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As Chamas do Amor de Jesus de D. Pinnard

As Chamas do Amor de Jesus de D. Pinnard

Belíssimo livro de 1923 que testemunha as provas do ardente amor de Nosso Senhor Jesus Cristo!

Jesus é pregado na cruz

Crucificação de Nosso Senhor Jesus Cristo

Capítulo XXVII

Crucifixerunt eum, et eum eo alios duos, hinc, et hinc, modium autem Jesum - "Crucificaram-no, e a outros dois com ele, um a um lado, outro do outro, e Jesus no meio" (Jo 19, 18)

Quando o Salvador chegou ao Calvário onde devia consumar o seu sacrifício e dar-nos o mais solene testemunho do seu amor, nem tempo de suspirar lhe deixaram. Arrancaram-lhe rudemente a sua veste, que estava colada ás chagas, e mais uma vez renovaram todas as suas dores. Mandam-no em seguida deitar-se sobre a cruz, afim de nela o poderem pregar. Sem demora nem resistência obedece o bom Jesus, estende-se sobre este leito de dor, não tendo por travesseiro senão os espinhos de que estava coroado. Então com uma sorte de furor arremessam-se sobre ele os algozes, pedem-lhe primeiro a mão esquerda, segundo é crença comum, e trespassam-na com um grosso cravo pelo meio dos nervos. Tendo-se estes comprimido pela violência da dor e não podendo a mão direita estender-se até ao buraco que no outro braço da cruz tinham aberto, foi necessário estender esta mão com cordas; outro tanto foi necessário fazer aos pés, de sorte que todo o corpo de Nosso Senhor ficou deslocado. Que amargas dores!!! Calava-se porém o inocente Cordeiro e não deixava escapar de sua boca uma lastima; consertava fixos no céu os olhos; e oferecia a Deus por nossa salvação, os seus sofrimentos e a sua vida...

Jesus, condenado à morte, leva a sua cruz ao Calvário

Capítulo XXVI

Et bajulans sibi crucem, exivi in eum qui dicitur Calvariae locum - "E tomando a sua cruz, caminhou para o lugar chamado Calvário" (Jo 19, 17)

Depois da flagelação de nosso Senhor, vendo-o Pilatos reduzido a um estado tão digno de compaixão, julgou apaziguaria os seus inimigos com lh’o mostrar somente. Conduziu-o pois a uma espécie de balcão, e mostrando-os aos judeus, lhes disse:

“Eis o homem!”

O povo emudeceu, e começava talvez a ganhar a compaixão, mas os príncipes dos sacerdotes e seus ministros bradaram, ao vê-lo:

“Crucifica-o, crucifica-o!”

Pilatos caído da sua esperança diz-lhe agrément:

“Pois bem! Tomai-o vós mesmos e crucificai-o; eu não acho nele causa para o condenar”

Os judeus lhe responderam:

“Nós temos uma lei e segundo esta lei deve morrer porque se fez Filho de Deus. .. Demais, se o não condenas à morte, não és amigo de Cesar”

É por amor nosso e por causa do pecado que Jesus foi coberto de chagas

Jesus Cristo Chagado

Capítulo XXV

Ipse autem vulneratus est propter iniquitates nostras, attritus est propter scelera nostra - "Foi coberto de chagas por causa de nossas iniquidades; foi dilacerado para expiar os nossos crimes" (Is 53, 5)

