teus preceitos!
95Os ímpios procuram a minha perdição,
mas eu estou atento às tuas ordens.
96Descubro limites em tudo o que parece perfeito,
mas os teus mandamentos são infinitos.

Leitura da Carta de São Paulo aos Gálatas 3, 8-9:

8E como a Escritura previu que é pela fé que Deus justifica os gentios, anunciou previamente como evangelho a Abraão: Serão abençoados em ti todos os povos. 9Assim, os que dependem da fé são abençoados com o crente Abraão.

1. Observando bem vários dos textos importantes de São Paulo, sobretudo na Epístola aos Romanos e aos Gálatas, o Apóstolos fala em dois modos de fundamentar e viver a relação com o Senhor Deus, dois amplos horizontes: a fé e o cumprimento dos preceitos a Lei de Moisés, isto é, as famosas obras da Lei.

2. Ora, nestes dois versículos que estamos meditando, Paulo afirma que Deus justificaria, isto é, tornaria seus amigos os gentios pela fé. Interessante que, de modo surpreendente, aparentemente, não diz em quem seria essa fé…

“Deus justificaria os gentios pela fé…” (v. 8a)

Mas, se formos atentos ao contexto, aparece claríssimo que se trata de mesma fé que Abraão teve: fé na promessa de um Descendente, de um Isaac, que é o próprio Cristo, como eu mostrei na meditação passada. É esta fé que os gálatas devem sustentar agora, ao invés de se apegaram às obras da Lei de Moisés, à circuncisão que os cristãos judaizantes desejavam convencê-los a praticar (cf. Gl 1,6).

Por isso mesmo, o Apóstolo cita a promessa feita a Abraão, em Gn 12,3:

“Em ti serão abençoadas todas as nações” (v. 8b)

Eis o sentido: na fé de Abraão, que creu na promessa de Deus de que lhe nasceria um filho, Isaac, seu descendente, estava já presente verdadeiramente, segundo o desígnio de Deus, a fé que teriam os gentios, acreditando no verdadeiro Isaac que Deus mandaria: o Filho, Jesus nosso Senhor, Descendente de Abraão por excelência, como veremos claramente mais adiante (cf. Gl 3,16).

3. Assim, os que são pela fé, sejam gentios ou judeus, são abençoados juntamente com Abraão, o Crente, o Amigo de Deus (cf. Gn 15,6; 1Mc 2,52; 2Mc 1,2; Eclo 44,19.21), são verdadeiramente filhos de Abraão segundo a fé!

Aqui, atenção: O judeu, por ser judeu simplesmente, recebe a “bênção” da Lei, cumprindo os preceitos da Lei. Somente crendo no enviado de Deus, Jesus Cristo, o novo Isaac, o Descendente de Abraão, o judeu receberá o que a própria Lei prometeu em Gn 12,3: a bênção de Abraão! A bênção da Lei prepara o judeu para receber em Cristo, novo Isaac, a bênção definitiva, que é a bênção de Abraão, prometida antes da bênção da Lei! Deste modo, para São Paulo, seja o judeu que o gentio é justificado somente pela fé em Cristo, o descendente prometido a Abraão, que creu na promessa e foi justificado (cf. Gn 15,6)! Isto sim, é uma novidade, uma percepção do mistério de Deus revelada a Paulo, é como que o “Evangelho de Paulo”. Leia com atenção Ef 3,1-7. Enquanto Paulo tem este pensamento largo a respeito da bênção que Deus preparou desde sempre para os gentios, os judeus, debaixo da Lei, de modo geral pensavam que os gentios poderiam receber as bênçãos prometidas a Abraão, desde que adorassem ao Deus de Israel e se submetessem à circuncisão, porta de todas as observâncias da Lei de Moisés. Paulo, indignado, pergunta: Então, para que Cristo? Se é pela Lei, não é pela fé, pela adesão ao Senhor Jesus Cristo que vem a salvação! Cristo seria inútil, seria apenas mais um profeta judeu (cf. Gl 2,21).

4. Agora, façamos uma pausa em acompanhar o raciocínio do santo Apóstolo. Vamos nos deter nesta realidade de que ele fala com tanta paixão, a realidade da fé! O que significa esta fé que justifica? Significa:

=> acolhimento do dom de Deus, isto é, acolhimento Daquele que Ele enviou: Jesus Cristo (cf. Jo 6,28s).

=> a partir do acolhimento deste dom tão grande e inesperado, Jesus crucificado delineado diante de nós (cf. Gl 3,1), o reconhecimento de que somos todos insuficientes, somos pecadores: os judeus diante da Lei; gentios diante da consciência: todos vemos no Crucificado o quanto somos incapazes sozinhos de nos salvar, já que somos deficientes diante da Lei da consciência e diante da Lei de Moisés! Somos necessitados de salvação, de um Salvador! Leia, novamente, com toda atenção Rm 3,21-31.

=> o reconhecimento de que em Cristo, o Senhor nos deu gratuitamente o perdão, pregando na Cruz os nossos pecados (cf. Rm 3,30; Cl 11,14).

=> o acolhimento da salvação trazida por Jesus, Nele crendo, recebendo o Batismo no Seu Espírito e vivendo em comunhão com Ele na vida e no Sacramento, Nele colocando toda a nossa vida e toda a nossa esperança.

6. Assim, pois, que fique bem claro: o centro da vida cristã é a própria Pessoa de Jesus Cristo: Nele está a salvação; mais ainda: Ele mesmo é a Salvação! No Seu corpo de carne crucificado e ressuscitado fomos salvos pela fé Nele (cf. Rm 8,1-4)! Cristo, Ele mesmo é a salvação, é a nossa paz, o nosso shalom com Deus, o Pai: Nele, judeus e gentios recebem a bênção e formam um só povo, o Novo Povo de Deus, a Igreja.

Leia e reze o estupendo texto de Ef 2,13-22!

7. Ante tudo quanto estamos meditando, procure responder com sinceridade no coração:

Qual o papel do Cristo Jesus na sua vida?

Como é, realmente, a sua relação com Ele?

Leia e medite rezando 1Pd 2,21-25.

Reze Ap 5,9s, louvando o Cristo, nossa fé, razão da nossa esperança.