O mínimo tormento sofrido por nosso Salvador era seguramente mais que suficiente para satisfazer à justiça de Deus, e apagar os pecados do mundo: mas o amor que nos tinha não se pôde contentar com isso. Afim de expiar os nossos crimes e até para nos provar a grandeza da sua ternura para conosco, o nosso Redentor quis ser, na frase de Isaías, vulneratus e attribus, isto é, coberto de chagas desde os pés até à cabeça, de tal sorte que o seu adorável corpo não oferecia parte alguma sã. Assim Isaías o compara a um leproso: Et dos putavimus eum quasi leprosum, et percussum a Deo et humilhatum (Is 53, 4). Quando com os olhos da fé se considera Jesus todo coberto de chagas, quando se contempla o seu corpo horrivelmente rasgado e a cair em pedaços ensanguentados, é fácil compreender quão grande é o amor deste divino Salvador por nós. Ó homem, exclama Santo Agostinho, reconhece quanto vales, aprende que reconhecimento não deves ao teu Deus; aprende qual é a tua dignidade pelo que lhe custou a resgatar-te: vê agora quão infame seria ultraja-lo ainda com teus pecados; sabe pôr um freio às tuas paixões e um termo ás tuas desordens.

Da Coroação de Espinhos

Coroação de Espinhos de Nosso Senhor Jesus Cristo

Capítulo XXIV

Et placlentes coronam de spinis, posuerunt supet caput ejus - "Depois tecendo uma coroa de espinhos lh'a puseram na cabeça" (Mt 27, 29)

Foi seguido o suplício da flagelação de um outro, ou sugerido pela raiva dos judeus, ou inventado pela brutalidade dos soldados. Os soldados do governador levam Jesus ao pretório, e ai, estando reunida toda a corte em volta dele, despem-lhe Os vestidos, lançam-lhe sobre os ombros um manto de escarlate, a imitar a púrpura real, por cetro põem- lhe na mão uma cana, por coroa cobrem-lhe a cabeça de entrelaçados espinhos; e como se estes espinhos não entrassem bem por uma carne já toda aberta pelos açoites, agarram da cana que tinha “e ferindo-o no rosto, enterram com todas as suas forças esta cruel coroa”. Ó espinhos, ó criaturas! Que fazeis? Porque atormentais assim o vosso Criador? Mas não é aos espinhos que devo dirigir estas exprobrações. Iniquidades dos homens, sois vós quem penetrastes a cabeça do Redentor; sim, meu doce Jesus, sou eu que por pensamentos e desejos culpáveis formei vossa coroa de espinhos; agora detesto-os, aborreço-os mais que todo outro mal, mais que a mesma morte. Ó espinhos consagrados pelo sangue do filho de Deus! A vós me volvo contrito e humilhado; penetrai a minha alma, e fazei que ela seja sempre penetrada de dor de haver ofendido um Deus tão bom. Meu amável Redentor, pois que tanto sofreis por mim, desprendei-me das criaturas e de mim mesmo, afim de com verdade poder* dizer que não pertença mais a mim, mas que só a vós, só inteiramente a vós pertenço.

Sobre a flagelação de Nosso Senhor Jesus Cristo

Capítulo XXIII

Tunc ergo apprehendit Pilatus Jesum, et flagellavit - "Então Pilatos mandou prender Jesus e flagela-lo." (Jo 19, 1)

Pilatos para se eximir de condenar o inocente como pediam os judeus, havia-o enviado a Herodes, e em seguida apresentara-o ao povo com Barrabás; mas vendo que estes meios não tinham sortido efeito, determinou-se a infligir-lhe qualquer castigo e pô-lo em liberdade. Nesta intenção, chama os Judeus e lhe diz:

“Apresentastes-me este homem como um sedicioso que arrasta o povo à revolta; em vossa presença o interroguei, e não o descobri culpado de algum dos crimes de que o acusais; Herodes tão pouco o achou criminoso. Todavia para vos contentar, vou-o fazer castigar, e em seguida deixá-lo-ei ir”

Grande Deus! Que injustiça! Declara-o totalmente inocente, e contudo oferece-se para o castigar! Ó meu doce Jesus! Estais inocente, e eis que por meu amor vos submeteis ao suplício dos escravos! Como, pois, pudestes amar até este ponto um ser tão vil e tão desprezível como eu? Assim Pilatos entregou Jesus aos seus soldados e lhes deu ordem para o flagelar. Contempla, ó minha alma! Como estes carnífices, a fim de executarem esta injusta ordem, arremetem furiosos sobre este cordeiro com gritos de alegria, o conduzem ao pretório e o amarram à coluna. Mas que faz Jesus? Sempre humilde e submisso, aceita por nossos pecados um tormento tão doloroso e tão humilhante. Vede os verdugos, de azorrague em punho: a um sinal dado, levantam os braços e todos juntamente começam a descarregar sobre esta carne sagrada açoites inúmeros. Parai, bárbaros, ides errados; sobre quem caem os vossos golpes? Esse que estais ferindo não é culpável, eu, eu é que o sou.

Jesus é conduzido diante de Herodes, que o despreza e trata como um insensato

Capítulo XXII

Sprevit illum Herodes cum exercitu suo, et illusit indutum veste olha, et remisit ad Pilatum - "Herodes e sua corte desprezou-o, e, tratando-o com irrisão, o revestiu de uma veste branca e o reenviou a Pilatos" (Lc 23, 2)

Tinha o nosso bom Mestre passado a noite no meio dos criados do sumo sacerdote: todos os insultos, todas as afrontas que é possível imaginar, sofrera em silêncio, sem se queixar, tudo oferecendo ao Pai para nos obter o perdão dos nossos pecados.
“Tendo chegado o dia, diz Santo Afonso de Ligório no Amor de Jesus, os judeus levam Jesus a Pilatos para que este o condene à morte; mas Pilatos declara-o inocente, e para se livrar das impertinências dos judeus, que continuam a pedir a morte do Salvador, envia-o a Herodes. Sumo prazer sentiu Herodes ao ver em sua presença Jesus Cristo; esperava que ele para se livrar da morte faria diante de si alguns daqueles prodígios de que tanto ouvia falar e assim começa a fazer-lhe muitas perguntas. Mas, porque Nosso Senhor não se queria livrar da morte, nem Herodes era digno de suas respostas, Jesus guardou silencio e nada respondeu. Então este rei soberbo, “com toda a sua corte o encheu de desprezos, e vestindo-lhe uma veste branca” para assim ser olhado como um ignorante e um insensato, o tomou a mandar a Pilatos.

São Pedro nega três vezes a seu Divino Mestre – Seu arrependimento

Capítulo XXI

Petrus coepit anathematizare et jurare: Quia non novi hominem istum - "Pedro começou a fazer imprecações e a jurar: Não conheço este homem..." (Mc 14, 71)

Et egressus foras, flevit amare - "E tendo saído, chorou amargamente" (Mt 26, 75)

Oh! Como esta renuncia de São Pedro deveu trespassar o coração de Jesus! Pedro, o príncipe dos apóstolos; Pedro, honrado da confiança particular do seu Mestre, nega covardemente Aquele que há pouco prometera acompanhar até à morte! Oh! Jesus destinado ao suplício e declarado infame, reus est mortis. Jesus coberto de escarros por uma populaça vil. Jesus tratado com indigna derivação por uma turba ímpia e furiosa de criados. Jesus saciado de ignomínias, de penas, de insultos. Jesus abandonado já por vossos próprios discípulos, para que permitistes que a negação de São Pedro viesse ainda aumentar as vossas dores?... Ah! É que vosso amor queria-nos dar uma grande lição: queria-nos ensinar, pela queda do vosso apóstolo, a evitar a presunção, desconfiar das nossas próprias forças, e não confiar senão em vós; queríeis ensinar-nos a temer a nossa fraqueza, a não olhar longos anos passados em serviço vosso como um motivo de segurança.

Jesus recebe uma bofetada de um dos oficiais do Sumo Sacerdote

Capítulo XX

Unus assistens minisirorum dedit alapam Jesu - "Um dos quadrilheiros, que ali estava, deu uma bofetada em Jesus" (Jo 18, 22)

Acabava o nosso divino Salvador de ser apresentado a Caifás, que, como pontífice naquele ano, “lhe fez perguntas sobre seus discipulos e qual era a sua doutrina. Eu falei publicamente ao mundo, eu sempre ensinei na sinagoga e no templo, aonde concorreram todos os judeus, e em oculto nada disse. Para que me perguntas? Pergunta àqueles que ouviram o que lhes falei: ei-los ai estão, sabem o que eu lhes ensinei”. Digna era esta resposta da sabedoria mesma que a proferira. Mas não obstante, um dos quadrilheiros que ali se achava, vira-se para Jesus e com insolência lhe diz: “Assim respondes ao pontífice?”. Dizendo isto lhe descarrega uma bofetada. Uma bofetada! Espíritos celestes, onde estais? Que fazeis, anjos Bem-aventurados! como podeis sofrer uma afronta destas ao vosso rei? Uma bofetada!!! Severamente devia ser punido o oficial que tal trato dera a Jesus; mas o pontífice aprovou, ao menos por seu silencio, ação tão bruta. A um tal desacato parece que a terra devia entreabrir-se para abismar este malvado; parece que Jesus devia fazer sentir a este.insolente que ele era o seu Deus; mas não. Jesus, abrasá-lo sempre do desejo de nos provar o seu amor e nos deixar salutares exemplos, sofre com toda a paciência esta afronta e se responde é só para evitar o escândalo, mostrando que não faltara ao respeito ao pontífice.

Jesus traído pelo pérfido Judas e preso como um ladrão

Capítulo XIX

Comprehenderunt Jesum, et ligaverunt eum - "Prenderam a Jesus e o manietaram" (Jo 18, 12)

O pérfido Judas decidira-se a trair Jesus. Acompanhado de uma multidão de soldados romanos e de criados armados de lanternas e varapaus dirigiu-se para o jardim das Oliveiras, onde sabia que seu divino Mestre ia orar à noite. De caminho disse à sua tropa:

“Como não conheceis de vista a Jesus de Nazareth, notai aquele em quem eu der um beijo: esse é que deveis prender; mas conduzi-o com precaução e olhai não vos escape”

O sinal e os conselhos eram dignos de Judas. Depois de medidas tão bem tomadas, entra no jardim; deixa a sua tropa a alguma distancia e reconhecendo Jesus, seu Salvador, corre a ele dizendo: “Eu te saúdo, Mestre”, e lançando-se ao pescoço o beija. O Cordeiro de Deus não recusou este beijo, por ventura o mais cruel de todos os tormentos da sua paixão; mas como conhecia o desígnio deste desgraçado, a ver se ainda o ganhava e fazia cair em si mesmo, diz-lhe com uma doçura capaz de abrandar um tigre e converter um celarado ordinário:

“Judas, pois é com um beijo que entregas o teu Mestre?”

Tristezas de Nosso Senhor no Jardim das Oliveiras, seu suor de sangue, sua resignação à vontade de Deus

Capítulo XVIII

Tristis est anima mea usque ad mortem - "A minha alma está numa tristeza mortal" (Mt 26, 38)

Começa aqui o cruento curso da paixão do nosso divino Salvador; agora é que nós vamos ver este bom Mestre vitima de anil e mil tormentos por nosso amor. Depois de haver instituído o sacramento da Eucaristia, depois de haver dado aos seus apóstolos as ultimas instruções, Jesus, a quem agora neste mundo só restava sofrer e morrer, “foi, como costumava, para a outra banda do Ribeiro de Cedron, ao monte das Oliveiras, a um lugar chamado Getsemani, onde havia um horto no qual entrou ele e seus discípulos”. Como chegava o momento do combate, quis para nossa instrução preparar-se para ele com a oração.

“Disse, pois, a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou acolá e oro ; orai também vós para que não entreis em tentação. E levou consigo Pedro, Thiago e João”

Mas mal chegou ao lugar mais retirado do horto, “começou a ter pavor, e a angustiar-se em extremo”, e esta angustia foi tanto além, que ele, que nunca se queixou de nada, ele que tanto ansiava sofrer, julgou dever dizer a seus discípulos:

“A minha alma acha-se numa tristeza mortal”...